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Rāma-navamī

  • Foto do escritor: Vana Madhuryam Brasil
    Vana Madhuryam Brasil
  • 6 de abr.
  • 22 min de leitura

Atualizado: 7 de abr.


Śrīla Bhaktivedanta Vana Gosvāmī Mahārāja

28 de março de 2015, Skype


Hoje é um dia excelente e auspicioso pois é o dia do advento do Senhor Rāmacandra. Ele é conhecido como maryādā-puruṣottama (o Ser Supremo que estabelece a conduta ideal) porque segue todas as regras e regulações das escrituras e da sociedade. O Senhor Rāmacandra nos ensina como nós podemos nos tornar seres humanos perfeitos.


Um ser humano perfeito é aquele que segue todas as regras e regulações da sociedade e pratica a espiritualidade. Sem vida espiritual, não podemos dizer que somos verdadeiramente seres humanos. Os animais estão apenas dedicados a quatro atividades: comer, dormir, se defender e se acasalar. Da mesma forma, os seres humanos também realizam essas ações. No entanto, um verdadeiro ser humano é aquele que também busca e indaga sobre a vida espiritual.


O Senhor Rāmacandra estabeleceu o varṇāśrama-dharma (o princípio regulativo dos quatro varṇas e dos quatro āśramas). Em nossos Purāṇas, inclusive, é dito:


varṇāśramācāra-vatā

 puruṣeṇa paraḥ pumān 

viṣṇur ārādhyate panthā 

nānyat tat-toṣa-kāraṇam


 Śrī Caitanya-caritāmṛta (Madhya-līlā 8.58)


[A Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Viṣṇu, é adorado pela execução adequada dos deveres prescritos no sistema de varṇa e āśrama. Logo, é preciso situar-se na instituição das quatro varṇas e āśramas. Não há outra maneira de satisfazer a Suprema Personalidade de Deus.]


O Senhor Viṣṇu fica satisfeito com quem segue as regras e regulações do varṇāśrama-dharma. Na Śrīmad Bhagavad-gītā, Kṛṣṇa diz para Arjuna: 


cātur-varṇyaṁ mayā sṛṣṭaṁ

guṇa-karma-vibhāgaśaḥ

tasya kartāram api māṁ

viddhy akartāram avyayam


Bhagavad-gītā (4.13)


[As quatro divisões da sociedade humana são criadas por Mim em conformidade com os três modos da natureza material e a ocupação a eles relacionada. Mas apesar de ser o criador desse sistema, você deve saber que Eu continuo sendo aquele que não age, pois Sou imutável.]


Kṛṣṇa manifestou as quatro castas (varṇas) e as quatro ordens de vida (āśramas), que são: brāhmaṇa, kṣatriya, vaiśya e śūdra (castas); brahmacarya, gṛhastha, vānaprastha e sannyāsa (ordens de vida). A casta e a ordem de vida — varṇa e āśrama — de uma dada pessoa é definida por suas qualidades. Isso é o que se denomina daiva-varṇāśrama


O Senhor Rāmacandra nos ensinou a seguir o varṇāśrama-dharma e destruiu a filosofia dos asuras (demônios), que se caracteriza pela falta de fé no Senhor e pelo completo ateísmo. Ṛṇaṁ kṛtvā ghṛtaṁ pibet yāvaj jīvet…, a filosofia demoníaca consiste em viver indisciplinadamente, perturbando os outros conforme os seus caprichos apenas para satisfazer os próprios sentidos. De acordo com essa filosofia, se alguém não tem dinheiro, pode enganar os outros ou pegar emprestado sem intenção de devolver, pois não existe fé na vida espiritual — essa é a concepção demoníaca. Por isso, o Senhor Rāmacandra destruiu esses demônios, derrotando Rāvaṇa — o mais poderoso entre eles — e seus companheiros (parikaras).


Vālmīki Ṛṣi manifestou o Rāmāyaṇa


No Rāmāyaṇa, ārya é estabelecido e anārya é erradicado. Ārya é o caminho daqueles que seguem as regras e regulamentos das escrituras e praticam bhājana (adoração) e sādhana (práticas espirituais) para o Senhor. Já o caminho de anārya é trilhado por aqueles que são completamente ateístas, que vivem para o desfrute dos sentidos e perturbam os outros.


Vālmīki Ṛṣi manifestou o Rāmāyaṇa pela misericórdia imotivada de Nārada Ṛṣi e Brahmājī. Antes de se encontrar com Nārada Ṛṣi, ele era filho de um brāhmaṇa chamado Cavana Ṛṣi, e naquela época, ele se chamava Ratnākara. Ele estava envolvido com pessoas mundanas e havia se tornado um bandido, sendo essa a maneira pela qual sustentava a sua vida. Porém, a sua vida foi transformada quando Nārada Ṛṣi se encontrou com ele.


Vālmīki Ṛṣi recitou os santos nomes ao contrário. Sendo um pecador, ele não conseguia pronunciar diretamente o nome sagrado de Rāma. Então, Nārada Ṛṣi o instruiu a entoar “mara-mara-mara”, pois, dessa forma, ele acabaria cantando "Rāma" automaticamente. Na escritura sagrada Rāmacaritamānasa, Tulasī Dāsa glorificou Vālmīki Ṛṣi:


ulṭa nāma japata jaga jānā 

vālmīki bhaye brahma-samānā


Śrī Tulasī dāsa


[Embora o bandido tenha recitado o nome de Rāma de trás para frente, ele se tornou o mais elevado dos devotos, Vālmīki.]


Nesse verso, Tulasī Dāsa glorificou o poder dos santos nomes. 


Por milhares de anos, Vālmīki cantou os santos nomes de Rāma. Como seu corpo ficou coberto por formigas, as quais construíram um formigueiro (valmīka, em sânscrito) sobre ele, acabou que do seu corpo restaram apenas os ossos. 


Os semideuses, vendo aquilo, enviaram chuvas fortes, removendo assim toda a terra de seu corpo. Então, pela misericórdia do Senhor, ele recobrou a sua consciência. Como seu corpo havia sido coberto pelo formigueiro, valmīka, ele passou a ser conhecido como Vālmīki Ṛṣi.


Certa vez, enquanto tomava banho no rio Tamasā, Vālmīki Ṛṣi viu um casal de pássaros apaixonados, conhecidos como krauñca-pakṣi. Mas de repente, um caçador deu um tiro que acabou matando o pássaro macho. A fêmea, chorando, muito triste, olhou na direção de Vālmīki Ṛṣi. Com o coração tomado por amor e compaixão, a se derreter, ele amaldiçoou o caçador:


mā niṣāda pratiṣṭhāṁ tvam agamaḥ śāśvatīḥ samāḥ

yat krauñca-mithunād ekam avadhīḥ kāma-mohitam


Rāmāyaṇa (1.2.15)


[Ó caçador, que você nunca alcance uma posição fixa de prazer pelos incontáveis anos que virão, pois você matou um dos pássaros krauñcas que estava absorto no ato do acasalamento!]


Esse verso significa: "Ó caçador, você matou um dos pássaros krauñca sem motivo, e isso é uma ofensa (aparādha). Por causa disso, ao longo de toda a sua vida, você jamais encontrará a felicidade."


Depois que esse śloka (verso) surgiu de sua língua, Vālmīki Ṛṣi retornou ao seu āśrama (eremitério) com a mente muito perturbada. Ele estava pensando: "Eu sou um sādhu (santo), por que estou absorto em questões materiais? Neste mundo material, todos os seres vivos sofrem ou desfrutam de acordo com o fruto de suas ações, o karma. Isso se chama sukha e duḥkha, felicidade e tristeza. Como um sādhu, por que estou me envolvendo com esses pássaros?"


Nesse meio tempo, Brahmājī se manifestou em seu coração e disse: "Ó Vālmīki Ṛṣi, não se preocupe. Na verdade, por meio de Yogamāyā, esse śloka se manifestou de sua boca. Nele você também revelou toda a história de Rāmacandra, o Rāmāyaṇa. O caçador é a personificação de Rāvaṇa, e o casal de pássaros krauñca-pakṣi representa Sītā e Rāma. Rāvaṇa sequestrou Sītā Devi. Foi assim que você manifestou o Rāmāyaṇa.” 


Pela misericórdia imotivada de Nārada Ṛṣi e de Brahmājī, Vālmīki Ṛṣi compreendeu todo o Rāmāyaṇa em seu coração e o manifestou na forma original, escrito em versos sânscritos, no alfabeto devanagari.


O Senhor Rāmacandra advém na dinastia solar


No Śrīmad-Bhāgavatam, Śukadeva Gosvāmīpada contou a Parīkṣit Mahārāja sobre as duas dinastias: candra-vaṃśa (a dinastia da Lua) e sūrya-vaṃśa (a dinastia do Sol).


śrī-rājovāca

kathito vaṁśa-vistāro

bhavatā soma-sūryayoḥ

rājñāṁ cobhaya-vaṁśyānāṁ

caritaṁ paramādbhutam


Śrīmad-Bhāgavatam (10.1.1)


[O rei Parīkṣit disse: Meu querido senhor, descreveste elaboradamente as dinastias do deus da Lua e do deus do Sol, com o sublime e maravilhoso caráter dos seus reis.]


O Senhor Rāmacandra advém na dinastia do Sol, enquanto o Senhor Kṛṣṇa advém na dinastia da Lua. As līlās (passatempos) de Kṛṣṇa e Rāma são belíssimas e atraentes.


No Śrīmad-Bhāgavatam, Śukadeva Gosvāmī também glorificou brevemente a narrativa dos passatempos de Rāma (rāma-līlā-kathā). Na dinastia do deus do Sol, havia um rei muito forte chamado Ikṣvāku, e na dinastia de Ikṣvāku, havia um rei muito piedoso chamado Raghu. O Senhor Rāmacandra adveio nessa dinastia de Raghu, e por isso, Ele também é chamado de Raghava. Ao longo dessa dinastia, outros reis se sucederam, e finalmente, Daśaratha Mahārāja nasceu. Rāmacandra é filho de Daśaratha Mahārāja, e por essa razão, Ele também é chamado de Daśārathi.


A história de Daśaratha Mahārāja


O nome Daśaratha significa que ele conquistou as 10 direções com sua śakti (potência). Ele recebeu esse nome porque a sua carruagem se deslocava por todas as direções. 


Daśaratha Mahārāja era um rei muito poderoso. Conforme explica o Rāmāyaṇa, em sua juventude, ele caçava animais na floresta, sendo perito em arqueria. Sem olhar para os animais, apenas ouvindo os sons, ele conseguia mirar e atirar. Isso se chama śabda-bāṇa — a habilidade do arqueiro de atirar flechas apenas ouvindo o som, sem precisar ver o alvo, pois śabda significa “som”, e bāṇa significa “flecha”.


Certa noite, Daśaratha Mahārāja foi caçar na floresta. Naquele momento, o filho de um ṛṣi cego estava coletando água do rio em uma jarra. O som da água sendo coletada se assemelhava ao de um veado bebendo água. Assim, pensando se tratar de um veado, Daśaratha Mahārāja, utilizando a sua habilidade de śabda-bāṇa, atirou no filho do ṛṣi cego.


O menino, ferido, sofreu intensamente. Mas quando Daśaratha Mahārāja se aproximou e viu aquela cena, ele ficou muito surpreso e sem saber como agir. Antes de falecer, o menino disse que seus pais estavam com muita sede e que a água precisava ser levada até eles. Dessa forma, ele abandonou o seu corpo.


Daśaratha Mahārāja levou o cadáver do filho, juntamente com a jarra de água, até os pais dele. Enquanto isso, os pais cegos aguardavam o retorno de seu filho. Quando Daśaratha Mahārāja chegou ao local, seu corpo começou a tremer. Ele permaneceu em silêncio, e os pais, acreditando que era o filho quem havia chegado, perguntaram: “Por que você está atrasado? Estava brincando em algum lugar? Não se preocupe. De qualquer forma, nos dê água, pois estamos com muita sede.” Como Daśaratha Mahārāja não respondeu, os pais perguntaram novamente: “Por que você está preocupado? Não se aflija. Você é nossa vida e alma. Por favor, nos dê água.”


Naquele momento, Daśaratha Mahārāja disse: “Ó ṛṣi, eu não sou seu filho. Sou o rei de Ayodhyā e meu nome é Daśaratha. Infelizmente, minha flecha atingiu seu filho, pois atirei apenas a partir do som (śabda-bāṇa) que ele emitiu. Assim, fiz um mau uso da minha habilidade de arqueria. Eu trouxe o cadáver do seu filho e a água. Primeiro, bebam a água.”


Os pais disseram: “Você matou nosso filho. Como podemos beber a água que veio de suas mãos?” Eles ficaram muito aborrecidos e choraram. Por fim, eles amaldiçoaram Daśaratha, dizendo: “Daśaratha, você não sabe como estamos sofrendo com a saudade de nosso filho. Por isso, também estamos prestes a abandonar nossos corpos. Da mesma forma, você também sofrerá com a saudade de seu filho.” Com isso, os pais cegos abandonaram o corpo, e Daśaratha Mahārāja ficou devastado.


Naquela época, Daśaratha Mahārāja ainda era jovem. Mais tarde, ele se casou com 360 rainhas. Muitos anos se passaram, e ele acabou se esquecendo dessa conversa com os ṛṣis. No entanto, o karma está sempre presente. Seja bom ou ruim, o karma estará sempre com você e jamais será destruído — você precisará enfrentar as consequências de seus karmas anteriores. No entanto, Daśaratha Mahārāja esqueceu a má ação de ter matado o filho dos ṛṣis cegos.


Muitos anos se passaram, e Daśaratha Mahārāja estava aborrecido por não ter filhos. Nossos śāstras explicam que ele tinha uma filha chamada Śāntā, a qual foi dada em doação ao rei Romapāda. Esse rei a adotou como sua própria filha. Quando Śāntā cresceu, o rei Romapāda a casou com Ṛśyaśṛṅga Ṛṣi. Todos esses detalhes estão mencionados no Rāmāyaṇa.


Daśaratha Mahārāja perguntou a seu gurudeva como poderia ter um filho, pois já estava em idade avançada e não havia ninguém para sucedê-lo como rei de Ayodhyā após sua partida. Então Vasiṣṭha Ṛṣi disse: "Você deve realizar um yajña (sacrifício) para gerar um filho." Em sânscrito, esse sacrifício é chamado de putreṣṭi-yajña.


Kausalyā, Kaikeyī e Sumitrā, as três rainhas mais proeminentes de Daśaratha Mahārāja, disseram a seu gurudeva: "Por que tanta demora? Gurudeva, você pode realizar esse putreṣṭi-yajña." Porém, Vasiṣṭha Ṛṣi respondeu: "Eu não posso realizar esse tipo de yajña. Seu genro, Ṛśyaśṛṅga Ṛṣi, pode fazê-lo. Convoquem-no, e ele realizará o sacrifício." Daśaratha Mahārāja então orou humildemente aos pés de lótus de Ṛśyaśṛṅga Ṛṣi, o qual, por sua vez, veio até Ayodhyā e realizou o sacrifício de fogo destinado à concepção de filhos.


Desse sacrifício, adveio um tipo de arroz doce especial (que se chama caru, em sânscrito). Daśaratha Mahārāja deu metade desse arroz doce para a sua rainha proeminente, Kausalyā. A outra metade, ele deu para Kaikeyī. Mais tarde, quando Sumitrā chegou, ela recebeu metade das porções de Kausalyā e de Kaikeyī. Assim, depois de comerem esse arroz doce especial (caru), todas elas ficaram grávidas. Alguns meses depois, elas deram à luz a quatro filhos.


Os príncipes de Ayodhyā


Kausalyā deu à luz ao Senhor Rāma; Kaikeyī deu à luz a Bharata; e Sumitrā deu à luz a Lakṣmaṇa e Śatrughna. Esses quatro filhos cresceram juntos, assim como cresce a lua na quinzena brilhante. 


Após alguns anos, Daśaratha Mahārāja os colocou no āśrama de Vasiṣṭha Ṛṣi. De acordo com a cultura védica, deve-se ir para o āśrama do guru (gurukula) para aprender todos os śāstras, Vedas, Purāṇas e Upaniṣads. Para os kṣatriyas (guerreiros), por exemplo, é essencial aprender todas as modalidades de arqueria. Dessa forma, Vasiṣṭha Ṛṣi transmitiu todo o conhecimento (vidyā) aos quatro filhos de Daśaratha. Rāma, Bharata, Lakṣmaṇa e Śatrughna, tendo se tornado peritos no que aprenderam de seu guru, retornaram ao palácio de Ayodhyā.


Após alguns meses, Viśvāmitra Ṛṣi chegou a Ayodhyā e pediu a Daśaratha Mahārāja: “Por favor, conceda-me seus dois filhos, Rāma e Lakṣmaṇa, pois eles são muito poderosos. Eles precisam vir ao meu āśrama, pois alguns demônios estão perturbando a realização do meu sacrifício de fogo.” Em especial, a demônia chamada Tāṭakā era quem mais estava causando problemas no āśrama dos ṛṣis.


O corpo de Daśaratha Mahārāja começou a tremer ao pensar em como poderia entregar seus filhos, Rāma e Lakṣmaṇa, a Viśvāmitra Ṛṣi, pois eles eram a razão de sua vida. Daśaratha Mahārāja então disse que permitiria que ele levasse seus dois filhos, mas acabou entregando Bharata e Śatrughna ao ṛṣi.


Enquanto Viśvāmitra Ṛṣi seguia com Bharata e Śatrughna, ele resolveu testá-los para verificar se realmente eram Rāma e Lakṣmaṇa. Ele disse: “Escutem, príncipes. Se vocês seguirem o caminho mais curto, será muito mais fácil e rápido chegar ao meu āśrama. Porém, nesse caminho, vocês encontrarão alguns demônios e terão que lutar com eles. Há, no entanto, uma rota alternativa, mais calma e tranquila, onde ninguém os perturbará.” Os irmãos responderam: “Por que arriscar seguir o caminho mais curto e encontrar demônios? É melhor irmos pelo caminho calmo, sem perturbações.” Ao ouvir isso, Viśvāmitra percebeu que eles não eram Rāma e Lakṣmaṇa.


Eles acabaram retornando a Ayodhyā, e Viśvāmitra reclamou com Daśaratha Mahārāja: "Eu pedi seus filhos Rāma e Lakṣmaṇa, mas você me deu Bharata e Śatrughna." Daśaratha Mahārāja ficou aborrecido com aquilo, pensando em como poderia entregar seus filhos Rāma e Lakṣmaṇa a Viśvāmitra, pois Rāmacandra, acima de tudo, era como o coração e a alma de seu pai.


Vasiṣṭha Ṛṣi aconselhou Daśaratha Mahārāja, dizendo: “Se Viśvāmitra deseja levar seus filhos, deve haver uma razão. Algo auspicioso irá advir disso. Não se preocupe, você deve entregar a ele os seus filhos, Rāma e Lakṣmaṇa.” Seguindo a orientação de seu gurudeva, Vasiṣṭha, Daśaratha Mahārāja entregou seus dois filhos, Rāma e Lakṣmaṇa, a Viśvāmitra, o qual os levou, assim, para o seu āśrama.


A demônia Tāṭakā acabou causando novas perturbações no āśrama, mas Rāma e Lakṣmaṇa mataram ela e seus outros companheiros com facilidade. Assim, eles eliminaram muitos demônios naquele local. Em seguida, Viśvāmitra Ṛṣi pediu que os dois o acompanhassem até Janakapurī.


A libertação de Ahalyā pelo Senhor Rāmacandra


No caminho, Rāmacandra repousou seu pé sobre uma pedra, que tomou a forma de uma bela mulher chamada Ahalyā. Viśvāmitra então explicou a ele como Ahalyā havia sido transformada em pedra. Ela era esposa de Gautama Ṛṣi e, certa vez, Indra, o rei dos céus, e Candra, a lua, foram ao āśrama de seu esposo fingindo ser estudantes interessados em aprender com ele. Porém, na verdade, eles estavam inebriados pela beleza de Ahalyā.


Bem cedo, durante o brāhma-muhūrta (1 hora e 36 minutos antes do nascer do sol), Gautama Ṛṣi foi se banhar no rio. Enquanto isso, Indra se disfarçou e, assumindo a forma de Gautama Ṛṣi, entrou no quarto de Ahalyā, com Candra ficando de guarda do lado de fora. Mas Gautama Ṛṣi retornou rapidamente e viu que Candra estava sentado do lado de fora do quarto de sua esposa. Em sua meditação, ele compreendeu o que estava acontecendo. Gautama Ṛṣi então pegou um couro de veado e golpeou severamente Candra. Os śāstras explicam que as manchas pretas que vemos na lua são as marcas deixadas pela surra que Gautama Ṛṣi deu em Candra com o couro de veado.


Quando Indra percebeu que seu guru estava chegando, ele fugiu rapidamente do quarto de Ahalyā. Nesse momento, Gautama Ṛṣi o amaldiçoou a ter o corpo coberto de olhos. Por isso, um dos nomes de Indra é Sahasralocana. Sahasra significa “mil”, e locana significa “olhos”.


Gautama Ṛṣi também amaldiçoou sua esposa, Ahalyā. Mas ela disse: “Isso não é minha culpa. Quando eles vieram até meu quarto, eu não sabia de nada!” Apesar disso, Gautama Ṛṣi estava muito irado e a amaldiçoou: “Você se tornará uma pedra!” Ahalyā perguntou como ela poderia se libertar dessa forma de pedra, e Gautama Ṛṣi respondeu: “Em Tretā-yuga, o Senhor Rāmacandra se manifestará neste mundo, e pelo toque da poeira dos Seus pés de lótus, você será liberta dessa forma de pedra.”


Naquela ocasião, era Satya-yuga, e Rāmacandra se manifestou em Tretā-yuga. A sequência das yugas (eras cósmicas) para aquele período era a seguinte: 1) Satya-yuga, 2) Dvāpara-yuga, 3) Tretā-yuga e 4) Kali-yuga. Dvāpara-yuga estava entre Satya-yuga e Tretā-yuga, portanto, Ahalyā deveria esperar milhares de anos pela vinda do Senhor Rāmacandra.


Ahalyā perguntou: “Como poderei ficar longe de você, esperando por Rāmacandra, por todo esse tempo?” Gautama Ṛṣi respondeu: “Não se preocupe. Devido à minha tapasyā (penitência) e yoga-siddhi (poderes místicos obtidos por meio da prática de yoga), eu mudei a sequência das yugas.” Anteriormente, a sequência era Satya, Dvāpara, Tretā e Kali-yuga, mas devido ao sādhana e bhājana de Gautama Ṛṣi, e ao seu poder místico, ele alterou a sequência das yugas para Satya, Tretā, Dvāpara e Kali-yuga.


Rāmacandra se manifestou neste mundo em Tretā-yuga, e quando Ele tocou a pedra, Ahalyā se libertou da maldição, manifestou a sua forma original e ofereceu pranamas (reverências) ao Senhor Rāmacandra. Assim, Ahalyā foi libertada.


Viśvāmitra então levou Rāma e Lakṣmaṇa para Janakapurī. Nessa época, Sītā-devī já tinha amadurecido e estava ocorrendo o festival para a escolha de seu marido. Janaka Mahārāja fez um voto de que casaria sua filha com aquele que conseguisse quebrar o arco do Senhor Śiva. Originalmente, esse arco havia sido dado pelo Senhor Śiva a Paraśurāma.


Paraśurāma matou todos os kṣatriyas que agiam como demônios. Ele viajou pelo mundo 21 vezes, matando todos os reis kṣatriyas com seu arco e seu machado. Depois disso, ele foi para Mandarachal, também conhecido como Mandar Parvat, para realizar bhājana e sādhana.


Rāvaṇa é discípulo do Senhor Śiva


O Senhor Śiva tem dois discípulos muito proeminentes: Paraśurāma e Rāvaṇa. Rāvaṇa era um brāhmaṇa e recitava muitos stava-stutis (hinos e louvores devocionais). Ele compôs uma glorificação para o Senhor Śiva, uma Śiva Gīti. Em sânscrito, gīti significa “canção”. Ele cantava muito bem e com ritmo adequado. Se você assistir ao Rāmāyaṇa, ficará surpreso em ver como Rāvaṇa recitava stava-stutis para o Senhor Śiva. Quando Rāvaṇa recitava esses hinos, o Senhor Śiva se manifestava diretamente de sua śiva-liṅgaṁ e começava a dançar. 


Rāvaṇa era poderosíssimo. Ele conseguia segurar a montanha Kailāsa com sua mão esquerda e tinha muitos poderes místicos. Ele realizou austeridades severas, além de ser uma pessoa muito piedosa. No entanto, mais tarde, devido à companhia de demônios, a sua mentalidade mudou. Assim como nesse mundo material, nós podemos observar que existem pessoas muito boas e piedosas, que fazem bhājana e sādhana, mas que ao se vincularem a pessoas más, têm suas vidas arruinadas e acabam tomando um rumo oposto ao que estavam seguindo anteriormente. Tais pessoas começam a beber bebidas alcoólicas e a permanecer na companhia de pessoas que não possuem bom senso. Da mesma forma, no início de sua vida, Rāvaṇa tinha um bom comportamento. Contudo, ele se relacionou com Kārtavīrya Arjuna, um demônio que tinha relações ilícitas com mulheres e cometia várias ações incorretas. Por esta razão, Rāvaṇa se tornou um tolo — um demônio.


O Senhor Śiva ficava muito satisfeito com a adoração de Rāvaṇa. Quando Paraśurāma foi realizar seu bhājana e sādhana em Mandarachal, o Senhor Śiva disse a ele: “Você pode entregar meu arco para uma dessas duas pessoas, para que façam um bom uso dele: para meu discípulo e seu irmão espiritual, Rāvaṇa, ou para o rei piedoso Janaka Ṛṣi.” Paraśurāma pensou que seria melhor doar o arco para Janaka Ṛṣi, pois Rāvaṇa poderia fazer um mau uso dele. 


A quebra do arco Hara-dhanu


Um dos nomes do Senhor Śiva é Hara. Por isso, o nome do seu arco é Hara-dhanu, que significa: “o arco que pertence ao Senhor Śiva”. E Janaka Ṛṣi, o pai de Sītā-devī, também é conhecido como Videha Rājā Janaka e Sīradhvaja Janaka.


Quando Janaka Ṛṣi recebeu o arco, fez um voto de que, se alguém conseguisse quebrá-lo, essa pessoa se casaria com sua filha, Sītā-devī. Certa vez, Rāvaṇa tentou levantá-lo. Ele pensou que, como seu irmão espiritual, Paraśurāma, não lhe havia dado o arco, ele poderia roubá-lo. Assim, Rāvaṇa foi até o palácio de Janaka Ṛṣi para tentar levantar o arco, mas ele caiu, e Rāvaṇa acabou preso embaixo dele tal qual um rato preso sob uma pedra, incapacitado de fugir. Naquela época, Sītā-devī, que ainda era uma criança, simplesmente segurou o arco com a sua mão esquerda, o puxou, e Rāvaṇa fugiu. Dessa forma, ele sabia que aquele arco era poderoso.


Todas as pessoas poderosas vieram para a cerimônia da escolha do esposo de Sītā-devī para tentar quebrar o arco, mas Rāvaṇa não compareceu, pois sabia que ninguém seria capaz de quebrá-lo. Muitos reis vieram para mostrar seu poder e sua força, mas ninguém conseguiu levantar o arco. Muitos reis tentaram, mas nenhum obteve sucesso.


Rāmacandra, então, compareceu para aquele desafio. Com a Sua mão esquerda, Ele conseguiu facilmente levantar o arco e quebrá-lo em dois pedaços. Um som estridente, assim como o de um raio, ecoou naquele momento. Paraśurāma, que estava realizando bhājana e sādhana em Mandarachal, conseguiu ouvir o barulho. Ele sabia que aquele era o som do arco de seu guru se quebrando. 


Paraśurāma ficou muito irado, porque ele era um kṣatriya. Ele perguntou a Janaka Mahārāja: “Quem quebrou o arco do meu guru?” Naquele momento, Lakṣmaṇa fez uma brincadeira com Paraśurāma, dizendo: “O que aconteceu?! Aquele arco já estava velho. Alguém o segurou e ele apenas quebrou.” Paraśurāma ficou ainda mais irado e respondeu: “Velho? Esse é o arco do meu guru, Śiva! Vou matar você!” Lakṣmaṇa continuou brincando: “Por que você vai me matar? Por que está dizendo essas coisas?” E a ira de Paraśurāma só aumentava. Essa é uma história belíssima que está explicada no Rāmāyaṇa. 


Finalmente, o Senhor Rāmacandra disse: “Eu sou um ofensor, um aparadhi, porque fui eu quem quebrou esse arco.” Paraśurāma respondeu: “Vou te castigar severamente! Qual é o Seu nome?” Rāmacandra respondeu: “Meu nome é Rāma.” E Paraśurāma disse: “Você tem o mesmo nome que eu! Meu nome é Paraśurāma.” Rāmacandra respondeu: “Seu nome é longo, Paraśurāma. O meu é apenas Rāma, é curto. Eu sou seu servo. Por favor, me dê sua misericórdia.” Por fim, Paraśurāma disse: “Eu te darei outro arco, e se você conseguir estender uma flecha nele, então saberei qual Rāma você é.”


Rāmacandra aceitou. Ele pegou o arco e estendeu a flecha nele. Paraśurāma ficou muito surpreso com aquilo. Assim, compreendeu que Ele era Bhagavān Rāma. No entanto, com a flecha já posicionada no arco, era preciso dispará-la contra um alvo. Paraśurāma, pedindo desculpas a Rāma, implorou para não ser morto, solicitando apenas que os frutos de sua tapasya fossem destruídos. Dessa forma, Rāmacandra destruiu todos os frutos de sua tapasya, e Paraśurāma retornou ao local onde residia.


Daśaratha Mahārājá, por fim, organizou a cerimônia de casamento de Sītā-devī com Rāmacandra. Lakṣmaṇa acabou se casando com a irmã de Sītā-devī, Ūrmilā; Bharata casou-se com Māṇḍavī, e Śatrughna casou-se com Śrutakīrti. Assim, todos os noivos e noivas retornaram para Ayodhyā, e os residentes de Ayodhyā, muito felizes, realizaram uma belíssima celebração.


A coroação de Rāmacandra como rei de Ayodhyā 


Após alguns meses, Daśaratha Mahārāja estava refletindo sobre o fato de que Rāma era muito popular e que todos os assuntos de Ayodhyā eram resolvidos com a participação dEle. Daśaratha, então, pensou: “Estou ficando velho e não sei por quanto tempo estarei nesse mundo material. Rāma deve assumir meu trono (siṃhāsana).” 


Daśaratha Mahārāja compartilhou essa proposta com seu guru, Vasiṣṭha, que disse: “É uma boa ideia. Se o que você for fazer for algo auspicioso, não se demore. Faça-o logo. Amanhã é um dia excelente e auspicioso, logo, você deve coroar Rāma.” Seguindo as instruções de seu guru Vasiṣṭha, Daśaratha Mahārāja anunciou diante de todos os seus ministros que, no dia seguinte, pela manhã, Rāmacandra seria coroado como o rei de Ayodhyā, e que seria realizada a sua cerimônia de coroação real (rājābhiṣeka).


No entanto, naquele momento, Bharata e Śatrughna não estavam em Ayodhyā; eles estavam na casa de seus tios maternos. Quando Rāmacandra soube disso, ficou muito chateado: “Como é possível que Eu me torne o rei de Ayodhyā sem a presença de meus dois irmãos?”, já que eles nasceram juntos e se casaram juntos. O guru Vasiṣṭha disse: “Amanhã é um dia excelente e auspicioso. Se você não for coroado nesse dia, talvez demore muitos anos até termos novamente um dia tão excelente como esse.” Assim, Daśaratha Mahārāja decidiu: “A coroação deve acontecer amanhã de manhã.”


Como tudo é orquestrado por Yogamāyā, essa mensagem se espalhou por toda Ayodhyā, e todos os ṛṣis, munis e residentes de lugares distantes foram ter o darśana (visão auspiciosa) do rājābhiṣeka do Senhor Rāmacandra. No Rāmāyaṇa, é explicado belamente que até mesmo as pessoas cegas, os deficientes e os semideuses manifestados na forma de humanos foram para Ayodhyā ter o darśana do rājābhiṣeka do Senhor Rāmacandra, pois Bhagavān havia Se manifestado nesse mundo. Da mesma forma, quando Vāmanadeva adveio, todos os semideuses se manifestaram na forma de seres humanos para receber o darśana dEle. 


Toda Ayodhyā-purī estava lindamente decorada com luzes e flores. Os cantores entoavam melodias, e o coração de todos estava repleto de júbilo. Bhagavān agora seria o rei de Ayodhyā e todos estavam felizes com aquilo. Cada cidade e cada vila estava magnificamente adornada. Daśaratha Mahārāja fez doações a todos, oferecendo roupas, ornamentos, dinheiro e o que fosse necessário, pois seu filho Rāmacandra seria o rei de Ayodhyā. O coração das pessoas se derretia ao ouvir o nome de Rāma. Quem não queria ouvir o nome de Rāma? O coração de todos estava tocado. “Rāma, Rāma, Rāma…”.


Toda Ayodhyā-purī estava magnificamente decorada. Assim, à noite, Rāma e Sītā subiram até o topo do palácio para admirar a beleza de Ayodhyā, semelhante ao que acontece na Índia durante o Dīpāvalī. Vocês já presenciaram o Dīpāvalī? Na Índia, durante esse festival, a cidade inteira é decorada, semelhante a forma como são decorados os países ocidentais na época do Natal. Por um mês, essas decorações ficam expostas de forma esplêndida. Assim, Ayodhyā-purī estava belamente adornada, e o coração de todos se derretia com as glorificações de rāma-līlā-kathā


Kaikeyī, em especial, estava muito feliz. Ela pensava que Rāmacandra não era diferente de seu filho, Bharata. No entanto, ela amava Rāma ainda mais do que seu próprio filho. Nossos śāstras também explicam que, quando Rāmacandra era pequeno, Ele pediu uma bênção de Kaikeyī: “Ó mãe Kaikeyī, Eu quero uma benção sua.” Ela perguntou: “Que bênção Você deseja?” E Rāmacandra respondeu: “Quando Eu me tornar rei, peça uma bênção para Meu pai Daśaratha. Eu precisarei ir para a floresta por 14 anos, e seu filho Bharata será o rei de Ayodhyā.” Ela respondeu: “Como isso seria possível?” E Rāmacandra explicou: “Se Eu não for para a floresta, como poderei destruir os demônios? Você deve Me ajudar nessa līlā.” Dessa forma, Yogamāyā cuidou de preparar tudo para a manifestação desse passatempo.


Os dois pedidos de Kaikeyī


Quando o ābhiṣeka de Rāmacandra estava prestes a começar, todos os ṛṣis e munis já haviam preparado a cerimônia de coroação dEle. Nesse meio tempo, Mantharā, a serva de Kaikeyī, estava com seu coração tomado por inveja em relação a Rāmacandra. Ela não queria que Rāma fosse o rei de Ayodhyā e acreditava que Bharata deveria ser o rei. Então ela perguntou para Kaikeyī: “Por que você está tão feliz dando doações aos outros para o ābhiṣeka de Rāmacandra?” Kaikeyī respondeu: “Por que não? Rāma não é diferente do meu filho, Bharata, e Ele tem muito amor e afeição por mim. Quem não gosta de Rāma?” Porém, Mantharā conseguiu mudar a mente de Kaikeyī, dizendo: “Você sabia que, quando Rāma se tornar rei, todos irão dizer que Kausalyā é a rāja-mātā (a mãe do rei)? Você se tornará a serva da rāja-mātā. Que benefício você terá com isso? Essa é a natureza do ser humano. Você e seu filho serão como mendigos.” 


De acordo com os planos de Yogamāyā, a mente de Kaikeyī mudou, e ela disse: “O que fazer agora? Em poucos minutos, Rāmacandra se tornará o rei de Ayodhyā.” Mantharā respondeu: “Alguns minutos podem ser muito tempo. Num segundo, num piscar de olhos, tudo pode mudar. Agora, nós temos alguns minutos.” Kaikeyī perguntou: “O que devemos fazer?”, e Mantharā disse: “Vou lembrá-la de que, quando você era jovem, Daśaratha Mahārāja lhe prometeu duas bênçãos. Naquele momento, você não pediu nada e disse que, quando fosse necessário, faria seus pedidos. Agora é o momento de pedir as suas duas bênçãos. Um pedido deve ser que Rāmacandra vá para a floresta por 14 anos, e o outro, que seu filho Bharata seja o rei de Ayodhyā. Assim, todos os seus problemas serão resolvidos.”


Esse é o efeito de estar em má companhia (duḥsaṅga). A mente de Kaikeyī mudou completamente em poucos segundos. Ela trocou as suas vestes por roupas sujas, foi para seu mana-gṛha (aposento privado onde as rainhas se retiravam quando estavam chateadas) e chamou Daśaratha Mahārāja. Quando ele chegou, ela disse: “Agora, quero pedir as duas bênçãos que você me prometeu.” Ele perguntou: “Quais bênçãos você deseja?”, e ela respondeu: “Que Rāma vá para a floresta por 14 anos, e que meu filho seja o rei de Ayodhyā.” 


Daśaratha Mahārāja, muito triste, disse: “Kaikeyī, o que você está dizendo?” Kaikeyī respondeu: “O que estou dizendo é a verdade!” Daśaratha Mahārāja respondeu: “Não, não faça isso. Por que Rāma deveria ir para a floresta? Quais são as falhas dEle?” Mas estando firme em sua decisão, Kaikeyī disse: “Eu quero essas duas bênçãos.”


Daśaratha Mahārāja estava muito desapontado, e o rājābhiṣeka estava prestes a começar. Então Vasiṣṭha Ṛṣi falou a Rāma: “Você deve buscar seu pai, pois sem ele, não é possível iniciar o rājābhiṣeka e coroa-lO.” Quando Rāmacandra chegou ao quarto de Kaikeyī, encontrou Daśaratha Mahārāja abatido, chorando, cabisbaixo e sem dizer uma palavra sequer.


Rāmacandra perguntou a Kaikeyī: “O que aconteceu? Por que Meu pai está triste assim, chorando?” Kaikeyī respondeu: “Rāma, são coisas pequenas. Certa vez, Seu pai me ofereceu duas bênçãos, e eu disse que, quando fosse necessário, eu faria meus pedidos. Agora a oportunidade chegou. Como é um dia muito excelente e auspicioso, eu pedi duas bênçãos a ele. São coisas simples e pequenas.” Rāmacandra respondeu: “Que coisas são essas? Meu pai não quer lhe dar essas bênçãos.” “Seu pai não está dizendo nada sobre querer ou não dar as bênçãos. Ele só está chorando.”, respondeu ela. Mas Rāmacandra perguntou: “E quais são as bênçãos?” “Rāma, você deve ir para a floresta por 14 anos, e meu filho, Bharata, deve ser o rei de Ayodhyā.”, afirmou Kaikeyī. Ao ouvir aquilo, Rāmacandra ficou muito feliz e disse: “Mãe, que pedido ótimo! Eu cumprirei os desejos de meu pai. Não se preocupe.”


raghukula rīta sadā calī āī,

prāṇa jāe para vacana na jāī


[A tradição da família Raghu sempre foi seguir a palavra dada. Mesmo que a vida se vá, a palavra não deve ser quebrada.]


O exílio de Rāma 


Assim, Rāma, Lakṣmaṇa e Sītā partiram para a floresta. Daśaratha Mahārāja não conseguiu suportar a saudade que sentia de Rāmacandra e, pronunciando repetidamente “Rāma, Rāma, Rāma…”, ele abandonou seu corpo. Quando ainda era jovem, ele havia matado o filho dos ṛṣis cegos, Sindhu, o filho de Andhaka Muni, e como resultado disso, eles o amaldiçoaram dizendo: “Daśaratha Mahārāja, você abandonará o seu corpo devido à saudade que sentirá de seu filho. Você partirá deste mundo sacudindo o seu corpo, assim como um peixe fora d’água.” Dessa forma, o karma de Daśaratha Mahārāja se cumpriu. 


Na verdade, Daśaratha Mahārāja é um companheiro eterno do Senhor Rāma, logo, não possui karma. Isso se deu apenas para a realização dessa līlā. Os companheiros eternos do Senhor estão livres de karma, mas na līlā, o fruto daquele pecado havia acometido Daśaratha Mahārāja. Devido à maldição do ṛṣi cego, ele não pôde tolerar a saudade de seu filho e, assim, abandonou o seu corpo. 


Rāmacandra, por fim, foi para a floresta. Bharata e Śatrughna, ao retornarem da casa de seus tios maternos, ouviram toda a história do que havia acontecido. Bharata ficou profundamente desapontado com sua mãe e com Mantharā. Já Śatrughna ficou tão irado ao ouvir aquilo que cortou o cabelo de Mantharā e a agrediu. Bharata, então, disse a ele: “Śatrughna, não a bata. Se ela morrer, Rāmacandra nos abandonará. Ele não aceitará alguém que matou uma mulher. Eu pensei em matar minha mãe, pois foi ela quem pediu essas bênçãos. Ela é a causa da destruição da minha dinastia, e Rāmacandra foi para a floresta por causa dela. Mas quando me lembro da natureza do meu irmão Rāma, de alguma forma, eu ainda consigo me manter paciente.” 


Vasiṣṭha Ṛṣi conseguiu acalmar Bharata e Śatrughna, e eles então organizaram o funeral e a cremação do corpo de Daśaratha Mahārāja. Depois disso, Vasiṣṭha Ṛṣi disse a Bharata: “Sua mãe fez um pedido a seu pai, e agora você deve se tornar o rei de Ayodhyā. Alguém deve ocupar esse trono, caso contrário, inimigos podem atacar Ayodhyā-purī.” Bharata respondeu: “Como posso me tornar o rei de Ayodhyā? Somente Rāmacandra, meu irmão, é o verdadeiro rei. Ninguém mais pode ocupar o trono. Ele é a pessoa mais qualificada. Devemos ir à floresta e trazer de volta meu irmão, Rāma.” 


Bharata, Śatrughna, as três mães — Kausalyā, Kaikeyī e Sumitrā — e todos os ministros então partiram para a floresta em Citrakūṭa. Lá, eles encontraram o Senhor Rāmacandra e tiveram uma conversa profunda sobre como Ele retornaria a Ayodhyā. No entanto, Rāmacandra não retornou. 


Bharatajī colocou as sandálias de madeira de Rāmacandra no trono de Ayodhyā e se retirou para Nandigrāma, um local um pouco afastado da cidade. Ele fez um voto de que, se Rāmacandra não retornasse para Ayodhyā, ele também não retornaria. Assim, em Nandigrāma, vivendo como um sannyāsī (renunciante), Bharata administrou o reino de Ayodhyā com a ajuda de seus ministros.


Gaura Premānande!

Rāma-kathā kī jaya!

Bolo Rāmacandra kī jaya!


 

Transcrição: Rādhā dāsī

Edição: Taruṇī Gopī dāsī

Revisão: Gaura Hari dāsa

Colaboração: Premānanda dāsa


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