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Foto do escritorVana Madhuryam Brasil

Sri Ratha-yatra e As Glórias de Srila Bhaktivinoda Thakura e Gadadhara Pandita


Srila Bhaktivedanta Vana Gosvami Maharaja

17 de junho de 2023, São Paulo - Brasil


Eu não quero tomar muito do tempo de vocês. Todos são tão gentis por terem vindo participar deste grande festival do Ratha-yatra maha-mahotsava. Todos os anos, Sundarananda Prabhu organiza o festival Ratha-yatra. Muitas glórias ao Sundarananda Prabhu!


No verão, em janeiro, nós realizamos o Ratha-yatra no Rio de Janeiro, sob a orientação dos devotos do templo Sri Gauravani Gaudiya Matha. Mas nessa época do ano em que estamos agora, é o momento em que está ocorrendo o Ratha-yatra original, em Jagannatha Puri.


Vocês vieram participar do Ratha-yatra e estão tão animados para fazer parte deste grande evento. Todos os devotos estão participando tanto, ajudando com o corpo, mente, palavras, e especialmente financeiramente. Sundarananda Prabhu, Radha Shyamasundara Prabhu, Lilananda Prabhu... Não podemos esquecer da contribuição do Lilananda Prabhu. 


Especialmente os kirtaniyas, como o Brindavana Chandra Prabhu, Krishna Kripa Prabhu, dançarinas, cantores, todos vieram! Não é possível falar o nome de todos vocês. Não fique triste pensando: “Oh, Gurudeva não falou meu nome”. Inclusive, muitos de vocês vieram de diferentes países para estar aqui hoje. Vários devotos vieram dos Estados Unidos, como Krishna Priya Didi, Tirthapada Prabhu, Madhusudhana Prabhu, Haribimohini Devi Dasi, Tarun Krishna Prabhu. Tem até devotos da Ucrânia e da Rússia.


Os devotos brasileiros são daqui mesmo, então não preciso falar o nome de vocês (Gurudeva brinca). O Radhakanta Prabhu veio da Índia. E não se esqueçam de mim, pois eu também vim da Índia! (Todos aplaudem). São diferentes e diferentes países. Teve alguém vindo da Europa? Kunja Bihari Prabhu veio da Ucrânia, também tem devotos da Holanda… 


Jagannatha é muito misericordioso. Na verdade, vocês não estão vindo pelo próprio esforço, foi o Senhor Jagannatha que inspirou o coração de vocês para virem. Pelo Seu próprio desejo, o Senhor Jagannatha sobe na carruagem, e Ele inspira o coração de todos os devotos. Isso faz com que vocês venham. Vocês são muito afortunados por participar do Jagannatha Ratha-yatra. 


Amanhã vocês devem se preparar para participar desse festival. Devem dançar, cantar e se absorver no mesmo humor de Sri Chaitanya Mahaprabhu. Quando Ele dançava em frente ao carro do Senhor Jagannatha, Ele pensava: “Eu sou Radha, e agora estou me encontrando com Meu amado Krishna”.


śrī-śuka uvāca

gopyaś ca kṛṣṇam upalabhya cirād abhīṣṭaṁ

yat-prekṣaṇe dṛśiṣu pakṣma-kṛtaṁ śapanti

dṛgbhir hṛdī-kṛtam alaṁ parirabhya sarvās

tad-bhāvam āpur api nitya-yujāṁ durāpam


(Srimad Bhagavatam, 10.82.39)


[Shukadeva Gosvami disse: Enquanto olhavam fixamente seu amado Krishna, as jovens gopis condenavam o criador de suas pálpebras [que por um momento impediam que elas O vissem]. Agora, revendo Krishna após tão longa separação, com seus olhos elas O levaram para dentro de seus corações, e lá O abraçaram para sua plena satisfação. Dessa maneira, absorveram-se por completo em meditação extática nEle, embora aqueles que pra­ticam constantemente o yoga místico achem tal absorção difícil de se alcançar.]


As gopis estão muito ávidas para ter o darshana de Govinda. Entretanto, as pálpebras delas causam um obstáculo na visão quando O veem. Por isso, as gopis amaldiçoam o criador, Brahma, por ele ter criado as pálpebras. Elas falam para ele: “Tu marisye! Morra, Brahma! É melhor que outra pessoa assuma o papel de criador e esse novo criador nos dará olhos sem pálpebras!”.


Tentem imaginar quanta avidez as gopis sentem para ver Krishna. Esse é o estágio mais elevado de maha-bhava. Prema-vaichittya, as gopis não conseguem tolerar, elas precisam ver Krishna imediatamente.


koṭi netra nāhi dila, sabe dila dui

tāhāte nimeṣa, — kṛṣṇa ki dekhiba muñi


(Sri Chaitanya-charitamrita, Adi-lila, 4.151)


[Ele não nos deu milhões de olhos para ver a beleza de Krishna. Ele só nos deu dois olhos, e mesmo esses olhos piscam. Como, então, poderei ver o rosto encantador de Krishna?]


As gopis dizem: “Ó Criador, você nos deu apenas dois olhos para ver Krishna. Tudo bem, nós podemos ter o darshana de Govinda com nossos dois olhos, mas por que você nos deu pálpebras que tapam estes olhos?”. As gopis lamentam dessa forma. 


Além disso, enquanto elas têm o darshana de Govinda, lágrimas escorrem de seus olhos. Desse modo, as lágrimas viram um impedimento para vê-Lo. Por que isso ocorre? Porque elas sentem muita bem-aventurança e felicidade em seus corações ao ver Krishna.


Quem pode explicar o tamanho da felicidade que as gopis sentem ao ver Govinda? Qual tipo de bhava as gopis expressam ao vê-lO sentado na carruagem? Esse é o Ratha-yatra perfeito. Esse é o humor de Sri Chaitanya Mahaprabhu.


Hoje também é um dia muito sagrado, porque é o tirobhava-tithi, o dia do desaparecimento de Srila Bhaktivinoda Thakura. Ele é sapta-gosvami, o sétimo Gosvami.


Todos vocês conhecem os nomes dos seis Gosvamis: Sri Rupa Gosvami, Sri Sanatana Gosvami, Sri Raghunatha dasa Gosvami, Sri Raghunatha Bhatta Gosvami, Sri Gopala Bhatta Gosvami e Sri Jiva Gosvami.


ei chay gosāir kori caraṇa vandan, jāhā hoite bighna-nāś abhīṣṭa-pūraṇ

ei chay gosāi jār—mui tār dās, tā-sabāra pada-reṇu mora pañca-grās

tādera caraṇa-sebi-bhakta-sańe bās, janame janame hoy ei abhilāṣ

ei chay gosāi jabe braje koilā bās, rādhā-kṛṣṇa-nitya-līlā korilā prakāś

ānande bolo hari bhaja bṛndāban, śrī-guru-vaiṣṇaba-pade majāiyā man


(Canção Hari Haraye Namaha, de Srila Narottama Dasa Thakura)


[Eu me inclino aos pés desses seis Gosvamis. Pela graça deles, nossos obstáculos podem ser destruídos e todos os desejos são cumpridos. Sou o servo desses seis Gosvamis. A poeira dos seus pés de lótus é o meu sustento cinco vezes mais. Ser servo dos pés de lótus deles e residir na companhia dos devotos – esta é minha aspiração vida após vida. Quando esses seis Gosvamis viviam em Vraja, eles revelaram os passatempos eternos de Sri Sri Radha e Krishna. Em êxtase, cante o nome do Senhor Hari e adore Vrindavana, fixando alegremente sua mente nos pés de lótus do mestre espiritual genuíno e dos devotos puros.]


Os acharyas nos explicam que Bhaktivinoda Thakura é o sétimo Gosvami, porque da mesma forma que os seis Gosvamis satisfizeram todos os desejos do coração de Mahaprabhu, Srila Bhaktivinoda Thakura também o fez.


bhakativinoder doya koro vichar

vichar kore le chite pave chamatkar


[Considere profundamente a misericórdia de Bhaktivinoda Thakura. Então, seu coração ficará repleto de júbilo.]


Srila Bhaktivinoda Thakura manifestou especialmente duas coisas neste mundo material: ele pregou os santos nomes do Senhor Chaitanya Mahaprabhu, gaura-nama, e também manifestou o local de nascimento de Mahaprabhu, gaura-dhama


Nesta Kali-yuga, o próprio Sri Chaitanya Mahaprabhu disse: “Além de Mim, ninguém pode dar vraja-prema”. Por isso, Mahaprabhu é chamado de prema-purushottama-avatara


O Senhor Ramachandra é conhecido como maryada-purushottama, porque Ele sempre seguiu todas as regras e restrições da sociedade. Krishna é conhecido como lila-purushottama-avatara, porque Ele faz doces passatempos em Vraja. E Gurudeva, Srila Narayana Gosvami Maharaja, é conhecido como yuga-acharya-avatara.


Portanto, Srila Bhaktivinoda Thakura manifestou essas duas coisas: gaura-nama e gaura-dhama. Além disso, ele também manifestou Nayana Mani Manjari nesse mundo, uma sakhi muito querida e próxima a Srimati Radhika, que é Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura Prabhupada. 


Naquela época, muitos sahajiyas e sakhi-bekis contaminaram completamente a filosofia do Senhor Chaitanya Mahaprabhu, mas Srila Bhaktivinoda Thakura, com muita veemência e coragem, pregou contra todas essas apa-sampradayas. Ele escreveu muitos granthas (livros). Se ele não tivesse aparecido nessa Kali-yuga, seria muito difícil entender de fato a filosofia do Senhor Chaitanya Mahaprabhu. 


Srila Bhaktivinoda Thakura era um chefe de família e trabalhava como juiz magistrado para o governo da Orissa. Naquele período, o império britânico controlava e dominava a Índia. Certa vez, havia um yogi cujo nome era Bisakisen. Ele declarava: “Eu sou Bhagavan! Irei matar todos os mlecchas! E também farei a dança da rasa!”.


O governo britânico pediu a Srila Bhaktivinoda Thakura que investigasse o caso para verificar quem era esse yogi. No entanto, ele não era uma pessoa comum; era muito poderoso e possuía poderes místicos. Tinha dreadlocks enormes e, quando balançava a cabeça, surgia fogo de seus cabelos. Todavia, Srila Bhaktivinoda Thakura cortou todos os seus dreads e o colocou na prisão. Assim, Srila Bhaktivinoda Thakura estabeleceu que uma jiva nunca pode se tornar Bhagavan. 


Em Kali-yuga, quem é um verdadeiro sadhu (santo) e quem é um pandita (erudito)? - kamr bhajabe pandita kahabe. Srila Tulasi Dasa explica: é aquele que fala muito alto. O que ele está dizendo, geralmente as pessoas não entendem, mas pensam: “Oh, ele fala muito bem! Aha!”. Assim como o ditado que diz: "Cão que ladra não morde", há grandes políticos que falam muito bem, e isso atrai as pessoas. Mas quem sabe o que de fato eles fazem?


Portanto, Srila Bhaktivinoda Thakura estabeleceu que o yogi Bisakisen não era Bhagavan. Por esse motivo, ele cortou os dreads daquele yogi. Srila Bhaktivinoda Thakura o puniu e lhe deu uma sentença, mas mesmo assim, o yogi causou muitos problemas a Srila Bhaktivinoda Thakura. Ele mesmo contou essa história em sua autobiografia. 


Srila Bhaktivinoda Thakura estabeleceu suddha-bhakti. Ele costumava ir em várias aldeias para pregar suddha-bhakti-katha. Durante o dia, ele ia ao fórum trabalhar como juiz, e durante à noite, ele ia de casa em casa, em diferentes aldeias, para pregar sobre a devoção pura. Isso se chama nama-hatta. Ele que estabeleceu o nama-hatta-prachara


Srila Bhaktivinoda Thakura escreveu em sua autobiografia que, certo dia, após pregar shuddha-bhakti de aldeia em aldeia, já era tarde e ele estava voltando para casa. No entanto, para chegar ao seu destino, ele teria que passar por uma floresta muito densa.


Como Srila Bhaktivinoda pregava? Ele tinha um cavalo muito bonito, no qual ele andava de uma aldeia a outra para assim pregar em diferentes locais. E enquanto cruzava essa floresta muito densa, tudo estava completamente escuro. De repente, Srila Bhaktivinoda Thakura ouviu um som vindo do meio da floresta, uma voz chorando. Ele pensou: “Quem está chorando a esta hora, à meia-noite, no meio da floresta?”.


Srila Bhaktivinoda Thakura foi até o local de onde estava vindo aquele som, e se deparou com uma moça muito jovem e bela, chorando e chorando. Ele perguntou: “Quem é você? Por que você está aqui chorando?”. Ela lhe disse: “Oh, Bhaktivinoda, eu sou Maya Devi, a potência da ilusão de Deus. Você está pregando suddha-bhakti, e por isso eu não consigo mais expandir as minhas atividades. O que eu vou fazer agora? É por isso que eu estou chorando”.


Srila Bhaktivinoda Thakura lhe respondeu: “Você pode chorar ou morrer, não tem problema. Mas eu tenho que pregar suddha-bhakti!”. O próprio Srila Bhaktivinoda Thakura contou esse katha


Ele também contou que, naquela época, havia muitos grupos, como os sahajiyas e sakhi-bekis, que estavam contaminando completamente a filosofia de serviço devocional puro ao Senhor Chaitanya Mahaprabhu. Em um determinado momento, Srila Bhaktivinoda Thakura pensou: “Eu passei a minha vida sem realizar a minha prática espiritual. Sinto como se tivesse passado a vida apenas cortando mato. É melhor que eu vá para Vrindavana fazer bhajana e sadhana, afinal, a vida como um ser humano é muitíssimo rara”.


labdhvā su-durlabham idaṁ bahu-sambhavānte

mānuṣyam artha-dam anityam apīha dhīraḥ

tūrṇaṁ yateta na pated anu-mṛtyu yāvan

niḥśreyasāya viṣayaḥ khalu sarvataḥ syāt


(Srimad Bhagavatam, 11.9.29)


[Após muitos e muitos nascimentos e mortes, alguém alcança a rara forma de vida humana que, embora temporária, oferece a oportunidade de atingir a mais elevada perfeição. Assim, um ser humano sóbrio deve rapidamente se esforçar para a perfeição final da vida enquanto seu corpo, que está sempre sujeito à morte, ainda não caiu e morreu. Afinal, a gratificação dos sentidos está disponível mesmo nas espécies de vida mais abomináveis, enquanto a consciência de Krishna é possível apenas para um ser humano.]


Srila Bhaktivinoda Thakura citou esse verso em sua autobiografia. Ele estava pensando: “Eu passei toda a minha vida pra cá e pra lá, agora é melhor eu ir para Vrindavana praticar bhajana e sadhana”. Dessa forma, ele foi em direção a Vrindavana. 


Durante uma noite, Srila Bhaktivinoda Thakura descansou em um templo do Senhor Shiva. Naquela ocasião, Shiva apareceu em seu sonho e disse: “Oh, Srila Bhaktivinoda Thakura, você é siddha-mahatma, um associado eterno de Sri Chaitanya Mahaprabhu, e também é um associado eterno de Srimati Radhika. Você sabe o motivo de ter vindo para este mundo material? Você tem que manifestar o local de nascimento de Sri Chaitanya Mahaprabhu, e também pregar gaura-nama. Gaura-nama e gaura-dhama”.


Naquela época, o local de nascimento de Sri Chaitanya Mahaprabhu estava sob o controle dos muçulmanos, portanto, ninguém sabia com exatidão qual era o Seu local de nascimento em Navadvipa-dhama.


Assim, Srila Bhaktivinoda Thakura voltou para Godruma, em Navadvipa-dhama. Ele escreveu essa canção:


nadīyā-godrume nityānanda mahājana

patiyāche nām-haṭṭa jīvera kāraṇa


(Canção Nadiya Godrume, de Srila Bhaktivinoda Thakura)


[Na terra de Nadia, na ilha de Godruma, o magnânimo Senhor Nityananda abriu o Mercado do Santo Nome, destinado à salvação de todas as almas caídas.]


Srila Bhaktivinoda Thakura foi para Godruma, praticou bhajana e sadhana e o cantar dos santos nomes, pois o Senhor Shivaji, que é o melhor de todos os Vaishnavas, vaishnavanam yatha shambhuh, lhe deu essa ordem: “Você tem que manifestar o local de nascimento do Senhor Chaitanya Mahaprabhu”.


Srila Bhaktivinoda Thakura cantava os santos nomes pensando: “Como eu posso manifestar o local de nascimento de Mahaprabhu?.” Ele cantava:


Hare Krishna Hare Krishna 

Krishna Krishna Hare Hare 

Hare Rama Hare Rama 

Rama Rama Hare Hare 


Certa noite, por volta de uma ou duas horas da manhã, Srila Bhaktivinoda Thakura percebeu que o leste, do outro lado do rio Ganges, estava totalmente iluminado. E nesse local iluminado, ele viu Nityananda Prabhu, Sri Chaitanya Mahaprabhu, Gadadhara Pandita, Advaita Acharya, Srivasa, e milhares de devotos tocando mridanga, kartalas e cantando os santos nomes: Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare / Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare.


hari haraye namaḥ kṛṣṇa yādavāya namaḥ 

yādavāya mādhavāya keśavāya namaḥ

gopāla govinda rāma śrī-madhusūdana 

giridhārī gopīnātha madana-mohana


(Canção Hari Haraye Namaha, de Srila Narottama Dasa Thakura)


[Hari! Saudações ao Senhor Hari, a Krishna e a Yadava. Saudações ao Senhor dos Yadus, Madhava, Kesava. Gopala! Govinda! Rama! Ó vencedor de Madhu! Giridhari! Senhor das gopis! Destruidor do Cupido!]


Srila Bhaktivinoda Thakura viu Sri Chaitanya Mahaprabhu, Nityananda Prabhu, Advaita Acharya, Srivasa, juntamente com milhares e milhares de devotos. Talvez vocês também estivessem lá!  


Eles estavam tocando mridanga e kartalas, dançando e cantando. Porém, após alguns minutos, aquela cena desapareceu. Na manhã seguinte, Srila Bhaktivinoda Thakura foi até aquele mesmo local de onde surgiu a visão e viu que lá era um cemitério. No entanto, ele notou uma coisa: o lugar estava repleto de tulasis. Srila Bhaktivinoda Thakura perguntou para um muçulmano que estava ali: “Por que vocês plantam tulasi aqui?”.


O muçulmano respondeu: “O que quer que a gente plante nesta terra, só nasce tulasis”. Neste momento, Srila Bhaktivinoda Thakura realizou: “Aqui é o local de nascimento do Senhor Chaitanya Mahaprabhu”. Bolo Yogapita-dhama ki jaya!


Contudo, Srila Bhaktivinoda Thakura pensou: “Sem um siddha-mahapurusha, uma alma auto-realizada, eu não irei declarar que esse é o local de nascimento de Sri Chaitanya Mahaprabhu”. Por isso, Srila Bhaktivinoda Thakura foi até Vrindavana e se encontrou com Srila Jagannatha Das Babaji Maharaja, no Surya-kunda


Naquela época, Srila Jagannatha Das Babaji Maharaja tinha cerca de 144 anos de idade. Srila Bhaktivinoda Thakura pediu-lhe: “Venha até Navadvipa-dhama e manifeste o local de nascimento do Senhor Chaitanya Mahaprabhu”. Srila Bhaktivinoda Thakura e Srila Jagannatha Das Babaji Maharaja eram muito íntimos e tinham muito amor e afeição um pelo outro. 


Srila Jagannatha Das Babaji Maharaja tinha um servo chamado Bihari Lal, que o carregou dentro de uma cesta sob a sua cabeça. Naqueles tempos, não havia trem, ônibus, carro ou avião, portanto, eles foram de Vrindavana até Navadvipa-dhama a pé. 


Srila Jagannatha Das Babaji Maharaja não podia caminhar, mas quando chegou ao local onde Srila Bhaktivinoda Thakura havia mencionado, ele pulou da cesta que estava sendo carregado, e cantando e dançando ele disse: “Este é o local de nascimento do meu Gaura Sundara!”. Assim, Srila Bhaktivinoda Thakura estabeleceu o local de nascimento do Senhor Chaitanya Mahaprabhu, em Navadvipa-dhama: o Yogapita. 


Srila Bhaktivinoda Thakura também recuperou todos os mapas antigos de Navadvipa-dhama, os quais estavam no museu de Londres. E de acordo com as escrituras, ele mencionou tudo o que era necessário para comprovar que aquele era de fato o local de nascimento de Sri Chaitanya Mahaprabhu. 


Srila Bhaktivinoda Thakura sabia que muitos sahajiyas e babaji-sampradayas poderiam dizer que ali não era o nascimento de Sri Chaitanya Mahaprabhu, e que o verdadeiro local seria em um outro lugar chamado Prachin Mayapur (a velha Mayapur). Mas lá não é o local de nascimento de Mahaprabhu.


Tentem compreender que, se vocês falarem suddha-katha, automaticamente a oposição tentará te parar. Existem suras e asuras - devatas (semideuses) e demônios, os quais estão sempre brigando. Isso ocorre desde tempos imemoriais.


Se você falar suddha-katha, outra pessoa irá tentar cortar a sua filosofia e estabelecer a própria filosofia. Não é tão fácil pregar suddha-bhakti. Para trazer pelo menos uma alma para o serviço a Krishna, você precisa gastar quinhentos galões de sangue. Entenderam? Quinhentos galões de sangue! Quantos galões de sangue você tem no seu corpo?


Se você estiver praticando suddha-bhakti, muita gente tentará te puxar para baixo e criará várias confusões no seu coração. Tenha muito cuidado. Por que estou dizendo isso? Porque o próprio Srila Bhaktivinoda Thakura disse: “Quando eu prego, muitos sahajiyas e sakhi-bekis ficam contra mim”. 


Srila Bhaktivinoda Thakura manifestou uma sakhi muito íntima de Srimati Radhika:  Nayana Mani Manjari, que veio a esse mundo como Bimala Prasada, Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Prabhupada. Quando Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Prabhupada pregou suddha-bhakti, vários grupos antagônicos como sahajiyas e sakhi-bekis ficaram contra ele. Eles inclusive tentaram assassiná-lo! Tentem compreender essa filosofia. 


Srila Bhaktivinoda Thakura deu toda a sua energia na pregação de suddha-bhakti. Além disso, ele escreveu muitos livros em diferentes línguas. Bhakativinoder doya koro vichar, vichar kore le chite pave chamatkar - como Srila Bhaktivinoda Thakura sacrificou a sua própria vida por nós. 


Um livro muito importante dele é o Jaiva-dharma. Gurudeva nos disse repetidamente: “Se você quiser entrar em suddha-bhakti, você deve ler o Jaiva-dharma”. Este grantha é muito importante. É como se Srila Bhaktivinoda Thakura tivesse condensado a água de todos os oceanos em uma única jarra. Se você precisar escolher apenas um livro para ler, escolha o Jaiva-dharma.


Todos os outros livros como o Bhakti Rasamrta Sindhu, Ujjvala-nilamani, Lalita-Madhava, Vidagdha-Madhava, Vedas, Puranas e Upanishads estão no Jaiva-dharma. Além de tópicos como nama-tattva, bhakti-tattva, rasa-tattva, vicara-tattva… Tudo está lá. Agora há pouco, Madana Gopala Prabhuji também recitou um verso de Srila Bhaktivinoda Thakura. 


Sri Chaitanya Mahaprabhu nunca escreveu nenhum livro, Ele apenas recitou oito versos: o Siksastakam. As glórias dos santos nomes, nama-sankirtana:


ceto-darpaṇa-mārjanaḿ bhava-mahā-dāvāgni-nirvāpaṇaḿ

śreyaḥ-kairava-candrikā-vitaraṇaḿ vidyā-vadhū-jīvanam

ānandāmbudhi-vardhanaḿ prati-padaḿ pūrṇāmṛtāsvādanaḿ

sarvātma-snapanaḿ paraḿ vijayate śrī-kṛṣṇa-sańkīrtanam


(Sri Siksastakam, verso 1)


[Que haja toda a vitória para o canto do santo nome do Senhor Krishna, que pode limpar o espelho do coração e parar as misérias do fogo abrasador da existência material. Esse canto é a lua crescente que espalha o lótus branco da boa fortuna para todos os seres vivos. É a vida e a alma de toda educação. O canto do santo nome de Krishna expande o oceano de bem-aventurança transcendental, dá um efeito refrescante a todos e permite saborear o néctar pleno a cada passo.]


Srila Bhaktivinoda Thakura compôs este verso com as dez verdades fundamentais, as quais são os ensinamentos do Senhor Chaitanya Mahaprabhu.


amnaya praha tattvam harim iha paramam sarva-saktim rasabdim

tad bhinnamsamsca jivan prakrti-kavalitan tad vimuktams ca bhavad

bhedabheda-prakasam sakalam api hareh sadhanam suddha-bhaktim

sadhyam tat pritim evety upadisati janan gauracandrah svayam sah


(Dasamula-tattva, Srila Bhaktivinoda Thakura)


[O conhecimento autoritativo dos Vedas, recebido através da sucessão discipular legítima, estabelece as seguintes verdades fundamentais: 1) Hari é a suprema verdade absoluta; 2) Ele é onipotente; 3) Ele é o reservatório de todos os sabores (rasa); 4) Os seres vivos são Suas partes integrantes separadas; 5) As almas condicionadas estão cobertas por Maya; 6) As almas liberadas estão além da influência de Maya; 7) Toda a manifestação cósmica é simultaneamente una e diferente dEle; 8) Suddha-bhakti é o único meio para alcançar o amor a Deus; 9) O objetivo é atingir o amor a Deus. Esses ensinamentos foram instruídos pelo próprio Gauracandra.]


Foi o próprio Sri Chaitanya Mahaprabhu que nos deu estas dez verdades fundamentais. Essa é a contribuição de Srila Bhaktivinoda Thakura. Ele explica muito bem todos os tattvas. Rasa-tattva, nama-tattva, tudo! Existem onze humores e cinco estágios, ekadasha-bhava e pancha-dasha, tudo foi explicado no Jaiva-dharma. Se vocês lerem os livros de Srila Bhaktivinoda Thakura, suas vidas serão exitosas.


Portanto, hoje é um dia muito auspicioso e muito sagrado porque é o dia do desaparecimento de Srila Bhaktivinoda Thakura. Oramos aos pés de lótus dele para que um dia possamos compreender o seu vichara e as suas concepções em suddha-bhakti.


Hoje também é um dia muito auspicioso e sagrado porque é o dia do aparecimento de Gadadhara Pandita, que é uma manifestação direta de Srimati Radhika.


No Chaitanya-charitamrita, dois Gadadharas são mencionados: Gadadhara Pandita e Gadadhara Das. Gadadhara Pandita é uma manifestação direta de Srimati Radhika. Ele é muito próximo e querido de Sri Chaitanya Mahaprabhu. Por isso, ele é conhecido como Gadai Gouranga, que é aquele Gadadhara que pertence a Mahaprabhu.


Gadadhara e Nimai estavam sempre juntos em Navadvipa-dhama, na casa de Saci-devi. Chaitanya Mahaprabhu era mais jovem, e Gadadhara Pandita era mais velho, mas mesmo assim, Mahaprabhu sempre argumentava com Gadadhara.


Gadadhara era muito calmo e tranquilo, não queria falar muito, mas Mahaprabhu era muito tagarela. Nimai não aguentava ficar sem Gadadhara e Gadadhara não aguentava ficar sem Nimai. Ambos são muito próximos um do outro. 


Um dia, Nimai perguntou: “Oh, Gadadhara, qual é a definição de mukti?” Gadadhara lhe deu essa resposta: “atyantika-duhkha-nivrtti eva mukti - aquele que se livra de todos os sofrimentos alcança a mukti, libertação. Da mesma forma, vishnu anghri labha mukti - aquele que alcança os pés de lótus do Senhor Vishnu também obtém mukti”.


Contudo, Mahaprabhu disse: “Não. Eu darei outro significado para mukti. Muktir hitvanyatha rupam sva-rupena vyavasthitih - aquele que realizar a sua própria forma espiritual, siddha-deha, e com essa siddha-deha, servir diretamente sua ista-deva, alcançará a libertação perfeita”. 


Cada jiva possui a sua própria potência dentro do coração. A sua svarupa está ali. Mas até hoje, muitas pessoas ficam confusas se a jiva já possui a sua svarupa estabelecida ou não. 


Syamarani didi, que é uma discípula muito querida e íntima de Srila Gurudeva, manifestou o livro Svarupa da Jiva. Todos devem lê-lo.


Muitos pregadores são desafiadores e dizem que a jiva não tem svarupa. Mas Srila Gurudeva e todos os nossos acharyas explicam claramente que a alma tem sim a sua própria svarupa.


nitya-siddha kṛṣṇa-prema ‘sādhya’ kabhu naya

śravaṇādi-śuddha-citte karaye udaya


(Sri Chaitanya-charitamrita, Madhya-lila, 22.107)


[O amor puro por Krishna está eternamente estabelecido nos corações dos seres vivos. Não é algo que se obtém de outra fonte. Quando o coração é purificado pelo ouvir e cantar, esse amor desperta naturalmente.]


Você tem a potência dentro de você. Apenas se associe com o sadhu e ouça hari-katha, e essa potência irá se manifestar. Imagine que você está colhendo arroz. O arroz possui uma casca em sua volta. Se o grão ainda estiver dentro da casca e você bater nele para retirar o grão, haverá um benefício, pois o arroz está lá dentro. No entanto, se o grão já saiu e você continua batendo, estará apenas perdendo tempo.


Da mesma forma, quando a jiva é manifestada da tatastha-shakti, ela já possui uma potência dentro de si, e com associação do sadhu, isso que ela já possui irá se manifestar. Nitya-siddha kṛṣṇa-prema ‘sādhya’ kabhu naya, śravaṇādi-śuddha-citte karaye udaya. Udaya significa “manifestar-se”. 


Srimati Syamarani didi, portanto, fez muito bem em publicar esse livro, onde ela cita a visão de vários acharyas sobre esse tema. No Jaiva-dharma, Srila Bhaktivinoda Thakura explica que todas as almas possuem uma svarupa, uma forma eterna.


Sri Chaitanya Mahaprabhu deu a definição perfeita de mukti: “Muktir hitvanyatha rupam sva-rupena vyavasthitih - aquele que realiza a sua própria forma transcendental, e diretamente serve ao Senhor, a sua ista-deva, alcança a perfeita liberação”. 


Algumas pessoas falam que, de acordo com o sadhu que você se associar, você irá obter uma forma espiritual de acordo com aquele mestre. Uddhava se associou com as gopis, mas ele não virou uma gopi. Narada Rishi deu sua associação para todos os devotos. Ele deu os diksha-mantras para Dhruva, e Dhruva Maharaja virou uma gopi ou não? Isso não é possível.


Narada Rishi também deu sua associação para Prahlada Maharaja, e Prahlada tampouco virou gopi. Na verdade, o nome de Prahlada Maharaja está mencionado nas escrituras como um devoto de shanta-rasa. Já Dhruva Maharaj se enquadra na categoria de um sakama-bhakta.


Existem cinco tipos de devotos do Senhor: jñana-bhakta, suddha-bhakta, premi-bhakta, prema-para-bhakta e finalmente prematura-bhakta. Narada Rishi também deu sua associação para os Pandavas e eles tampouco viraram gopis.


Mahaprabhu deu sua associação para Murari Gupta, mas ele não se tornou um devoto de Krishna. Ele era um devoto do Senhor Ramachandra. Existem muitas provas nas nossas escrituras. A jiva possui a sua própria svarupa, que com associação do sadhu, irá se manifestar. 


Ocasionalmente, Mahaprabhu discutia estes tópicos com Gadadhara. Quando Mahaprabhu tomou sannyasi, Gadadhara também tomou kshetra-sannyasa. Eles foram para Jagannatha Puri, e lá, Sri Chaitanya Mahaprabhu se estabeleceu no Gambira, e Gadadhara se estabeleceu no Tota Gopinatha.


Por que Gadadhara ficava no Tota Gopinatha e Mahaprabhu no Gambira? Porque Gadadhara não aguentava ficar um segundo longe de Sri Chaitanya Mahaprabhu. Embora Mahaprabhu ficasse no Gambira, ele costumava ir todos os dias ao Tota Gopinatha para ouvir o hari-katha sobre o Srimad Bhagavatam dos lábios de lótus de Gadadhara Pandita.


O katha de Gadadhara é muito doce. Hoje é o dia do desaparecimento dele. O próprio Sri Chaitanya Mahaprabhu manifestou as deidades de Tota Gopinatha e as deu para Gadadhara Pandita. Se vocês forem para Jagannatha Puri, poderão ver quão bela é essa deidade de Tota Gopinatha. Tota, na língua oriá, significa jardim - o jardim de Gopinatha. 


Gadadhara Pandita é muito querido e próximo do Senhor Chaitanya Mahaprabhu. Há muitos outros kathas, mas o nosso tempo acabou. Já são dez e meia, não quero tomar muito tempo de vocês. Tomem maha-prasada. Amanhã teremos o festival de Ratha-yatra. Venham todos bem vestidos em frente ao Senhor Jagannatha. Todos os anos, Sundarananda Prabhu arranja para todos uma prasada muito deliciosa. 


Todos nós estamos indo de Kurukshetra para Vrindavana, esse é o verdadeiro humor. Durante o Ratha-yatra, Mahaprabhu parou para descansar e tomar prasada em um jardim chamado Jagannatha Vallabha Vatika. Da mesma forma, como o Senhor Jagannatha parou para descansar, nós também iremos descansar e honrar prasada no final da Avenida Paulista. 


Maha-prasada ki jaya!

Jay Jay Sri Radhe!

Bolo Jagannatha! Bolo Jagannatha!


 

Transcrição: Gaurangi Devi Dasi

Edição: Taruni Gopi Dasi

Revisão: Acyuta Priya Devi Dasi


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