Srila Bhaktivedanta Vana Gosvami Maharaja
6 de setembro de 2015, Russia
[Neste mais auspicioso e excelente dia de Nanda Mahotsava, celebramos o Aparecimento do Senhor Krishna. Sob a orientação e pela misericórdia ilimitada e sem causa de Sri Sri Guru e Gauranga, nós temos a oportunidade de apresentar este hari-katha nectário falado pelos doces lábios de lótus de nosso querido Srila Gurudeva, Sri Srimad Bhaktivedanta Vana Gosvami Maharaja no dia 6 de Setembro de 2015, na Rússia, durante o 18º ano de sua missão de pregação.]
Celebrações de Nanda Mahotsava
Ontem, nós realizamos uma linda celebração de Sri Krishna Janmashtami (dia do aparecimento do Senhor Krishna), e hoje também comemoramos um dia muito auspicioso, pois é Nanda Mahotsava (festival que celebra o dia do aparecimento do filho de Nanda Maharaja). Em razão do aparecimento de Sri Krishna na casa de Nanda Maharaja, neste dia, Nanda realizou um grande festival e fez muitas doações a todos os vrajavasis.
nanda ke ānanda bhayo jaya kanhaiyā lāl kī
hāthī dīno ghoḍā dīno aur dīnī pālakī
Nanda Ke Ananda Bhayo, canção tradicional de Vraja
[Nanda Maharaja está mergulhado em bem-aventurança! Todas as glórias a nosso amado Kanhaiya! Em êxtase, Nanda Maharaja doou elefantes, cavalos e palanquins. Todas as glórias a nosso amado Kanhaiya!]
Os vrajavasis cantam essa canção descrevendo Krishna como a personificação da bem-aventurança divina. Agora, a divina bem-aventurança apareceu na casa de Nanda Maharaja, enchendo o coração de todos com o êxtase de felicidade transcendental; Krishna é conhecido como ananda-kanda (a fonte de êxtase transcendental), Krishnachandra.
Eu mencionei ontem que, quando a felicidade transcendental se manifesta no coração de alguém, jada-ananda (felicidade material) automaticamente desaparece. Neste mundo material, a maioria das pessoas anseia por felicidade material. O que é isso?
Alguns exemplos de jada-ananda incluem: bhojana-ananda (o desejo de satisfazer os sentidos através do estômago) – alguns desenvolvem uma intensa gula por vários tipos de alimentos. Outros podem ter shayana-ananda (o desejo de dormir em uma cama macia). Muitos desejam esposa ou marido, riqueza, casa, carro, cartões de crédito, ou têm vários outros tipos de desejos materiais. Entretanto, quando a felicidade transcendental se manifesta, ou seja, quando Krishna aparece no coração de alguém, essa pessoa se esquecerá de todos os anseios por felicidade material.
Cada um dos residentes de Vraja acredita que Krishna é seu próprio filho, e não somente filho de Nanda Baba e Mãe Yashoda. É por essa razão que todos eles estão submersos em aprakrita-ananda, felicidade divina. Nanda e Yashoda ficam especialmente absortos na felicidade de Sri Krishna. Sentindo uma abundância de alegria e generosidade neste dia, Nanda Maharaja distribuiu todos os tipos de doações aos brahmanas (sacerdotes) e também a muitos outros.
“Hāthī dīno ghodā dīno aur dīnī pālakī’” – Nanda Maharaja ofereceu palanquins como presentes aos idosos, para que pudessem sentar-se e ser carregados confortavelmente enquanto viajavam. Aos jovens meninos e meninas, ele deu cavalos muito fortes para que pudessem montar confortavelmente. Qualquer pessoa de meia-idade recebeu elefantes como doação, para que também pudesse viajar. Assim, havia três tipos de beneficiários – idosos, pessoas de meia-idade e jovens. Dessa forma, Nanda Maharaja distribuiu doações para todos. Muitos alimentos deliciosos também foram presenteados – laddus, kachoris, etc. Os jovens, que eram mais capazes de mastigar, receberam laddus e kachoris para comer. Os idosos, com menor capacidade de mastigar, receberam líquidos doces como rasa-malai e outras bebidas. Muitos doces foram distribuídos e todos os vrajavasis ficaram muito satisfeitos.
Como cantado nestes versos:
nhaiyā lāl kī hāthī dīno ghodā dīno aur dīnī pālakī
hāthī dīno ghoḍā dīno aur dīnī pālakī
[Em Vraja, todos estavam tão felizes. Yogamaya (Vrinda-devi) decorou maravilhosamente tudo em Vrindavana; todas as árvores estavam ornamentadas muito bem com flores em plena floração e frutos maduros.]
yamunā-puline, kadamba-kānane, ki herinu sakhī! āja
śyāma vaṁśīdhārī, maṇi-mañcopari, kare līlā rasarāja (1)
kṛṣṇa-keli sudhā-prasravaṇa
aṣṭa-dalopari, śrī rādhā śrī hari, aṣṭa-sakhī parijana (2)
sugīta-nartane, saba sakhī-gaṇe, tuṣiche ĵugala-dhane
kṛṣṇa-līlā heri’, prakṛti sundarī, bistāriche śobhā vane (3)
ghare nā ĵāibô, vane praveśibô, o līlā-rasera tare
tyaji’ kula-lāja, bhajô vraja-rāja, vinoda minati kare (4)
Canção Yamunā-puline por Srila Bhaktivinoda Thakura
[Ó sakhi! Ouça o que vi hoje! Em um bosque de kadamba, às margens do Yamuna, estava um lindo menino negro segurando uma longa flauta, sentado num trono de joias, realizando Seus passatempos como rasa-raja, o rei de todas as doçuras transcendentais.
Nas oito pétalas do altar cravejado de joias, Suas mais queridas servas, as oito gopis principais, rodeavam Radha e Hari. Ali, Krishna realizava seus passatempos amorosos, que são como uma cachoeira de néctar.
Com suas doces canções e exímias danças, todas as gopis satisfaziam o casal divino. Assim, contemplei as lilas de Krishna com Suas belas amadas enquanto perambulavam pela esplêndida floresta.
A fim de saborear o néctar destas lilas, eu não voltarei para minha casa, mas em vez disso, entrarei na floresta. Renunciando a toda timidez devido ao medo dos membros da família, adorarei o Senhor de Vraja. Este é o humilde pedido de Bhaktivinoda.]
Em Nanda-bhavana, Nanda Maharaja celebrou muito bem o nascimento de seu filho, e todos os vrajavasis ficaram completamente submersos no amor divino de Krishna. Nanda Maharaja realizou uma encantadora celebração e Yogamaya (Vrinda-devi) decorou perfeitamente o ambiente com flores, frutas, folhas e árvores. Tudo estava esplendidamente adornado. Ela fez com que cada flor desabrochasse, criando tanto pólen que cobriu o ar; parecia que todo o céu havia se tornado colorido, com uma variedade de pólen criando a aparência de um céu pintado. Uma vez que ananda-kanda, Krishna, (a personificação da felicidade divina) se fez presente, o coração de todos estava completamente imerso, cheio de alegria. Todos os semideuses e semideusas chegaram a Vrindavana na forma de seres humanos para terem o darshana (visão direta) do Senhor Krishna. O Senhor Shiva também estava presente.
O Aparecimento do Senhor Shiva em Nanda-bhavana
No entanto, Shivaji apareceu como um yogi (praticante de yoga), com dreadlocks, uma serpente ao redor do pescoço e panos de diferentes cores. Shivaji pensou: “Meu Senhor Krishna realiza doces lilas (passatempos) em Vraja, especialmente durante Sua infância. Devo ver por mim mesmo o quão doce Ele é!”. Shivaji chegou tocando seu damaru (tambor), e com seu trishula (tridente) na outra mão. Ao entrar na casa de Nanda Maharaja, ele cantava: “alakha niranjana, alakha niranjana, alakha niranjana…”. Krishna estava dentro de um quarto, e pensou: “Oh, Meu devoto puro, Shivaji chegou. Eu preciso dar Meu darshana para ele”. Por essa razão, Krishna começou a chorar. Mãe Yashoda pensou: “Oh, talvez este yogi tenha algum tipo de poder místico e esteja perturbando a mente do meu filho”. Com medo do yogi Shivaji, Mãe Yashoda não quis dar a ele o darshana de Krishna.
Mesmo assim, Shivaji pensou: “Eu tenho que ter o Seu darshana!”. Ele começou a tocar o damaru novamente e, mais uma vez, o bebê Krishna começou a chorar. O Senhor estava pensando: “Eu preciso dar Meu darshana e abençoá-lo”. Então, todas as sakhis (amigas) disseram à Mãe Yashoda: “Oh, este yogi chegou, ele deve dar o darshana ao seu filho Krishna”. Todavia, Yashoda-maiya insistiu em não dar o darshana de seu bebê Krishna. O vatsalya-bhava (sentimento parental) estava crescendo no coração de Mãe Yashoda. No entanto, Krishna continuava aos prantos, até que, finalmente, Mãe Yashoda cobriu Krishna com um pano, colocou kajal (cosmético preto para os olhos) e enfeites em Sua testa, e o trouxe para fora.
No exato momento em que Mãe Yashoda mostrou o bebê Krishna para Shivaji, Shivaji ficou totalmente mergulhado em êxtase transcendental. Finalmente, Krishna parou de chorar, e então Mãe Yashoda o instruiu: “Yogi, você pode ficar bem próximo da nossa vila, e toda vez que meu filho chorar, você pode vir dar seu darshana a Ele”. Seguindo suas instruções, o Senhor Shiva ficou em um lugar muito próximo de Nandagaon, de forma que pudesse facilmente aparecer quando necessário.
A chegada de Putana em Vraja
Dessa forma, Krishna realizou muitas lilas doces em Nandagaon. Brahma, Narada, Indra, e todos os semideuses e semideusas chegaram a Vraja para ter o darshana de Govinda. Enquanto isso, em Mathura, Kamsa estava muito assustado com o aparecimento do Senhor Vishnu. Um dia, pelo poder de Yogamaya, uma voz celestial se manifestou e disse a Kamsa: “O seu assassino, Krishna, nasceu agora em Vraja”. A partir de então, tomado por grande medo, Kamsa estava sempre pensando: “Como vou matar este menino?”.
Kamsa convocou seus asuras (demônios): Putana, Aghasura, Bakasura e Trinavarta, e os instruiu a matar Krishna. Putana se pronunciou primeiro: “Eu posso matar Krishna com os meus poderes místicos!”, ao que Kamsa respondeu sarcasticamente: “Como é possível que eles deixem você entrar em Vraja? Sua forma é tão bela e atraente, suas pernas são como as de um elefante, seu nariz tem dez metros de comprimento e seus cabelos são tão bonitos como as labaredas do fogo. Como os vrajavasis poderiam deixá-la entrar em Vraja?”. “Não se preocupe, eu tenho poderes místicos! Sem precisar ir a um salão de beleza, eu posso manifestar uma forma jovem, bonita e encantadora”, respondeu Putana.
Se você não tiver uma forma atraente, pode sempre visitar um salão de beleza e eles te arrumarão tão bem que ninguém te reconhecerá. Muito confiante, Putana garantiu a Kamsa: “Mesmo sem ir a um salão, posso manifestar belos e longos cabelos ondulados. Sem uma operação plástica, posso manifestar o belo nariz de uma jovem donzela, como o de Lakshimi em Vaikuntha”. Dessa forma, ela manifestou a forma de uma moça muito atraente, e então ungiu seus seios com veneno. Putana estava convicta de que poderia simplesmente amamentar o bebê Krishna com seus seios envenenados e, dessa forma, matá-Lo. Arrogantemente, Putana chegou a Vraja como uma adorável jovem donzela, semelhante a uma rainha de Vaikuntha.
Naquele momento, os vrajavasis estavam celebrando os primeiros seis dias de vida de Krishna. De acordo com a cultura védica, no sexto dia de vida de um recém-nascido, os semideuses e as semideusas são adorados. Uma bela celebração estava acontecendo e todos os vrajavasis estavam muito felizes; durante todo o dia e noite, todos vinham para ter o darshana de Govinda e não havia ninguém monitorando quem estava entrando ou saindo de Vraja. Putana pensou: “Oh, este é um ótimo lugar, ninguém está de guarda, não há uma pessoa sequer supervisionando, dessa forma ninguém pode me impedir”. Diferente de um aeroporto, onde há muitos sistemas avançados de segurança com raios-X para escanear seu corpo, e até mesmo detectar placas de metal em seus ossos, naquela época em Vraja, não havia raios-X ou seguranças. Ela então imaginou que qualquer um poderia entrar e ter o darshana de Govinda. Mas Yogamaya está sempre vigilante e verifica cuidadosamente qualquer um que tenta entrar em Vraja; se você não estiver realizando bhajana e sadhana (práticas espirituais), não será permitido entrar em Vraja.
Certa vez, Kamsa tentou entrar em Vraja, contudo, Yogamaya o capturou e o colocou na água de um lago. Isso transformou Kamsa em uma mulher idosa, com bochechas caídas, sem dentes, com um tufo de cabelos brancos na parte posterior de seu crânio, olhos fundos e um nariz muito longo. Notando a velha senhora, todos os vrajavasis perguntaram: “Ei, de onde você veio?”. Um pouco perplexa, a velha senhora ficou atordoada e não soube o quê responder. Em resposta, todas as jovens damas de Vraja começaram a agredí-la. Então, Paurnamasi (Yogamaya) a capturou novamente e a colocou nas águas do lago, devolvendo a Kamsa seu belo corpo original. Prontamente ele retornou a Mathura e nunca mais voltou a Vrindavana. Como mencionei, pessoas desqualificadas nunca podem entrar em Vraja; todos são sempre inspecionados na entrada por Yogamaya.
Agora, pode surgir uma pergunta: “Como Putana entrou em Vraja?”. Já que Yogamaya faz todos os arranjos em krishna-lila, foi ela mesma quem permitiu a entrada de Putana. Krishna pensou: “Eu vou realizar o doce passatempo de matar a demônia Putana.” De acordo com seu plano inventado, na forma de uma bela jovem, ela adotou um humor maternal e tentou amamentar Krishna com veneno de cobra em seus seios. Portanto, Yogamaya permitiu a entrada de Putana em Vraja apenas para cumprir o desejo de Krishna..
aho bakī yaṁ stana-kāla-kūṭaṁ
jighāṁsayāpāyayad apy asādhvī
lebhe gatiṁ dhātry-ucitāṁ tato ’nyaṁ
kaṁ vā dayāluṁ śaraṇaṁ vrajema
Srimad-Bhagavatam (3.2.23)
[Ai de mim! Como poderei me refugiar em alguém mais misericordioso do que aquele que concedeu a posição de mãe a uma demônia (Putana), embora ela fosse infiel e tivesse preparado um veneno mortal para ser sugado de seu seio?]
Shukadeva Gosvamipada perguntou a Pariksit Maharaja: “Quem não quer abrigo sob os pés de lótus de Sri Krishna, a personificação do amor divino?”.
“Aho bakī yaṁ stana-kāla-kūṭaṁ.” A irmã de Bakasura, Putana, fingiu ter matri-bhava (amor maternal). No entanto, sua intenção era matar Krishna.
aho bakī yaṁ stana-kāla-kūṭaṁ
jighāṁsayāpāyayad apy asādhvī
lebhe gatiṁ dhātry-ucitāṁ tato ’nyaṁ
kaṁ vā dayāluṁ śaraṇaṁ vrajema
Putana manifestou a forma de uma jovem e atraente donzela, como uma rainha de Vaikuntha. Com sua variedade de poderes místicos, os demônios conseguem facilmente manifestar olhos longos e bonitos, que chegam até as orelhas, semelhantes à forma de um peixe. Assim como um artista pintaria, ela tinha olhos alongados, sobrancelhas em forma de arcos, um nariz belamente reto e longos cabelos ondulados que chegavam logo abaixo dos joelhos. Ela se assemelhava a um ser majestoso com um rosto radiante e dentes que brilhavam como a lua. Seus atraentes lábios eram avermelhados e suas gengivas lembravam a cor da romã. Ela até mesmo manifestou uma bela garganta, no formato de uma concha, e adoráveis bochechas, que brilhavam como duas rasagullas.
Dessa forma, Putana manifestou a forma de uma bela jovem, se assemelhando a uma semideusa. Ela vestia um elegante sari de seda e, em sua mão, segurava uma pequena bolsa. Talvez não houvesse dinheiro na bolsa; poderia estar vazia (Gurudeva ri). Na verdade, algumas pessoas afirmam: “Eu sou muito rico”, mas não há nada dentro de suas bolsas. Putana tinha uma cintura esbelta e um peito volumoso, com pernas e pés belíssimos. Antes de adquirir essa forma, seus pés pareciam os de um elefante, mas agora eles estavam muito atraentes. Nessa forma, ela caminhava elegantemente, mascando uma noz de betel enquanto segurava uma bela flor de lótus em uma das mãos. Ela estava completamente intoxicada com sua própria madonmadati-yauvane (forma juvenil). Da mesma forma, nós ouvimos isso na canção sobre Srimati Radhika:
madonmadāti-yauvane pramoda-māna-maṇḍite
priyānurāga-rañjite kalā-vilāsa-paṇḍite
ananya-dhanya-kuñja-rājya-kāma keli-kovide
kadā kariṣyasīha māṁ kṛpā-kaṭākṣa-bhājanam
Sri Sri Radha-kripa-kataksha-stava-raja (5)
[Ó Você que está intoxicada pela beleza de Sua própria juventude e está sempre adornada com Seu ornamento proeminente: o Seu encantador sentimento de ira transcendental (mana). Ó Você que Se deleita com o amor que Seu querido tem por Você e é supremamente hábil na arte dos assuntos amorosos. No incomparável reino de maravilhosos kunjas (bosques), Você é a mais versada em todas as inovações do amor – Ó Srimati Radhika, quando, ó quando, Você fará de mim o objeto de Seu misericordioso olhar de soslaio?]
Srimati Radhika se intoxica completamente com Sua forma juvenil e não se interessa por mais ninguém.
Similarmente absorvida em sua beleza, Putana não se importava com mais ninguém enquanto pensava: “Agora sou a Miss Universo”. Anteriormente, ninguém sequer olhava para ela, mas agora todos, intoxicados por sua beleza: “Vejam quão bela ela é!”. Girando suavemente uma flor de lótus em sua mão, ela passeava de forma despreocupada enquanto pensava: “Todo o resto é inútil”. Após testemunhar sua beleza, todos os habitantes da aldeia ficaram surpresos. Os vrajavasis perguntaram: “Quem é essa que está chegando?”. Alguns vrajavasis, carregando potes de água na cabeça, pararam para ter um vislumbre da bela forma de Putana. À medida que uma, duas, então três meninas paravam distraídas, elas se chocaram e todos os seus potes quebraram ao caírem no chão. Cativados pela deslumbrante forma de Putana, todos ficaram admirados com sua beleza e a efulgência emanada pelas suas vestes. Todos os vrajavasis pensaram: “Talvez seja Lakshmi-Devi, chegando de Vaikuntha”. Como resultado, ninguém pensou em perguntar quem ela era ou de onde vinha. Ela entrou muito facilmente na casa de Nanda Maharaja. Naquele momento, Mãe Yashoda colocou bebê Krishna em um pequeno palanquim e foi terminar um afazer em outro cômodo. Tudo havia sido perfeitamente arranjado por Yogamaya; foi ela mesma quem guiou Putana a Vraja. De que outra maneira Putana poderia entrar em Vraja? Somente com a orientação e permissão de Yogamaya ela pôde ser autorizada a entrar.
Putana é muito feia e odores pungentes emanavam de seu corpo porque ela matava bebês recém-nascidos e bebia seu sangue. No Srimad-Bhagavatam, Shukadeva Gosvami explica: “pūtanā bāla-ghātinī śiśūṁś cacāra nighnantī — Putana matou bebês e bebeu o sangue deles, por isso seu corpo exala esse odor rançoso”. O cheiro do corpo de uma pessoa provém da comida que ela ingere; se você comer alimentos ruins, seu corpo terá um cheiro desagradável. Por exemplo, se você consumir cebola, alho, carne, peixe ou ovos, irá transpirar um mau odor. Por outro lado, se você comer somente sattvika-prasada (comida no modo da bondade e oferecida ao Senhor), então seu corpo irá exalar uma doce fragrância. Você entende isso? Todos os dias, você deve comer somente prasada, sem alho ou cebola. Assim, nosso corpo terá um aroma muito doce. Isso é verdade ou não? Essa é a verdade. Como eu disse, sem passar perfume algum, uma doce fragrância irá exalar do seu corpo. Quando você come apenas maha-prasada (remanescentes da comida oferecida à deidade), não haverá mais necessidade de usar qualquer tipo de perfume. Nós devemos comer somente maha-prasada todos os dias.
mahā-prasāde govinde
nāma-brahmaṇi vaiṣṇave
svalpa-puṇyavatāḿ rājan
viśvāso naiva jāyate
Skanda Purana (Utkala-khanda)
[Aqueles que têm muito poucas atividades piedosas em seu crédito nunca conseguirão desenvolver fé em maha-prasada, em Sri Govinda, no santo nome do Senhor ou nos vaishnavas.]
A maha-prasada é muito poderosa. Como Putana consumia coisas ruins, um mau cheiro emanava de seu corpo, embora, com seus poderes místicos, ela cobrisse todas essas más qualidade. Externamente, Putana parecia muito atraente, mas, internamente, ela estava cheia de muitas coisas desagradáveis. O nome em sânscrito Putana é composto por duas palavras – “puta” e “na” – onde “puta” significa “pura” e “na” significa “não”. Putana literalmente significa “não pura”. Ela é apavitra (impura), pois, dentre muitas outras atividades pecaminosas, ela bebe o sangue de bebês e consome cebola, alho e come todo tipo de coisa estúpida e sem sentido.
Agora, Putana entrou no quarto de Krishna, onde ele dormia em um palanquim muito macio e confortável. Por arranjo de Yogamaya, naquele momento, Mãe Yashoda e Rohini-devi não estavam no mesmo quarto. O bebê Krishna estava agora sozinho com a demônia Putana, e ela pensou: “Esta é uma ótima oportunidade, tenho que matar Krishna agora”. Quando ela entrou no quarto, Krishna fechou os olhos e pensou: “Como vou matar Putana?”, e então Ele se lembrou do passatempo da filha de Bali Maharaja, Ratnavali.
A Vida Anterior de Putana e o Desejo de Ratnavali
No Srimad-Bhagavatam, Shukadeva Gosvamipada explica que, no momento em que Bali Maharaja fazia doações aos brahmanas, o Senhor Vamanaveda apareceu, e a filha de Bali Maharaja, Ratnavali, se sentiu muito atraída por Sua bela forma. Ao admirar a beleza do Senhor Vamanadeva, Ratnavali pensou: “Oh, que forma esplêndida e atraente! Eu preciso amamentá-Lo”.
Quando você vê um bebê bonitinho, um sentimento paternal/maternal entra automaticamente em seu coração. Especialmente as mulheres, ao verem um bebê, sentem o desejo instintivo de abraçá-lo e beijá-lo. Da mesma forma, quando Ratnavali viu Vamanadeva Bhagavan, ela se sentiu muito atraída por Ele e pensou: “Eu preciso amamentá-Lo”. No entanto, quando o Senhor Vamanadeva tomou toda a propriedade de seu pai, Bali Maharaja, Ratnavali ficou muito aborrecida. Naquele momento, ela disse: “Esse garoto é um grande trapaceiro. Ele enganou meu pai mostrando Seus pés pequenos e acabou tomando toda a sua propriedade. Um dia, eu terei que matar este menino colocando veneno em meu seio e amamentando-O”. O Senhor Vamanadeva, que está sempre ciente de tudo, pensou: “Ela não pode Me matar, pois Eu sou Bhagavan. Ainda assim, devo atender o desejo de Ratnavali e sugar seu seio.”
Por essa razão, em krishna-lila, quando Ratnavali apareceu na forma de Putana, Krishna decidiu: “Eu preciso libertar Putana desta forma de demônio. Putana agora chegou em Minha Vraja, disfarçada em uma forma de vatsalya-bhava (humor maternal)”. Adotando o papel de uma mãe, ela colocou Krishna em seu colo e tentou amamentá-Lo. Naquela época, Krishna tinha apenas seis dias de vida, Ele ainda não tinha dentes e sugava com suas gengivas macias como a boca de um peixe. Se você colocar seu dedo na boca de um peixe, ele a fecha e começa a sugar, como um bebê recém-nascido. Por isso, a doce boca de lótus do bebê Krishna é como a boca de um peixe.
No entanto, Putana forçou Krishna a mamar seu leite, que estava cheio de veneno. Inicialmente, Krishna não queria sugar o seio de Putana. Por fim, ele simplesmente tocou no seio dela e começou a sugar seu ar vital, fazendo parecer que Putana estava sofrendo um grave ataque cardíaco. Durante um ataque cardíaco, uma pessoa começa a suar muito no início. Depois, torna-se muito difícil respirar e a dor no peito começa a aumentar. Então, apenas por colocar Seus lábios macios em Putana, ela começou a sentir os mesmos sintomas de alguém que está tendo um ataque cardíaco.
A Derrota de Putana nas Mãos do Bebê Krishna
Os braços de Putana possuem a força de dez mil elefantes, mas agora, ela não conseguia nem tirar Krishna recém-nascido de seu seio. Apesar de seus débeis esforços, Ele se manteve agarrado em seu seio, sugando seu ar vital. Em algum momento, ela lamentou: “O que farei agora?”. Havia muito suor escorrendo de seu corpo e ela sentia uma dor enorme no peito. Incapaz de manter sua forma mística, ela retomou sua forma original, putana-sharira (Putana com um corpo gigantesco), com pernas muito grossas, como as de um elefante. Se você fosse a uma loja, com certeza não encontraria sapatos do tamanho dos pés de Putana. O vendedor não conseguiria nem medir o pé dela, seria impossível (Gurudeva ri). Então, todas as características abomináveis de sua forma original reapareceram.
Naquele momento, ela pensou: “Eu preciso retornar a Mathura; lá, Kamsa e seus associados conseguirão tirar Krishna do meu seio”. Então ela começou a voar pelo céu e, enquanto voava, uma enorme tempestade surgiu. Como normalmente ocorre durante uma tempestade, os galhos das árvores começaram a balançar violentamente. As árvores pensaram: “O que está acontecendo?”. Durante a tempestade, Putana voava sobre o céu, e Krishna continuava agarrado a seu seio. Os vrajavasis começaram a correr freneticamente em direção a Putana, enquanto perguntavam: “Onde está Krishna?”. Eventualmente, alguém O viu e exclamou: “Ele está no peito de Putana!”.
Assim que Putana entrou em Mathura, seu corpo enorme caiu do céu, caindo no jardim de Kamsa, resultando na destruição de todas as árvores, semelhante ao caos causado pela queda de um avião. Ao aterrissar, Putana abandonou o corpo. Chegando ao local, todos os vrajavasis viram o enorme cadáver de Putana, e rapidamente perceberam que Krishna estava seguro. Ele estava quieto, calmamente sentado no peito de Putana. O corpo de Putana era tão grande que foi necessário o uso de uma escada para alcançar o topo. Não havia elevadores naquela época. (Gurudeva ri.) Antes de desmaiar, Mãe Yashoda gritou: “Onde está meu lala (querido filho)?”. Os vrajavasis resgataram Krishna do peito de Putana e O ofereceram a Mãe Yashoda, e só então ela recuperou a consciência.
Os vrajavasis decidiram que precisavam queimar o corpo de Putana. O Srimad-Bhagavatam descreve o processo de como lidaram com a cremação do seu enorme corpo. Com machados, eles cortaram o corpo em pedaços e os jogaram ao fogo. Para a surpresa de todos, algo incomum aconteceu: ao colocarem o corpo dela no fogo, uma doce fragrância surgiu, como a de um doce incenso, ou chandana (pasta de sândalo). Como isso era possível? Durante toda a sua vida, ela bebeu sangue e comeu alho e outras coisas impuras. Como poderia emanar um aroma tão doce de seu corpo? Se você consumir cebola ou alho e seu corpo for jogado ao fogo, certamente haverá um cheiro ruim (Gurudeva ri). No entanto, se você comer apenas maha-prasada e seu corpo for jogado ao fogo, uma doce fragrância se espalhará. O que você prefere? Maha-prasada ou cebola e alho? Quando morrermos, não estaremos aqui para saber o cheiro que sairá de nossos corpos. Então, por que um cheiro tão agradável, como chandana ou cânfora, emanou da queima do corpo de Putana? Foi porque Krishna tocou seu corpo com Sua boca de lótus, purificando-o instantaneamente, resultando na doce fragrância ao ser queimado. É verdade. No momento em que Krishna toca o corpo de alguém, esse corpo adquire um aroma doce e todas as coisas ruins instantaneamente vão embora. O Srimad-Bhagavatam explica esses tópicos, o porquê do doce aroma emanar do corpo em chamas de Putana.
Na verdade, Krishna liberou Putana para que ela se tornasse uma serva de Mãe Yashoda. Shukadeva Gosvamipada glorificou lindamente essa putana-vadha-lila (liberação de Putana) e explicou uma lição essencial por trás dessa lila: independente das circunstâncias, se você se render a Krishna, Ele irá te aceitar. Krishna é incrivelmente misericordioso e extraordinário, Ele nunca vê as falhas de ninguém. Em vida, Putana nunca praticou bhajana e sadhana. Em vez disso, ela se disfarçou em uma forma com matri-bhava e tentou matar Krishna. Apesar de tudo isso, Krishna a aceitou e a liberou.
Bolo Vrindavana Bihari Lala ki jaya!
[Jaya jaya Sri Radhe!]
Tradução: Ananda Mohini Devi Dasi
Edição: Acyuta Priya Devi Dasi
Revisão: Taruni Gopi Dasi