Shiva-ratri
- Vana Madhuryam Brasil
- 26 de fev.
- 24 min de leitura

Srila Bhaktivedanta Vana Gosvami Maharaja
19 de fevereiro de 2023, São Paulo, Brasil
Hoje é um dia muito auspicioso porque celebramos Shiva-maha-ratri. Ratri significa noite. Nós celebramos Krishna Janmastami até a meia-noite, e da mesma forma, celebramos o aparecimento de Shivaji até esse horário. Por isso, o nome do dia de hoje é Shiva-ratri.
Celebramos o aparecimento de Srimati Radhika de manhã bem cedo; o aparecimento de Krishna à meia-noite; o aparecimento de Ramachandra ao meio-dia; e o aparecimento de Sri Chaitanya Mahaprabhu após o nascer da lua cheia. Shiva também apareceu à noite, e por isso, o dia do seu aparecimento é chamado de Shiva-maha-ratri.
Geralmente, as pessoas realizam shiva-lingam-puja (a adoração da shiva-lingam). É muito raro encontrar uma murti (forma sagrada) do Senhor Shiva nos templos. A maioria dos templos possui uma shiva-lingam. Mas por que adorar uma shiva-lingam ao invés de uma vigraha-murti?
Lingam é uma palavra sânscrita que significa cihna (marca ou sinal). Existem dois gêneros: o masculino e o feminino (purusha e stri). Ao preencher um formulário, é necessário assinalar qual gênero você é, e esse gênero é chamado de lingam. Portanto, lingam é um sinal pelo qual você pode ser reconhecido como homem ou mulher.
No Brahma-samhita, um grantha (escritura sagrada) belíssimo, Srila Vyasadeva manifestou todo o tattva-siddhanta (conclusões filosóficas), o qual inclui shiva-tattva.
liṅga-yony-ātmika jātā
imā māheśvarī-prajāḥ
(Sri Brahma-samhitā, 5.9)
[Todos os descendentes da consorte do grande senhor (Maheśvara) deste mundo mundano são da natureza da personificação dos órgãos geradores masculinos e femininos mundanos.]
Liṅga-yony-ātmika. Neste verso, são utilizadas as palavras linga e yony, que significam “masculino” e “feminino”. Contudo, quando essas palavras são utilizadas, concepções materiais surgem em nossa mente. A alma condicionada está completamente absorta em aspectos materiais, e por essa razão, concepções materiais surgem. Kamuka pasyanti kamini mayam jagat — uma pessoa dominada pela luxúria vê tudo através de olhos luxuriosos. No entanto, um devoto exaltado do Senhor, onde quer que olhe, enxerga krishna-lila – os passatempos divinos de Sri Krishna.
Aqueles que são estúpidos e tolos veem insensatez em tudo, e, assim, suas mentes ficam perturbadas. No entanto, os devotos exaltados do Senhor, ao olharem para qualquer coisa, sentem udipanas (estímulos espirituais) surgirem em seus corações.
Tentem compreender isso. Primeiro, concentrem suas mentes em uma plataforma além dos três modos da natureza material — sattva, raja e tama-guna —, pois bhagavat-tattva está além desses três gunas (qualidades) de maya (a potência ilusória do Senhor).
harir hi nirguṇaḥ sākṣāt
puruṣaḥ prakṛteḥ paraḥ
sa sarva-dṛg upadraṣṭā
taṁ bhajan nirguṇo bhavet
(Śrīmad-Bhāgavatam, 10.88.5)
[O Senhor Hari, de fato, não tem ligação alguma com os modos materiais. Ele é a Suprema Personalidade de Deus, a testemunha eterna de tudo, que é transcendental à natureza material. Quem O adora torna-se igualmente livre dos modos materiais.]
Bhagavan Sri Hari está além dos três gunas de maya — sattva-guna, raja-guna e tama-guna. Quando tama-guna (modo da ignorância) está presente, ele causa destruição. Quando vocês estão extremamente irritados, acabam destruindo tudo ao seu redor, pois esse é o sintoma desse guna. Quando raja-guna (modo da paixão) está presente, vocês sentem ahankara (ego) e pensam: "Eu sou o executor da ação." Assim, vocês se dedicam ao trabalho árduo. E quando sattva-guna (modo da bondade) está presente, a mente fica calma, pacífica e nutrida. Dia e noite, esses modos da natureza surgem. Desde o nascer até o pôr do sol, os três gunas influenciam nossos corpos e mentes.
Vocês devem acordar bem cedo de manhã, no brahma-muhurta. Nesse período do dia, suas mentes estarão muito calmas e tranquilas, alinhadas ao sattva-guna, o modo da bondade. Os shastras (escrituras sagradas) ensinam que o período do brahma-muhurta deve ser utilizado para meditar no Senhor.
Nesse momento, vocês devem especialmente glorificar a gurudeva e cantar o Gurvastakam.
śrīmad-guror aṣṭakam etad uccair
brāhme muhūrte paṭhati prayatnāt
yas tena vṛndāvana-nātha-sākṣāt
sevaiva labhyā januṣo ’nta eva
(Śrī Gurvāṣṭakam, verso 9, de Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura)
[Aquela pessoa que, durante o brāhma-muhūrta, recita em voz alta e com atenção este Guruvāṣṭakam certamente alcançará o serviço direto aos pés de lótus de Śrī Kṛṣṇa, a vida e a alma de Vṛndāvana, ao final desta vida (ao atingir vastu-siddhi, sua forma espiritual eterna).]
De manhã bem cedo, no período do brahma-muhurta (1 hora e 36 minutos antes do nascer do sol), acordem e façam stava-stutis (orações) para gurudeva.
saṁsāra-dāvānala-līḍha-lokatrāṇāya
kāruṇya-ghanāghanatvam
prāptasya kalyāṇa-guṇārṇavasya
vande guroḥ śrī-caraṇāravindam
(Śrī Gurvāṣṭakam, verso 1, de Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura)
[Para libertar os seres vivos queimados pelo incêndio florestal da existência material, śrī gurudeva, que é um oceano de qualidades auspiciosas, manifesta-se como uma nuvem condensada de misericórdia. Eu adoro os pés de lótus de śrī gurudeva.]
No último verso do Gurvastakam, é dito: “śrīmad-guror aṣṭakam etad uccair, brāhme muhūrte paṭhati prayatnāt, yas tena vṛndāvana-nātha-sākṣāt, sevaiva labhyā januṣo ’nta eva.” Januṣo ’nta eva significa “após abandonar este corpo”. Não esperem pela próxima vida! Se vocês têm guru-nistha (fé firme e inabalável no guru) e guru-bhakti (devoção e serviço dedicado ao guru), Srila Visvanatha Cakravarti Thakura lhes dará as bênçãos. Isso se chama phala-sruti, o fruto de entoar o stuti (oração). Na canção Gurvastakam, é explicado que, ao deixarem este corpo, vocês alcançarão a morada do Senhor, Goloka Vrindavana, em uma bela forma de gopi, onde servirão Sri Radha e Krishna sob a orientação de gurudeva.
Estou dizendo isso porque, bem cedo de manhã, sattva-guna está presente, e por essa razão, nossa mente fica muito calma e pacífica. Quando o sol nasce, automaticamente o modo raja-guna se torna predominante, e o ahankara (falso ego) de executor da ação surge. Desse modo, as pessoas só pensam em trabalho, trabalho, e trabalho. Por fim, quando o sol se põe, o modo tama-guna automaticamente se torna predominante e o sono aparece. Assim, desde o amanhecer até o anoitecer, os modos da natureza se alternam dessa forma.
Voltando ao tema da aula, no Brahma-samhita é dito: liṅga-yony-ātmika jātā, imā māheśvarī-prajāḥ — a criação ocorre por meio de linga e yony. As palavras sânscritas linga e yony geralmente indicam os órgãos genitais masculino e feminino, os quais geram um novo corpo. Contudo, sem o desejo do Senhor, não é possível criar um corpo novo. Por isso, os shastras estabelecem: isvara-iccha — o desejo do Senhor é desejo supremo. Shiva-tattva explica esses tópicos.
Na verdade, hoje celebramos o aparecimento de Sadashiva, que está relacionado a vishnu-tattva. Shivaji, ou Sadashiva, está sempre acompanhado de sua potência (shakti). Bhagavan Vishnu possui potências ilimitadas. Mas Krishna, Vrajendra-nandana Syamasundara, é a Suprema Personalidade de Deus, Svayam Bhagavan.
ete cāṁśa-kalāḥ puṁsaḥ
kṛṣṇas tu bhagavān svayam
indrāri-vyākulaṁ lokaṁ
mṛḍayanti yuge yuge
(Śrīmad-Bhāgavatam, 1.3.28)
[Todas as encarnações acima mencionadas são ou porções plenárias ou porções das porções plenárias do Senhor, mas o Senhor Śrī Kṛṣṇa é a Personalidade de Deus original. Todas elas aparecem nos planetas sempre que há um distúrbio criado pelos ateístas. O Senhor encarna para proteger os teístas.]
Krishna é Svayam Bhagavan, mas possui muitas encarnações, com as quais Ele manifesta a criação, a nutrição e a destruição do universo. Brahma, Shiva e Vishnu não são diferentes do próprio Sri Hari, Krishna.
Um tipo de Brahma é chamado de jiva-koti-brahma (uma alma na posição de Brahma), e o outro é chamado de isvara-koti-brahma (o próprio Deus na posição de Brahma). Da mesma maneira, existe um Shiva que é chamado de jiva-koti-shiva (uma alma na posição de Shiva), e o outro é isvara-koti-shiva (o próprio Deus na posição de Shiva), que é Sadashiva.
A função de destruir é muito difícil. Em cada kalpa (um dia de Brahma), é muito difícil encontrar uma pessoa que possa assumir a posição de Shivaji. Nesse momento, o próprio Krishna assume a posição de Shiva, o qual se chama Sadashiva. A expansão desse Shiva é o Shiva de Kailasa.
Muitas pessoas conhecem kailasa-shiva-katha (as histórias sobre o Shiva de Kailasa), mas pouquíssimas pessoas conhecem sadashiva-tattva (a verdade existencial sobre Sadashiva).
kṣīraṁ yathā dadhi vikāra-viśeṣa-yogāt
sañjāyate na hi tataḥ pṛthag asti hetoḥ
yaḥ śambhutām api tathā samupaiti kāryād
govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi
(Śrī Brahma-saṁhitā, 5.45)
[Assim como o leite é transformado em coalhada pela ação dos ácidos, mas a coalhada não é nem igual nem diferente de sua causa, ou seja, o leite, assim eu adoro o Senhor primordial Govinda, do qual o estado de Śambhu é uma transformação para a realização da obra da destruição.]
O Brahma-samhita traz a evidência de parinama-tattva, a doutrina da transformação. Essa doutrina é classificada em dois tipos: vastu-parinama (a transformação da substância) e shakti-parinama (a transformação da potência). Contudo, os advaitavadis, impersonalistas, não aceitam essa filosofia, pois acreditam que, ao aceitar a doutrina da transformação, seria impossível sustentar sua própria filosofia de que só existe um Brahma, sem um segundo — eka brahma dvitiya nāsti. Ao aceitar essa filosofia, eles teriam que aceitar que Brahma se transforma.
pariṇāma-vāde īśvara hayena vikārī
eta kahi’ ‘vivarta’-vāda sthāpanā ye kari
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Ādi-līlā, 7.122)
[Segundo Śaṅkarācārya, quem aceita a teoria da transformação de energia do Senhor cria uma ilusão, aceitando indiretamente que a Verdade Absoluta Se transforma.]
O Senhor Chaitanya Mahaprabhu estabeleceu a doutrina de parinama-vada. Ele deu o seguinte exemplo:
brahma-śabde kahe pūrṇa svayaṁ bhagavān
svayaṁ bhagavān kṛṣṇa, — śāstrera pramāṇa
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Madhya-līlā, 6.147)
[A palavra "Brahman" indica a Personalidade Suprema de Deus completa, que é Śrī Kṛṣṇa. Esse é o veredito de toda a literatura védica.]
Originalmente, Brahma significa o próprio Krishna. A palavra sânscrita brahma possui muitos significados. Primeiro, Sarvabhauma Bhattacharya explicou 9 significados dessa palavra. Posteriormente, Sri Chaitanya Mahaprabhu explicou 18 significados, e por fim, novamente Mahaprabhu revelou a Sanatana Gosvamipada 64 significados.
Há muitos significados para a palavra brahma, mas Mahaprabhu explicou o significado apropriado: brahma-śabde kahe pūrṇa svayaṁ bhagavān — a verdadeira definição de brahma refere-se a Svayam Bhagavan, Vrajendra-nandana Syamasundara. Ele possui 6 opulências, as quais são inigualáveis, e ananta-shakti (potências ilimitadas).
viṣṇu-śaktiḥ parā proktā
kṣetra-jñākhyā tathā parā
avidyā-karma-saṁjñānyā
tṛtīyā śaktir iṣyate
(Viṣṇu Purāṇa, 6.7.61)
[Resume-se a potência do Senhor Viṣṇu em três categorias — a saber, a potência espiritual, as entidades vivas e a ignorância. A potência espiritual é plena de conhecimento; as entidades vivas, embora pertencentes à potência espiritual, estão sujeitas a confundir-se; e a terceira energia, que é plena de ignorância, é sempre visível nas atividades fruitivas.]
O Vishnu Purana, bem como diversos outros Puranas, trazem a evidência de que o Senhor possui inumeráveis potências. Contudo, os advaitavadis não acreditam na potência de Brahma e não aceitam parinama-vada, a doutrina da transformação. Se eles a aceitassem, teriam que assumir que Brahma pode se transformar.
O Senhor Chaitanya Mahaprabhu explicou que Brahma possui acintya-shakti, uma potência inconcebível.
acintyāḥ khalu ye bhāvā
na tāṁs tarkeṇa yojayet
prakṛtibhyaḥ paraṁ yac ca
tad acintyasya lakṣaṇam
(Mahābhārata, Bhīṣma-parva, 5.22)
[Qualquer coisa transcendental à natureza material é chamada de inconcebível, enquanto os argumentos são todos mundanos. Como os argumentos mundanos não podem alcançar assuntos transcendentais, não se deve tentar compreender assuntos transcendentais por meio de argumentos mundanos.]
Acintya é algo que está além da nossa concepção material. Mahaprabhu explicou que, neste mundo, existem coisas com potências inconcebíveis, como as pedras preciosas, os mantras místicos e diferentes tipos de ervas. A pedra de toque, por exemplo, transforma o ferro em ouro. No entanto, ela mesma não se transforma. Similarmente, Bhagavan (Deus) possui inumeráveis potências, mas Ele próprio não se modifica.
Por isso, o Brahma-samhita diz: kṣīraṁ yathā dadhi vikāra-viśeṣa-yogāt. Se vocês colocarem ácido lático no leite, por exemplo, este se transformará em iogurte, contudo, o iogurte não pode se transformar novamente em leite. Da mesma forma, as potências inumeráveis do Senhor — como jiva-shakti, maya-shakti e cit-shakti — nunca se transformam Nele mesmo.
Os Upanishads explicam que não há diferença entre shakti (a potência) e shaktiman (aquele que possui a potência). Portanto, o Senhor Vishnu assume a posição de Sadashiva e cumpre com o papel da destruição — esse é o sadashiva-tattva. Às vezes, as jivas (almas) assumem o papel de Shiva, mas isso é muitíssimo raro.
A palavra shiva significa sagrado e auspicioso. Satyam shivam sundaram — a verdade é a beleza, e a beleza é a verdade. Neste mundo material, às vezes, a verdade não é bela, e a beleza não é verdadeira. Muitas pessoas utilizam palavras muito doces e eloquentes, fazendo uma encenação, como um ator, mas na verdade, seus corações estão repletos de veneno. No entanto, o mundo transcendental, cit-jagat, é completamente puro, pavitra.
Neste mundo material, tudo está contaminado com os três modos de maya — sattva, raja e tama-guna. Aqui, alguém que, externamente, fala de maneira doce e gentil, encanta a todos, mas no mundo transcendental, cit-jagat, não é bem assim. Lá, tudo é completamente puro. Por isso, usa-se essa palavra shiva, que significa mangala (bons auspícios). Satyam shivam sundaram — a verdade é a beleza, e a beleza é a verdade.
O Srimad Bhagavatam declara:
dharmaḥ projjhita-kaitavo ’tra paramo nirmatsarāṇāṁ satāṁ
vedyaṁ vāstavam atra vastu śivadaṁ tāpa-trayonmūlanam
śrīmad-bhāgavate mahā-muni-kṛte kiṁ vā parair īśvaraḥ
sadyo hṛdy avarudhyate ’tra kṛtibhiḥ śuśrūṣubhis tat-kṣaṇāt
(Śrīmad-Bhāgavatam, 1.1.2)
[Rejeitando completamente todas as atividades religiosas motivadas materialmente, este Bhāgavata Purāṇa apresenta a mais elevada verdade, que pode ser compreendida por aqueles devotos que são totalmente puros de coração. A mais elevada verdade é a realidade distinta da ilusão, para o benefício de todos. Essa verdade erradica as três misérias materiais. Este belo Bhāgavatam, compilado pelo grande sábio Vyāsadeva (em sua maturidade), é suficiente em si mesmo para a realização de Deus. Qual a necessidade de qualquer outra escritura? Assim que alguém ouve atentamente e com submissão a mensagem do Bhāgavatam, através dessa cultura de conhecimento, o Senhor Supremo se estabelece dentro de seu coração.]
O Srimad Bhagavatam é uma escritura sagrada, livre de qualquer tendência a enganar. Nela, está presente a Verdade Absoluta. Na verdade, quem possui esse nome sagrado de Shiva, que é super excelente e auspicioso, é Krishna Govinda.
Oṁ svasti no govindaḥ svasti no ’cyutānantau… Todos os nomes de Vishnu estão presentes neste Mangala-vacana. Mangala significa bons auspícios.
madhura-madhuram-etan-maṅgalaṃ maṅgalānāṃ
sakala-nigamavallī-sat-phalaṃ cit-svarūpam
sakṛdapi parigītaṃ śraddhayā helayā vā
bhṛguvara naramātraṃ tārayet kṛṣṇa nāma
(Hari-bhakti-vilāsa, Skanda Purāṇa, 11.234)
[O santo nome de Kṛṣṇa é o mais doce entre os doces e a mais auspiciosa de todas as coisas auspiciosas. É o fruto refulgente e belíssimo da árvore dos desejos védica. Ó melhor dos Bhṛgus, quando o santo nome é pronunciado uma única vez sem ofensa, seja com atenção ou sem atenção, ele imediatamente garante a liberação de todos os seres humanos da escravidão da ilusão.]
Hari-nama, os nomes de Krishna são os mais excelentes e auspiciosos — mangala. Krishna e Srimati Radhika deram os Seus próprios nomes aos semideuses e semideusas. Portanto, Shiva significa mangala — auspiciosidade, beleza e pureza. Estamos falando sobre Sadashiva, que está relacionado a vishnu-tattva.
Shiva está sempre com sua shakti, assim como Krishna. Por isso, muitas escrituras chamam Shiva de Isvara e de Bhagavan, porque esse Shiva é Sadashiva, ou seja, ele pertence a vishnu-tattva.
As jivas possuem 50 qualidades, embora diminutas. Os semideuses também possuem 50 qualidades, mas em maior quantidade do que os seres humanos. E Shivaji possui 55 qualidades.
Shiva-tattva é um conceito complexo de entender. Este tattva não é totalmente isvara-tattva, nem maya-tattva, nem jiva-tattva; é shankara-tattva, uma mistura desses três. Por isso, você nunca ouvirá que Shiva abandonou o corpo. Um dos nomes de Shiva é Mrityunjaya, que significa “aquele que conquista a morte”. Se você for em qualquer templo na Índia, irá presenciar o cantar do mantra:
om tryambakaṁ yajāmahe sugandhiṁ puṣṭi-vardhanam
urvārukamiva bandhanān mṛtyor mukṣīya mā’mṛtāt
[Adoramos o Senhor de três olhos, doce e perfumado e que nos eleva em prosperidade. Como o pepino, que se solta do pepineiro sem passar pela morte, posso eu ser libertado dos laços da morte, e não da imortalidade.]
Este é o Mrityunjaya Mantra, e é muito poderoso. Se vocês cantarem esse mantra, ficarão livres de todos os obstáculos.
Erroneamente, as pessoas pensam que Shiva utiliza ganja (maconha) e bhang (uma bebida feita com flores e folhas de cannabis) e acreditam que, por isso, também podem fazer o mesmo. No entanto, o Srimad Bhagavatam traz a evidência de que, se alguém que não está na posição do Senhor Shiva tentar beber veneno, como ele fez, certamente morrerá.
Shivaji é param-vaishnava (o Vaishnava supremo). Como é possível que ele utilize ganja e bhang? Isso é uma questão de bom senso. Sukadeva Gosvamipada concluiu isso neste sloka sobre a rasa-lila:
naitat samācarej jātu
manasāpi hy anīśvaraḥ
vinaśyaty ācaran mauḍhyād
yathārudro ’bdhi-jaṁ viṣam
(Srimad-Bhagavatam, 10.33.30)
[Quem não é um grande controlador jamais deve imitar o comportamento de dirigentes dessa categoria, nem mesmo mentalmente. Se, devido à tolice, um homem qualquer imitar tal comportamento, ele apenas se destruirá, assim como alguém que não seja Rudra se destruiria caso tentasse beber um oceano de veneno.]
Nunca imite Krishna pensando que, por Ele realizar a rasa-lila, você também o pode. Shivaji bebeu o veneno advindo do oceano de leite e o manteve em sua garganta. Por isso, um de seus nomes é Nilakantha (aquele que possui a garganta azul). Nilakantha Mahadeva ki jaya!
Shivaji é um maha-bhagavata (um grande devoto do Senhor). Por um lado, ele engana as pessoas, e por outro, ele dá bênçãos a todos. Por isso, ele é chamado de vaiṣṇavānāṁ yathā śambhuḥ.
Há muitos tipos de Vaishnavas. Aqueles que receberam os vishnu-mantras de um guru são chamados de Vaishnavas; portanto, todos vocês são Vaishnavas.
Aquele que recebe o shiva-mantra é chamado de shaiva; aquele que recebe o surya-mantra é chamado de saura; e aquele que recebe o ganesha-mantra é chamado de ganapata. Contudo, Shivaji recebeu seus mantras de Sankarsana. O Srimad Bhagavatam narra este passatempo na história de Vrtrasura, que, em uma vida anterior, era Citraketu Maharaja.
Citraketu Maharaja abandonou o apego que tinha por sua família e se absorveu completamente em bhajana e sadhana. Ele recebeu diksha-mantras de Sankarsana, assim como Shivaji. Por isso, eles eram irmãos espirituais. Shivaji é um Vaishnava — vaiṣṇavānāṁ yathā śambhuḥ. O Srimad Bhagavatam afirma isso.
O acharya original da Sri Sampradaya é Laksmi-devi. O acharya original da Brahma Sampradaya é Brahmaji. O acharya original da Rudra Sampradaya é o Senhor Shiva. E os acharyas originais da Sanaka Sampradaya são os Quatro Kumaras: Sanaka, Sanandana, Sanatana e Sanatkumara.
Como é possível que um suddha-vaishnava (um Vaishnava puro) beba álcool ou use ganja e bhang? O Srimad Bhagavatam proíbe isso completamente. Shivaji é um param-vaishnava, contudo, ele está fazendo essas lilas (passatempos). Sua vida é totalmente dedicada a servir ao Senhor Vishnu.
Shivaji é muito simples e costuma usar roupas modestas. Ele nos ensina como nos tornarmos renunciados. Ele aplica cinzas em seu corpo para nos lembrar da verdadeira natureza do corpo: um dia, ele se tornará cinzas, ou, se for enterrado, acabará se decompondo e se tornando excremento dos seres decompositores.
Shivaji nos ensina sobre vairagya (renúncia). Ele usa uma guirlanda, mas não de flores perfumadas, e sim de uma flor simples chamada datura, que não possui aroma. Shivaji pensa: “Se eu aceitar flores perfumadas, as pessoas irão oferecê-las a mim em vez de oferecê-las ao meu Senhor, Krishna.” Por essa razão, ele não as aceita.
Shivaji está sempre absorto nos passatempos de Rama e Krishna. Às vezes, ele medita em krishna-lila; outras vezes, em rama-lila. No entanto, na maior parte do tempo, ele medita em rama-lila. Ele compartilha esses passatempos com sua esposa, Parvati-devi.
Certa vez, Shiva estava meditando, completamente absorto em rama-lila. Então, ele sorriu. Parvati-devi perguntou: “Ó meu marido, por que você está sorrindo? O que houve?” Shivaji disse: “Parvati-devi, ouça atentamente. Minha ista-deva (deidade adorável), Ramachandra, está realizando doces lilas em Dandakaranya. A sua consorte, Sita-devi, foi raptada por Ravana. Agora, Ramachandra está chorando e clamando: ‘Site! Site! Site!’, assim como uma pessoa luxuriosa. Estou visualizando essas lilas muito doces em meu transe”.
Parvati-devi disse: “Se sua ista-deva, Ramachandra, é Bhagavan (Deus), como Ravana conseguiu raptar Sua consorte, Sita-devi? Por que Ele não vai até Sri Lanka para resgatá-la?” Shivaji respondeu: “Ó Parvati-devi, isso é uma lila. Dessa maneira, Ele está saboreando diferentes rasas (humores transcendentais).” Mas Parvati-devi respondeu: “Até nós, semideuses, sabemos onde está Sita-devi! Ravana é insignificante para nós”.
Então, Parvati se disfarçou na forma de Sita-devi e foi diante do Senhor Ramachandra para testar se Ele realmente era Bhagavan. Ela tentou chamar Sua atenção diversas vezes, mas Ramachandra a ignorava. Após repetidas tentativas, Ramachandra disse: “Ó Parvati-devi, por que você veio até aqui? Seu esposo, Shivaji, está esperando por você em Kailasa. Volte para lá!” Parvati ficou muito envergonhada e pensou: “Oh, Ramachandra realmente é Bhagavan”.
Quando Parvati-devi voltou para Kailasa, Shivaji perguntou a ela: “Ó Parvati-devi, você fez o teste para verificar se o Senhor Ramachandra é realmente Bhagavan?” E Parvati mentiu, dizendo: “Eu não testei Ele, não…” Então, Shivaji meditou novamente e viu que Parvati havia se disfarçado, assumindo a forma de sua ista-devi, Sita. Por isso, Shivaji a rejeitou.
De acordo com a cultura védica, a esposa sempre se senta ao lado esquerdo do esposo. Mas agora, o asana (assento) de Parvati-devi foi posicionado em frente a Shivaji. Ele disse: “Você se disfarçou na forma de minha ista-devi, Sita. Desse modo, como posso te aceitar como minha esposa?”.
Além disso, Parvati-devi mentiu, portanto, duas ofensas foram cometidas. Por essa razão, Shivaji a rejeitou. Essa história é descrita no Srimad Bhagavatam. Shivaji está relacionado ao guru-tattva. Sob nenhuma circunstância, vocês devem mentir diante do guru. Falem sempre a verdade.
Um outro nome de Shiva é Ashutosh. “Ashu” significa “muito rapidamente”, e “tosh” significa “feliz, satisfeito”. A adoração ao Senhor Shiva é muito fácil, bem como seu mantra: om namah shivaya. Ao recitar este mantra, Shivaji fica muito feliz.
Hoje é um dia muito excelente e auspicioso, então vocês devem oferecer folhas de bael para Shivaji. Se possível, ofereçam também alguns frutos de bael e um pouco de água do Ganges. Dessa maneira, Shivaji ficará satisfeito e dirá: “O que você quer? Eu lhe darei as bênçãos!”.
Diferentes semideuses são adorados de diferentes maneiras. Para adorar o Senhor Shiva, você precisa de duas coisas: folhas de bael e ganga-jal (água do Ganges). Isso deixará Shivaji muito contente. Ofereçam especialmente as folhas de bael. À meia-noite, os devotos adoram o Senhor Shiva com essas folhas.
Certa vez, uma garota conseguiu uma fruta de bael bem madura. No entanto, ela queria comê-la, pois estava bem doce. Se vocês forem a Navadvipa, conhecerão essa fruta. Por fora, ela é bem dura, mas por dentro, é bem macia e doce. Essa garota estava pensando em como abrir a fruta para comê-la, e neste dia, era Shiva-chaturdashi, o aniversário do Senhor Shiva. Então, ela viu uma shiva-lingam e decidiu bater a fruta de bael nela, partindo a fruta ao meio. De repente, Shivaji se manifestou da shiva-lingam e disse: “Peça por qualquer benção e eu lhe concederei!”. Por essa razão, na Índia, hoje as pessoas estão oferecendo frutos de bael para Shiva, pois ele adora essa fruta.
Certo dia, um ladrão passou o dia inteiro sem conseguir roubar nada. Então, decidiu ir até um templo de Shiva. Nesses templos, há um pote de água suspenso acima da shiva-lingam, permitindo que gotas caiam continuamente sobre ela. Após o término da adoração a Shiva, que aconteceu à meia-noite, todos foram para casa, deixando o templo vazio. O ladrão, lembrando-se de que não havia conseguido roubar nada durante o dia, notou o pote de cobre pendurado no teto, que imediatamente chamou sua atenção.
O pote estava um pouco longe, então ele subiu na shiva-lingam para alcançá-lo. Naquele momento, Shivaji pensou: “Hoje é meu aniversário, e muitos devotos me ofereceram diversos presentes. Mas até agora, ninguém se ofereceu a si mesmo. Oh, ele se entregou completamente a mim!” Então, manifestando-se da shiva-lingam, Shivaji disse: “Peça qualquer bênção, e eu lhe concederei!”.
O ladrão, tomado pelo medo, pensou que Shivaji fosse castigá-lo. Mas Shivaji o tranquilizou: “Não, não! Eu não irei castigá-lo! Hoje é meu aniversário, e você se ofereceu a mim. Por isso, peça qualquer bênção, e eu a concederei!”.
Então, o ladrão pediu dinheiro, e Shivaji respondeu: “Muito bem, estou lhe concedendo o tesouro dos céus, Svarga-loka.” No nascimento seguinte, aquele ladrão renasceu como Dana Kuvera, o tesoureiro dos planetas celestiais. Vejam como Shivaji é generoso.
No entanto, Shiva concede bênçãos materiais e engana vocês. No Srimad Bhagavatam, Pariksit Maharaja pergunta: “Por que os devotos do Senhor Vishnu são muito pobres, e os devotos do Senhor Shiva são muito ricos?” Com uma mão, o Senhor Shiva está concedendo bens materiais, e com a outra, ele está concedendo krishna-prema. O que vocês querem?
Neste mundo material, o dinheiro é muito desejado, mas a riqueza é a origem de todo tipo de sofrimento e infelicidade. Casamento, riqueza, nome, fama e reputação perturbam a mente. Externamente, alguém pode parecer muito feliz, mas, na realidade, não está.
Ravana era muito rico, mas não era feliz. As escrituras explicam que a riqueza é uma fonte de sofrimento e aflição. Além de ser difícil obtê-la, também é difícil protegê-la. Vocês trabalham arduamente para ganhar dinheiro, mas, quando ele está em seus bolsos, podem se tornar alvos de ladrões, que podem até tentar matá-los ou sequestrá-los.
No entanto, se vocês obterem krishna-prema, serão felizes. Mahaprabhu disse: “Neste mundo material, as pessoas ganham dinheiro, mas isso é a causa de sofrimento e infelicidade”.
Um brahmachari (monge celibatário) pode pensar que a vida de casado é muito doce. Há um provérbio que diz: “Aquele que já comeu o laddu de Delhi se arrepende, e quem nunca comeu também se arrepende.” Os brahmacharis acreditam que a vida de casado é boa. Eu não tenho experiência prática nisso, mas vocês têm. Há muitas preocupações, sofrimentos e aflições.
Ainda assim, por que as pessoas escolhem esse caminho? Isso acontece devido à influência dos três gunas (modos da natureza) de maya (a energia ilusória de Deus).
śrī-bhagavān uvāca
kāma eṣa krodha eṣa
rajo-guṇa-samudbhavaḥ
mahāśano mahā-pāpmā
viddhy enam iha vairiṇam
(Bhagavad-gita, 3.37)
[A Suprema Personalidade de Deus disse: “Ó Arjuna, é apenas a luxúria, que nasce do contato com o modo material da paixão e posteriormente se transforma em ira, sendo o inimigo pecaminoso e devorador deste mundo.”]
Eu e vocês sabemos que vocês não querem se casar, mas os três gunas de maya os estão forçando a isso.
daivī hy eṣā guṇa-mayī
mama māyā duratyayā
mām eva ye prapadyante
māyām etāṁ taranti te
(Bhagavad-gītā, 7.14)
[Esta Minha energia divina, que consiste dos três modos da natureza material, é difícil de ser suplantada. Mas aqueles que se renderam a Mim podem facilmente transpô-la.]
Na Bhagavad-gita, Krishna explica isso. Todos querem felicidade, mas não sabem onde encontrá-la. Vocês pensam que, ao se casarem, serão felizes com o cônjuge, filhos e os demais membros da família, mas ninguém está feliz.
O homem pobre pensa que quem é rico, é feliz. O homem rico pensa que quem é rei, é feliz. O rei pensa que o rei dos céus, Indra, é feliz. Indra pensa que quem é feliz é Brahmaji. Mas Brahmaji afirma que não é feliz. Ele diz: “Feliz é aquele que canta os santos nomes”.
Cantem os santos nomes e sejam felizes! Sem cantar os santos nomes, não é possível alcançar a felicidade. No entanto, isso não significa que estou dizendo para não se casarem — esse não é o meu ponto. A decisão de se casar ou não cabe a cada um de vocês, pois isso acontecerá de acordo com os gunas de maya.
Os shastras explicam que o nosso objetivo principal não é sobre se casar ou não — ser um brahmachari ou um grhastha — mas sim sobre como cantar os santos nomes e ser feliz. Essa é a conclusão.
kibā vipra, kibā nyāsī, śūdra kene naya
yei kṛṣṇa-tattva-vettā, sei ‘guru’ haya
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Madhya-līlā, 8.128)
[Seja alguém um brāhmaṇa, um sannyāsī ou um śūdra — independentemente do que seja — ele pode se tornar um mestre espiritual se conhecer a ciência de Kṛṣṇa.]
jñāne prayāsam udapāsya namanta eva
jīvanti san-mukharitāṁ bhavadīya-vārtām
sthāne sthitāḥ śruti-gatāṁ tanu-vāṅ-manobhir
ye prāyaśo ’jita jito ’py asi tais tri-lokyām
(Śrīmad-Bhāgavatam, 10.14.3)
[Aqueles que, mesmo permanecendo em suas posições sociais estabelecidas, descartam o processo de conhecimento especulativo e, com seu corpo, palavras e mente, oferecem todos os respeitos às descrições de Sua personalidade e atividades, dedicando suas vidas a essas narrações, que são vibradas por Você pessoalmente e por Seus devotos puros, certamente conquistam Sua Senhoria, embora Você seja inconquistável por qualquer um dentro dos três mundos.]
gṛhe thāko vane thāko,
'hā gaurāṅga' bo'le ḍāko
(Gāy Gorā Madhur Svare, verso 2, de Srila Bhaktivinoda Thakura)
[Seja você um chefe de família ou um sannyasi, cante constantemente: "Ha, Gauranga!"]
Hare Krishna Hare Krishna
Krishna Krishna Hare Hare
Hare Rama Hare Rama
Rama Rama Hare Hare
Portanto, às vezes, Shivaji engana as pessoas, e às vezes, ele concede prema.
Havia um jovem cego que adorava o Senhor Shiva por muitos anos. Certa vez, Shivaji se manifestou da shiva-lingam e disse: “Você me adorou por muitos anos, então peça uma bênção, e eu a concederei — apenas uma bênção, não mais do que isso.” O jovem cego desejava quatro coisas: riqueza, casamento, um filho e voltar a enxergar. No entanto, Shivaji estava determinado em sua decisão e ofereceu apenas uma bênção.
O jovem, sendo muito astuto, respondeu: “Ó Senhor Shiva, se você está satisfeito comigo, permita-me ver meu filho sentado nas costas de um elefante, tomando prasada com uma colher de ouro.” E Shivaji lhe concedeu a bênção. Assim, o jovem recebeu as quatro bênçãos de uma só vez, pois sem se casar, ele não poderia ter um filho; sem recuperar a visão, ele não poderia ver o filho; e sentar nas costas de um elefante e tomar prasada com uma colher de ouro significava que ele teria muita riqueza.
O Senhor Shiva é muito esperto. Se vocês desejarem bens materiais, ele irá lhes conceder. Contudo, vocês devem desejar apenas krishna-bhakti e krishna-prema. Se desejarem matrimônio, riqueza e filhos, lembrem-se que tudo isso é temporário. Mas se obterem krishna-bhakti e krishna-prema, irão para Goloka Vrindavana. Portanto, por um lado, Shivaji engana as pessoas, e por outro, se vocês se renderem completamente a ele, receberão krishna-prema.
Os membros da família de Shivaji são diferentes entre si, mas vivem juntos em harmonia. Shivaji tem uma cobra ao redor de seu pescoço. Seu filho Ganesha é montado por um rato, e o rato e a cobra são inimigos naturais — se a cobra ver o rato, ela o matará. O outro filho de Shiva, Kartikeya, é montado por um pavão, e a cobra e o pavão também são inimigos. No entanto, todos convivem juntos pacificamente, porque Shivaji está sempre cantando os santos nomes.
Hare Krishna Hare Krishna
Krishna Krishna Hare Hare
Hare Rama Hare Rama
Rama Rama Hare Hare
Mesmo que existam diferenças entre os membros de sua família, se cantarem os santos nomes, não haverão brigas. O Senhor Shiva nos ensina que, pelo cantar dos santos nomes, qualquer mau auspício irá desaparecer de seus corações. Dessa forma, todos podem viver juntos e fazer bhajana e sadhana com amor e afeição.
Certa vez, o Senhor Shiva foi até a morada do Senhor Vishnu. Shivaji sempre está com uma cobra em seu pescoço, e Garuda, que é uma água, é responsável por carregar Vishnu.
Shiva e Vishnu estavam conversando, mas quando a cobra viu Garuda, ela ficou enfurecida e tentou atacá-lo. A natureza da cobra é arrumar problemas. Com ou sem razão, a cobra irá picar. Então, Garudaji disse: “Cobra, não te falarei nada, pois você está no pescoço de Shivaji, mas se você sair daí, você vai se ver comigo!”.
Quando seus cachorros estão dentro do portão e desconhecidos passam pela rua, eles latem e pulam, enfurecidos. No entanto, se esses mesmos cachorros são soltos para fora do portão, eles se tornam muito mansos. Isso acontece porque os cachorros sabem que, por estarem dentro da casa de seus donos, estão seguros. Da mesma maneira, a cobra sabia que estava completamente segura ao redor do pescoço de Shivaji, e por isso, ela tentava atacar Garuda.
As lilas de Shivaji são muito doces. Ele está sempre se lembrando dos passatempos de Krishna, porque ele é um maha-bhagavata (um grande devoto do Senhor).
Apesar de possuírem humores diferentes, os membros da família do Senhor Shivaji são muito doces e estão sempre juntos, sem brigas. Isso ocorre porque Shivaji realiza bhajana e sadhana. Aqueles que não fazem bhajana e sadhana estão sempre brigando uns com os outros. Mas não é preciso brigar. Cantem os santos nomes!
Hare Krishna Hare Krishna
Krishna Krishna Hare Hare
Hare Rama Hare Rama
Rama Rama Hare Hare
Quer vocês vivam no templo ou em suas casas, cantem os santos nomes, assim, os problemas não surgirão. E se algum problema surgir, eles serão resolvidos automaticamente. Esse é o processo.
Shiva-tattva é muito doce, e há muitos passatempos sobre ele. Podemos glorificar shiva-tattva durante a noite inteira. O Senhor Shiva está sempre com o Senhor Rama e o Senhor Krishna. Especialmente na lila de Mahaprabhu, o Senhor Shiva, como Sadashiva, apareceu na forma de Advaita Acharya. Mahaprabhu disse: “Ó Shiva, você deve me ajudar na pregação de nama-sankirtana”.
Shivaji satisfaz todos os desejos de Krishna. Especialmente, Shiva pregou a filosofia mayavada (impersonalista). Ele fez isso porque Krishna ordenou: “Shivaji, pregue a filosofia mayavada. Assim, as pessoas continuarão neste mundo material e a população continuará aumentando”.
māyāvādam asac-chāstraṁ
pracchannaṁ bauddham ucyate
mayaiva vihitaṁ devi
kalau brāhmaṇa-mūrtinā
(Padma Purāṇa, Uttara-khaṇḍa, 25.7)
[O Senhor Śiva informou à deusa Durgā, a superintendente do mundo material: “Na Era de Kali, assumo a forma de um brāhmaṇa e explico os Vedas por meio de escrituras falsas de uma forma ateísta, semelhante à filosofia budista.”]
A filosofia mayavada é um budismo disfarçado. De acordo com as circunstâncias, a filosofia de Shankara era necessária. Srila Bhaktivinoda Thakura, no Jaiva-dharma, explica que, na verdade, Shankaracharya estabeleceu a base para a pregação do vaishnava-dharma. Portanto, nunca devemos criticá-lo.
Antes da vinda de Shankaracharya, a maioria das pessoas seguia o budismo e era completamente ateísta. Mas Shankaracharya estabeleceu que o budismo é niilista, pois eles dizem que tudo advém do zero e retorna ao zero. No entanto, isso não é verdade. Tudo advém de algum lugar. Você possui um pai, e por isso, seu corpo foi criado. Você não caiu do céu. O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, e a Bíblia também explica isso. O Senhor é o nosso verdadeiro Pai. O nosso corpo advém de Deus, e Ele possui uma forma. No entanto, quem é niilista acredita que tudo advém do zero.
Shankaracharya estabeleceu que Brahma é a Verdade Absoluta, e que tudo se manifesta Dele.
yato vā imāni bhūtāni jāyante, yena jātāni jīvanti,
yat prayanty abhisaṁviśanti, tad vijijñāsasva tad brahma
(Taittirīya Upaniṣad, 3.1.1)
[Tudo é criado por Brahma, após a criação tudo é mantido por Brahma, e após a aniquilação tudo é conservado em Brahma.]
O que quer que você olhe no mundo material ou transcendental, advém de Brahma. Tudo é criado, nutrido e destruído por Ele — sṛṣṭi-sthiti-pralaya — e todas as atividades Dele são transcendentais.
na tasya kāryaṁ karaṇaṁ ca vidyate
na tat-samaś cābhyadhikaś ca dṛśyate
parāsya śaktir vividhaiva śrūyate
svābhāvikī jñāna-bala-kriyā ca
(Śvetāśvatara Upaniṣad, 6.8)
[O Senhor Supremo não tem nada a fazer, e ninguém é considerado igual ou maior do que Ele, pois tudo é feito natural e sistematicamente por Suas energias multifacetadas.]
Os Upanishads explicam que tudo é uma manifestação de Brahma. De onde vem o ar, a água e o oxigênio? Os cientistas não podem criar esses elementos, pois eles se manifestam do Senhor Vishnu. Tudo é mantido pelo Senhor, e quando chegar o momento certo, tudo será destruído por Ele.
Pela potência de apenas um único Senhor Supremo, tudo é criado, nutrido e destruído. E todas as Suas atividades são difíceis de compreender com nossos cérebros materiais.
na tasya kāryaṁ karaṇaṁ ca vidyate
na tat-samaś cābhyadhikaś ca dṛśyate
parāsya śaktir vividhaiva śrūyate
svābhāvikī jñāna-bala-kriyā ca
(Śvetāśvatara Upaniṣad, 6.8)
[O Senhor Supremo não tem nada a fazer, e ninguém é considerado igual ou maior do que Ele, pois tudo é feito natural e sistematicamente por Suas energias multifacetadas.]
Shankaracharya estabeleceu essa filosofia sobre Brahma, mas seus seguidores não compreenderam o âmago de seu coração. Assim, eles pregaram a filosofia mayavada. Srila Bhaktivinoda explica que Shankaracharya não tem culpa disso, porque ele é um Vaishnava, e como é possível que um Vaishnava possua falhas? Shankaracharya é o próprio Shivaji.
Os seguidores de Shankaracharya não compreenderam adequadamente sua filosofia, e por isso, eles diziam que há apenas uma Verdade Absoluta, que é Brahma, e o que quer que você olhe neste mundo, é completamente falso.
Se vocês olhassem para os seus pais, por exemplo, de acordo com essa filosofia, eles seriam falsos. E se vocês olhassem para o próprio corpo, isso também seria falso. Então, isso quer dizer que o que eles estão afirmando também é falso! Srila Bhakti Prajnana Keshava Gosvami Maharaja deu essa evidência.
O último verso que Shankaracharya compôs foi:
bhaja gōvindaṃ bhaja gōvindaṃ
gōvindaṃ bhaja mūḍhamatē
“Ó, tolo! Por que você está dizendo que é Brahma? Você não é Brahma! Cante os santos nomes!” Sem cantar o nome de Govinda, vocês nunca alcançarão a felicidade. Como é dito em nossa filosofia gaudiya: cantem os santos nomes e sejam felizes!
Hare Krishna Hare Krishna
Krishna Krishna Hare Hare
Hare Rama Hare Rama
Rama Rama Hare Hare
Há muitas histórias e tattva-siddhanta sobre Shivaji. Todos prestem seus respeitos ao Senhor Shivaji, porque ele é um param-vaishnava e um uttama-maha-bhagavata. Ele está sempre absorto em krishna-katha e rama-katha. Para reconhecer um Vaishnava, basta observar que ele está sempre cantando os santos nomes e está absorto em krishna-katha e rama-katha. Portanto, hoje, neste dia super excelente e auspicioso, oramos aos pés de lótus do Senhor Shiva.
[Shiva-maha-ratri ki jaya!
Srila Gurudeva ki jaya!
Nitai Gaura Premanande!
Hari Haribol!]
Transcrição: Siddesvari Devi Dasi e Madhava Dasa
Edição e revisão: Taruni Gopi Dasi
Colaboração: Madana Gopal Dasa, Premananda Dasa (Espanha) e Vrndavana Chandra Dasa