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Partida transcendental de Mādhavendra Purīpāda

  • Foto do escritor: Vana Madhuryam Brasil
    Vana Madhuryam Brasil
  • 10 de mar.
  • 19 min de leitura

Śrīla Bhaktivedanta Vana Gosvāmī Mahārāja

8 de maio de 2020, Zoom


Hoje é um dia extremamente auspicioso, pois é o dia da partida transcendental de Mādhavendra Purīpāda. Quero falar sobre ele, que, entre os Gauḍīya Vaiṣṇavas, é conhecido como prema-aṅkura — o broto de prema de Vṛndāvana. Prema é o amor divino, e aṅkura é um broto. Juntas, essas palavras significam "o broto do amor divino de Śrī Śrī Rādhā Kṛṣṇa."


Mādhavendra Purīpāda tem uma importância fundamental em nosso guru-paramparā (sucessão discipular). Ele foi discípulo de Lakṣmīpati Tīrtha e concedeu dīkṣā a Īśvara Purīpāda. Posteriormente, Īśvara Purīpāda deu dīkṣā ao próprio Senhor Caitanya Mahāprabhu, o qual então espalhou esse prema entre os nossos acaryas: Rūpa Gosvamīpāda, Jīva Gosvāmīpāda, Raghunātha dāsa Gosvāmī, Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī, Narottama, Śyamānanda e Śrīnivāsa. Foi dessa forma que o nosso guru-paramparā se manifestou.


A natureza rāgātmikā dos vrajavasis


No Caitanya-caritāmṛta, Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī explica muito claramente: mathurā viraha katara bhajana — quando Kṛṣṇa deixou Vṛndāvana e foi para Mathurā, todos os habitantes de Vṛndāvana sentiram uma saudade intensamente dolorosa dEle. Consequentemente, Kṛṣṇa enviou Uddhava de Mathurā à Vṛndāvana, visando consolar os vrajavasis (moradores de Vraja). Isso é descrito no Śrīmad-Bhāgavatam por Śrī Śūkadeva Gosvāmīpāda.


gacchoddhava vrajaṁ saumya

pitror nau prītim āvaha

gopīnāṁ mad-viyogādhiṁ

mat-sandeśair vimocaya


Śrīmad-Bhāgavatam (10.46.3)


[O Senhor Kṛṣṇa disse: Querido e gentil Uddhava, vá até Vraja e console os Nossos pais. Alivie também as gopīs, entregando-lhes a Minha mensagem, pois elas estão sofrendo devido à saudade que sentem de Mim.] 


Quando Uddhava chegou a Vṛndāvana, ele presenciou o imenso amor e afeição que os vrajavasis têm por Krishna, o que o deixou completamente surpreso e admirado com o prema deles. Por isso, os vrajavasis são chamados de rāgātmikā, pois possuem amor e afeição espontâneos por Kṛṣṇa, o qual habita os seus corações.


Quando Uddhava chegou em Vṛndāvana, ele se encontrou com Nanda Mahārāja, Mãe Yaśodā e testemunhou, em especial, o prema das gopīs. Entre as gopīs, Uddhava pôde contemplar o prema mais elevado, o prema de Śrīmatī Rādhikā — divya-unmada-daśa, o estado de loucura transcendental. Quando Uddhava contemplou essa condição exaltada de Śrīmatī Rādhārāṇī, ele prostrou sua testa diante de Seus pés de lótus repetidas vezes. Uddhava, então citou o seguinte verso: 


sarvātma-bhāvo ’dhikṛto

bhavatīnām adhokṣaje

viraheṇa mahā-bhāgā

mahān me ’nugrahaḥ kṛtaḥ


Śrīmad-Bhāgavatam (10.47.27)


[Vocês reivindicaram com todo direito o privilégio do amor puro e imaculado pelo Senhor transcendental, ó gloriosas gopīs. De fato, ao demonstrarem o seu amor por Kṛṣṇa na ausência dEle, vocês me concederam imensa misericórdia.]


Uddhava disse às vraja-gopīs: “Ó vraja-gopīs! Na verdade, vocês não sentem viraha, saudade de Krishna. Vocês apenas manifestaram esse sentimento porque estão concedendo as suas bênçãos (kṛpā) a mim. Seu prema por Krishna é único e incomparável, pois nem mesmo o mahiṣī-prema, o amor das rainhas de Dvāraka, alcança o nível desse prema”.


Uddhava, então citou este verso: mahiṣī api sudurlabham. As rainhas de Dvāraka Purī, as mahiṣīs, mesmo sendo consortes eternas de Kṛṣṇa e estando sempre com Ele, não podem manifestar esse tipo de prema que as gopīs possuem em seus corações. Como esse prema é único e incomparável, Uddhava curvou a sua cabeça em reverência repetidas vezes e pediu apenas por um grão da poeira dos pés das vraja-gopīs, especialmente de Śrīmatī Rādhikā.


Como esse prema pode ser conhecido em um momento de viraha (saudade)? No Bṛhad-bhāgavatāmṛta, Śrīla Sanātana Gosvāmīpāda explica que, quando o amado e a amada estão juntos, não é possível medir seu prema. No entanto, quando estão separados, então é possível medir esse amor.


Os corações dos devotos derretem quando eles experimentam viraha. Assim, seu amor assume uma natureza líquida. Nessa condição, é possível medir o seu amor. Por exemplo, você pode facilmente mergulhar a sua mão dentro de um balde de água quando ela está líquida, mas quando essa água se transforma em gelo, já não é possível mais mergulhar a mão nela.


O śloka que somente três personalidades compreenderam


Quando Śrīmatī Rādhikā sofria com as dores da saudade de Krishna, Ela repetia várias vezes um verso que Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī escreveu no Caitanya-caritāmṛta:


ayi dīna-dayārdra nātha he

mathurā-nātha kadāvalokyase

hṛdayaṁ tvad-aloka-kātaraṁ

dayita bhrāmyati kiṁ karomy aham


Caitanya-caritāmṛta (Madhya-līlā 4.197)


["Ó Meu Senhor! Ó mestre mais misericordioso! Ó mestre de Mathurā! Quando poderei vê-lO novamente? Por não vê-lO, Meu coração perturbado tornou-se inconstante. Ó mais amado, o que devo fazer agora?"]


Isso se chama mathurā-viraha. Lembro-lhes novamente que mathurā-viraha se refere à partida de Kṛṣṇa de Vṛndāvana para Mathurā. Naquele momento, Śrīmatī Rādhikā sentiu as dores da saudade de Kṛṣṇa. Durante o dia, Sua saudade aumentava cada vez mais, e nesses momentos, em Seu estado de viraha-daśa (saudade divina), Śrīmatī Rādhikā dirigia palavras ásperas a Kṛṣṇa, ou demonstrava humores muito extremos, chamados vāmya-bhāva e dakṣiṇa-bhāva — os quais foram expressados neste śloka. Assim, de forma simples, Śrīla Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī descreve como Śrīmatī Rādhikā, muito humildemente, usou as seguintes palavras para se expressar:


ayi dīna-dayārdra nātha he

mathurā-nātha kadāvalokyase


[Śrīmatī Rādhikā diz: "Ó Kṛṣṇa, Você é muito bondoso e compassivo com todos os seres vivos. Você demonstrou tanto amor e carinho por nós em Vṛndāvana. Mas agora, Você nos deixou aqui sozinhas e foi para Mathurā. Ó Mathurā-nātha (rei de Mathurā), quando veremos Seu rosto de lótus novamente? Nossos corações não podem aguentar a Sua ausência”.]


hṛdayaṁ tvad-aloka-kātaraṁ

dayita bhrāmyati kiṁ karomy aham


["O que posso fazer? Agora, Meu coração e mente estão completamente perplexos. O que fazer e o que não fazer? Sem Seu darśana, não podemos sobreviver."]


Essas são as formas mais elevadas de prema, chamadas rūḍha, adhirūḍha, madana, mohana e madanakhya-mahābhāva. Nessas etapas de prema, Śrīmatī Rādhikā repete diversas vezes esse verso. Śrī Mādhavendra Purīpāda também recitou esse śloka, conforme explica Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī no seguinte verso:


ei śloka kahiyāchena rādhā-ṭhākurāṇī

tāṅra kṛpāya sphuriyāche mādhavendra-vāṇī


Caitanya-caritāmṛita (Madhya-līlā 4.194)


[Na verdade, este verso foi proferido pela própria Śrīmatī Rādhārāṇī, e foi somente por Sua misericórdia que ele se manifestou nas palavras de Mādhavendra Purī.]


Nesse verso, Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī explica que esse mathurā-viraha-bhāva se manifestou primeiro no coração de Śrīmatī Rādhikā. Depois, pela misericórdia imotivada de Śrīmatī Rādhikā, Mādhavendra Purīpāda proferiu esse śloka. E então, pela misericórdia imotivada de Mādhavendra Purīpāda, o Senhor Caitanya Mahāprabhu recitou esse verso repetidas vezes. Por essa razão, no Caitanya-caritāmṛta, Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī explica:


kibā gauracandra ihā kare āsvādana

ihā āsvādite āra nāḥi cauṭha-jana


Caitanya-caritāmṛta (Madhya-līlā 4.195)


[Somente Śrī Caitanya Mahāprabhu experimentou a poesia desse verso. Não há uma quarta pessoa capaz de compreendê-lo.]


Assim, tal verso foi recitado por apenas três personalidades. Nele é possível saborear o significado profundo do sentimento de saudade divina. Śrīmatī Rādhikā foi a primeira pessoa a proferir esse verso, a segunda foi Mādhavendra Purīpāda, e a terceira a recitá-lo foi Gaurasundara. Nesse sentido, Mādhavendra Purīpāda também adentrou o śṛṅgāra-rasa, o humor de amante, vraja-parakīya, pois é somente esse humor de amante característico de Vraja que pode expressar o mais elevado prema presente em Vṛndāvana.


Mādhavendra Purī, o broto de prema


Os mais elevados sentimentos de amor de amante só se manifestam em Vraja, nos corações das gopīs de Vraja. No Caitanya-caritāmṛta, śṛṅgāra-rasa se refere a vraja-parakīya-rasa. Mādhavendra Purīpāda é considerado a fonte original de vraja-parakīya-rasa neste mundo material. E esse mesmo broto de vraja-parakīya-rasa também se manifestou no coração de Iśvara Puripāda, sendo então transmitido do coração de Iśvara Puripāda ao coração de Caitanya Mahāprabhu. Assim, Mahāprabhu é chamado de skandha. Skandha significa “tronco”, e todos os seguidores de Mahāprabhu são comparados a ramos e sub-ramos desse tronco principal. O Senhor, portanto, espalhou esse prema originado em Mādhavendra Purīpāda por toda parte, sendo que, Śrīla Rūpa Gosvāmīpāda foi o principal receptáculo de Seu prema. 


No Vidagdha-mādhava, Śrīla Rūpa Gosvāmīpāda afirma:


anarpita-carīṁ cirāt karuṇayāvatīrṇaḥ kalau

samarpayitum unnatojjvala-rasāṁ sva-bhakti-śriyam

hariḥ puraṭa-sundara-dyuti-kadamba-sandīpitaḥ

sadā hṛdaya-kandare sphuratu vaḥ śacī-nandanaḥ


Vidagdha-mādhava (1.2)


[Que o Senhor Supremo, conhecido como o filho de Śrīmatī Śacī-devī, esteja transcendentalmente situado nos recônditos mais profundos do seu coração. Resplandecente com o brilho do ouro derretido, Ele apareceu na era de Kali por Sua misericórdia imotivada para conceder o que nenhuma outra manifestação jamais ofereceu antes: o mais sublime e radiante sabor do serviço devocional, o sabor do amor de amante.]


Śacīnandana Gaurahari é denominado a personificação da munificência e da magnanimidade. Ele está sempre demonstrando grande compaixão por todos os seres vivos e foi Ele quem saboreou esse prema supremo, o qual então distribuiu indiscriminadamente por toda parte. 


Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī explica que a alma condicionada deve primeiro sentir saudade de Kṛṣṇa, pois o Senhor Caitanya Mahāprabhu manifestou esse humor de viraha (saudade divina). Assim, sem a presença dessa saudade, Ele não pode adentrar os nossos corações. Por isso, os nossos śāstras (textos sagrados) afirmam que viraha é como o fogo, viraha-agni. Se você coloca algo no fogo (agni), ele o derrete. Portanto, os seus corações só se derreterão quando vocês sentirem saudade de Kṛṣṇa. 


Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī explica no Caitanya-caritāmṛta, assim como explicam Śrīla Bhaktisiddhānta Prabhupāda e Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura em seus comentários, que, primeiro as almas condicionadas precisam sentir saudade de Kṛṣṇa. O próprio Caitanya Mahāprabhu recitou os oito versos do Śikṣāstaka para nos mostrar como nós podemos sentir essa saudade de Kṛṣṇa — ao cantar regularmente os santos nomes, compreenderemos qual é a nossa forma transcendental constitucional, siddha-deha, e com esse siddha-deha serviremos o nosso iṣṭa-deva (divindade adorável).


Sem a compreensão de qual é a nossa própria forma constitucional, siddha-deha, não podemos sentir saudade de Kṛṣṇa. Portanto, devemos primeiro remover todos os anarthas (impurezas) de nossos corações. Assim, gradualmente nós compreenderemos qual é a nossa forma constitucional transcendental. E, uma vez alcançado o siddha-deha-paricaya (a compreensão da forma constitucional transcendental), nós sentiremos saudade de Kṛṣṇa, do nosso iṣṭa-deva.


O sentimento incomparável de saudade de Caitanya Mahāprabhu


Śrī Mādhavendra Purīpāda, dia e noite, sofria com as dores causadas pela saudade por Kṛṣṇa. O Senhor Caitanya Mahāprabhu também sofreu dessa maneira, pois Ele estava absorto nos humores de Śrīmati Rādhikā. Mahāprabhu pensava: "Eu sou Rādhā, e agora o meu amado Kṛṣṇa, deixando Vṛndāvana, partiu para Mathurā." Śrīla Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī, no seguinte verso, explica como nós poderemos experimentar essas emoções:


he deva he dayita he bhuvanaika-bandho

he kṛṣṇa he capala he karuṇaika-sindho

he nātha he ramaṇa he nayanābhirāma

hā hā kadā nu bhavitāsi padaṁ dṛśor me


Caitanya-caritāmṛta (Madhya-līlā 2.65)


["Ó Meu Senhor! Ó querido! Ó único amigo do universo! Ó Kṛṣṇa, Ó inquieto, Ó único oceano de misericórdia! Ó Meu Senhor, Ó Meu desfrutador, Ó amado dos Meus olhos! Ah, quando Você se fará visível para Mim novamente?"]


Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī escreveu nesse verso: "he deva he dayita", o que significa que, em Seu māna-daśa, Śrīmatī Rādhikā experimenta quatro tipos de sentimentos de saudade, chamados pūrvaraga, māna, pravāsa e prema-vaicittya


Especificamente, durante o māna-daśa de Śrīmatī Rādhikā, para provocar Kṛṣṇa, Ela recita o seguinte: "he deva he dayita he bhuvanaika-bandho  Ó Deva! Ó Kṛṣṇa! Ó amigo do universo!". No caso, deva significa "devayati karayati iti deva", ou seja, “aquele que dança nos corações de todos os seres vivos”. Por isso é que deva é um dos nomes de Kṛṣṇa.


(kṛṣṇa) deva! bhavantaṁ vande

man-mānasa-madhukaram arpaya nija-pada-pańkaja-makarande


Kṛṣṇa Deva Bhavantaṁ Vande (1), de Śrīla Rūpa Gosvāmī


[Ó Senhor Śrī Kṛṣṇa! Estou oferecendo uma prece a Você. Por favor, deixe que a abelha da minha mente seja oferecida ao mel nectário dos Seus pés de lótus.]


Deva significa: “Você é muito belo e atraente.” Śrīmatī Rādhikā, por exemplo, é chamada de devī, o equivalente feminino do termo masculino deva.


devī kṛṣṇa-mayī proktā

rādhikā para-devatā


Caitanya-caritāmṛita (Adi-līlā 4.83)


[A deusa transcendental Śrīmatī Rādhārāṇī é a contraparte direta do Senhor Śrī Kṛṣṇa.]


‘devī’ kahi dyotamānā, paramā sundarī

kimvā, kṛṣṇa-pūjā-krīḍāra vasati nagarī


Caitanya-caritāmṛta (Adi-līlā 4.84)


["Devī" significa "resplandecente, a mais bela”, ou "a adorável morada dos passatempos de dedicação e amor do Senhor Kṛṣṇa."]


Nesse śloka, devī e parama sundarī se referem “àquela que é muito bela e atraente, única e incomparável.” Da mesma forma, Kṛṣṇa também é muito belo, atraente e incomparável. Os nossos Vedas, Purāṇas e Upaniśads, inclusive, afirmam:


na tat-samaś cābhyadhikaś ca dṛśyate


Śvetāśvatara Upaniṣad (6.8)


[Ninguém é maior que Ele ou igual a Ele.]


Ninguém é igual ou maior que o Senhor. No Śrimad-Bhāgavatam, Śrī Śūkadeva Gosvāmīpāda também explica que a rūpa-madhurya (doçura da beleza), līlā-madhurya (doçura das atividades), prema-madhurya (doçura do amor divino) e veṇu-madhurya (doçura do som da flauta) de Kṛṣṇa são todas únicas e incomparáveis.


Por essa razão, em Seu māna-daśa, Śrīmatī Rādhikā provoca Kṛṣṇa, dizendo: "bhuvanera nārī yata — todas as jovens ficam de imediato inebriadas com a Sua beleza".


kā stry aṅga te kala-padāyata-veṇu-gīta-

sammohitārya-caritān na calet tri-lokyām

trailokya-saubhagam idaṁ ca nirīkṣya rūpaṁ

yad go-dvija-druma-mṛgāḥ pulakāny abibhran


Śrīmad-Bhāgavatam (10.29.40)


[Querido Kṛṣṇa, que mulher em todos os três mundos não se desviaria do comportamento religioso quando encantada pela doce e prolongada melodia de Sua flauta? Sua beleza torna todos os três mundos auspiciosos. De fato, até as vacas, os pássaros, as árvores e os cervos manifestam o sintoma extático de pelos do corpo se eriçando quando veem a Sua bela forma.]


Śūkadeva Gosvāmīpāda disse: "Quem não quer encontrar Kṛṣṇa? O que dizer, então das jovens donzelas de Vraja?", e Śrīmatī Rādhikā continua: "Todos Te amam e Você está sempre dançando nos corações dos seres vivos." É por isso que, nesse verso, Ela diz: "he deva".


Em Seu māna-daśa, Śrīmatī Rādhikā, muito humildemente, diz: "Todas as jovens Te amam. Mas, quando é que Você terá tempo para Me encontrar?". Por essa razão, Ela O chama da seguinte forma: "he deva he dayita he bhuvanaika-bandho". Dayita significa: "Você é o mais querido", e bhuvanaika-bandho significa: "Você é o amigo do universo. Todos fazem amizade contigo, até mesmo em Vaikuṇṭha, Ayodhya, Dvāraka, Mathurā e em Goloka Vṛndāvana. Mesmo Lakṣṃī-devī, embora seja conhecida como uma dama casta, está completamente inebriada pela Sua beleza. Por essa razão, ela agora está realizando austeridades rigorosas para adentrar a Sua rasa-līlā".


He kṛṣṇa” significa: “O seu outro nome é Kṛṣṇa”. “Kṛṣ dhātu, ākarṣayati iti kṛṣṇaḥ” significa: “Todos se atraem pelas Suas diferentes qualidades”, e “kṛṣṇati ākarṣayati naṣṭa nivṛtti vācaka premaṁ dadāti” significa: “Você atrai todos os seres vivos para Si e lhes dá prema, por essa razão, o chamam de Kṛṣṇa".


Capala é traduzido como: "Você é muito inquieto, pois é também um connoisseur (um erudito no assunto rasa).” As gopīs estão dizendo: “Você é o grande connoisseur e inebria a todos, que agora correm atrás de Você." Capala ainda pode se referir a alguém que não fica em um só lugar, assim como uma abelha extasiada. A abelha vai de uma flor a outra, de manhã até a noite. Por isso, Śrīmatī Rādhikā disse: "Você é chamado de O grande connoisseur, pois vai de uma gopī a outra. Essa é a Sua natureza. Por isso, Você é chamado de capala (inquieto)".


He kṛṣṇa he capala he karuṇaika-sindho — karuṇaika-sindho significa: “Você é o oceano de compaixão.” Śrīmatī Rādhikā, ainda continua: "Contudo, temos uma esperança. Você é chamado de O oceano de compaixão, então deve nos conceder misericórdia, pois assim, um dia, retornará para nós".


he deva he dayita he bhuvanaika-bandho

he kṛṣṇa he capala he karuṇaika-sindho

he nātha he ramaṇa he nayanābhirāma

hā hā kadā nu bhavitāsi padaṁ dṛśor me


Śrīmatī Rādhikā pergunta: "Como verei Seu rosto de lótus novamente?". Dessa forma, Ela exibe o Seu humor de contrariedade (vāmya-bhāva), mas às vezes demonstra o Seu humor de submissão (dakṣiṇa-bhāva), pois Ela também glorifica Kṛṣṇa. Na verdade, esse é a mais elevada expressão de śṛṅgāra-rasa, chamado de parakīya-śṛṅgāra-rasa.


Esse parakīya-śṛṅgāra-rasa se manifestou primeiro no coração de Mādhavendra Purīpāda, e depois foi transmitido do coração de Mādhavendra Purīpāda ao coração do Senhor Caitanya Mahāprabhu. Enquanto o Senhor Caitanya Mahāprabhu estava no Gambhīra, Svarūpa Dāmodara e Rāya Rāmānanda passavam dia e noite O acalmando. 


Mādhavendra Purīpāda é considerado o nosso prema-aṅkura. O próprio Caitanya Mahāprabhu glorificou a história de vida dele.


prabhu kahe, — nityānanda, karaha vicāra

purī-sama bhāgyavān jagate nāhi āra


Caitanya-caritāmṛita (Madhya-līlā 4.171)


[O Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu perguntou a Nityānanda Prabhu se havia alguém neste mundo tão afortunado quanto Mādhavendra Purī.]


Ninguém neste mundo material pode ter a sua boa fortuna comparada à grande fortuna de Mādhavendra Purīpāda, pois Kṛṣṇa o encontrou pessoalmente e até lhe deu um pouco de leite.


dugdha-dāna-chale kṛṣṇa yāṅre dekhā dila


Caitanya-caritāmṛta (Madhya-līlā, 4.171)


[Śrī Caitanya Mahāprabhu disse: "Mādhavendra Purī foi tão afortunado que Kṛṣṇa apareceu pessoalmente diante dele com o pretexto de lhe entregar leite."]


Os passatempos de Gopala e Gopīnātha


No Caitanya-caritāmṛta, Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī explicou o seguinte passatempo. Certa vez, após ter o darśana (visão) de Vṛndāvana, Mādhavendra Purīpāda foi para Govardhana. Lá, ele realizou bhajana e sādhana próximo ao Govinda-kuṇḍa. No meio do Saṅkarṣaṇa-kuṇḍa, que é conhecido como o colo de Girirāja Govardhana, ele cantava os santos nomes dia e noite, sentindo saudade de Kṛṣṇa.


Śrī Mādhavendra Purīpāda possuía um humor de ayācaka-vṛtti — isso significa que ele nunca pedia mādhukarī (esmolas) a ninguém. Se alguém lhe desse algo, ele aceitava. Caso contrário, jejuava completamente e cantava os santos nomes.


Mādhavendra Purīpāda estava realizando bhajana e sādhana dessa maneira às margens do Govinda-kuṇḍa. Então certo dia, Gopala, ou seja, Kṛṣṇa, manifestou-se na forma de um menino vaqueiro com um pote de leite e disse: “Baba! Baba! Tome este leite.” Ele usou palavras muito doces: “Em Vraja, ninguém fica sem se alimentar.” Então, Śrī Mādhavendra Purīpāda perguntou: “Como Você soube que estou em completo jejum e faminto?” Kṛṣṇa respondeu: “Na verdade, Minha mãe e outras senhoras vieram aqui buscar água no Govinda-kuṇḍa e viram que seu rosto estava completamente seco. Por essa razão, Minha mãe enviou esse leite. Por favor, você pode aceitá-lo?”.


No entanto, Mādhavendra Purīpāda ficou apenas admirando a forma extremamente bela dAquele menino. Ele pensou: “Sou um sannyāsī (renunciante), minha mente nunca se apega a nada, mas agora, com a chegada desse menino, sinto minha mente completamente inebriada e atraída por Ele.” Então o menino disse: “Beba esse leite, pois preciso ir, tenho algo a fazer” e, assim, Ele deixou o pote de leite ali. Quando Mādhavendra Purīpāda bebeu o leite, todos os tipos de sintomas extáticos de amor manifestaram-se em seu coração — romāñca-kampāśru (arrepio, tremor e lágrimas).


Depois, Mādhavendra Purīpāda percebeu: “Oh, esse leite não é um leite comum.” Assim, ele começou a entoar os santos nomes, fechando os seus olhos. Em seguida, começou a relembrar a beleza daquele menino e as Suas palavras muito doces: “Ó Mādhavendra Purīpāda! Beba esse leite. Em nossa Vraja, ninguém passará fome”.


Mādhavendra Purīpāda continuou entoando os santos nomes e, então, à meia-noite, fechando os olhos, ele viu o mesmo menino surgir em seu sonho. O menino disse: “Ó Mādhavendra Purīpāda! Ouça, agora estamos aqui em Vraja, no colo de Girirāja Govardhana, e Meu nome é Gopala. Esta deidade de Gopala foi manifestada por Vajranābha, o bisneto de Kṛṣṇa. Como pūjārī (pessoa encarregada de prestar serviço à deidade), ele Me adorava. No entanto, mais tarde, quando os muçulmanos começaram a causar perturbações, acabaram tendo que Me deixar aqui. Assim, há muitos anos estou enterrado nesse lugar. Você precisa Me manifestar novamente”.


Mādhavendra Purīpāda teve esse sonho e, ao despertar logo cedo, chamou todos os vrajavasis. Junto deles, ele manifestou aquela belíssima deidade chamada Gopala. Todos os vrajavasis ficaram muito felizes e colocaram a deidade de Gopala no topo de Girirāja Govardhana. Lá, eles construíram uma pequena cabana para Gopala, e Mādhavendra Purīpāda realizou o abhiṣeka (banho) da Ṭhākuraji com cinco ingredientes. Além disso, Mādhavendra Purīpāda convidou todos os comerciantes de Mathurā para o evento, e eles doaram muito dinheiro para a celebração daquele festival.


Por um mês inteiro, Mādhavendra Purīpāda realizou o Annakuta mahā-mahotsava, assim como foi feito na época de Dvāpara-yuga, quando Kṛṣṇa celebrou o Annakuta mahā-mahotsava no colo de Girirāja Govardhana. Assim, Mādhavendra Purīpāda conduziu esse festival por um mês inteiro, e todos os vrajavasis participaram com grande entusiasmo. Depois desse grande festival, certo dia, a Ṭhākuraji disse: “Ó Mādhavendra Purīpāda! Fiquei tantos anos enterrado que agora um calor muito intenso emana do Meu corpo”.


bahu-dina tomāra patha kari nirīkṣaṇa

kabe āsi’ mādhava āmā karibe sevana


Caitanya-caritāmṛta (Madhya-līlā 4.39)


["Por muitos dias tenho observado você e Me perguntado: 'Quando Mādhavendra Purī virá aqui para Me servir?'"]


Gopala disse: "Agora você está Me servindo, mas ainda assim há muito calor dentro do Meu corpo. Não consigo suportá-lo. Por isso, você deve ir até o sul da Índia e trazer Malaya candana (uma pasta especial de sândalo). Pegue esse candana, misture com cânfora e unte o Meu corpo com ele. Dessa forma, Eu serei refrescado".


Seguindo a instrução de Gopala, Śrī Mādhavendra Purīpāda partiu para o sul da Índia. No caminho, chegou a Śāntipura, onde encontrou Advaita Ācārya e lhe concedeu os dīkṣā-mantras. Por essa razão, Advaita Ācārya é reconhecido como discípulo de Mādhavendra Purīpāda. Além disso, Mādhavendra Purīpāda também concedeu os dīkṣā-mantras a Nityānanda Prabhu, embora alguns digam que foi Lakṣmīpati Tīrtha quem os transmitiu a ele. Isso é conhecido como mata-antara, uma diferença de opinião. No entanto, todos sabem que Nityānanda Prabhu serviu Mādhavendra Purīpāda como seu guru.


Śrī Mādhavendra Purīpāda também se encontrou com Jagannātha Miśra (pai de Śrī Caitanya Mahāprabhu). Nossos śāstras e os vaiṣṇavas nos explicam que esse encontro ocorreu na casa de Jagannātha Miśra, e naquele momento, Caitanya Mahāprabhu ainda não havia nascido. Durante esse tempo, Śacī-mātā e Jagannātha Miśra serviram Mādhavendra Purīpāda. Eu me recordo do que li em um grantha (escritura sagrada), o qual afirmava que, enquanto Mādhavendra Purīpāda estava em Navadvīpa-dhāma por alguns dias, ele também se encontrou com Jagannātha Miśra e lhe deu uma bênção. No entanto, essas informações não estão mencionadas no Caitanya-bhāgavata nem no Caitanya-caritāmṛta, pois provavelmente estão registradas no grantha Bhakti-ratnākara.


De qualquer forma, Śrī Mādhavendra Purīpāda seguiu para Remuna, onde agora reside Kṣīra-cora Gopīnātha. Quando chegou ali, o pūjārī estava adorando a Ṭhākuraji, e milhares de pessoas estavam em pé diante dEla. Um lindo e agradável arati (ritual de adoração) estava sendo realizado, e um aroma doce emanava do templo. Após o arati, Mādhavendra Purīpāda perguntou ao pūjārī: “Que tipo de prāsada (alimento) você está oferecendo ao Senhor?” O pūjārī respondeu: “Aqui, oferecemos amṛta-keli”, que é um tipo de arroz doce.


Mādhavendra Purīpāda então começou a pensar: “Se eu pegar um pouco desse amṛta-keli (arroz doce), poderei saboreá-lo para que, quando voltar a Govardhana, também possa prepará-lo para Ṭhākuraji.” Essa foi sua reflexão. 


Após o arati, o pūjārī fechou o templo e Mādhavendra Purīpāda foi realizar o seu bhajana e sādhana. Ele ficou cantando os santos nomes em um mercado próximo dali. Quando deu meia-noite, a Ṭhākuraji Gopīnātha apareceu no sonho do pūjārī e disse: “Ó pūjārī! Por favor, acorde. Todos os dias você Me oferece doze potes de amṛta-keli. No entanto, Eu roubei um pote, o coloquei sob o Meu siṁhāsana (assento) e o cobri com a Minha roupa. Pelos desígnios de Minha Yogamāyā, você acredita que pegou doze, mas na verdade pegou apenas onze — um ficou aqui comigo. Você deve dar este amṛta-keli (arroz doce) a Mādhavendra Purīpāda”.


O pūjārī acordou muito rapidamente, tomou seu banho e, após a meia-noite, entrou no templo. Ao entrar, o pūjārī notou um pote coberto sob o siṁhāsana da Ṭhākuraji. Em seguida, pegou o pote e saiu do templo, chamando em voz alta: "Quem é Mādhavendra? Quem é Mādhavendra Purī?".


kṣīra laha ei, yāra nāma ‘mādhava-purī’

tomā lāgi’ gopīnātha kṣīra kaila curi


Caitanya-caritāmṛta (Madhya-līlā 4.133)


[Segurando o pote de arroz doce, o sacerdote chamou: "Aquele cujo nome é Mādhavendra Purī, por favor, venha e pegue este pote de arroz doce! Gopīnātha roubou ele para você!"]


Mādhavendra Purīpāda, muito humildemente, respondeu: “Meu nome é Mādhavendra Purī.” O pūjārī, muito feliz, lhe deu então aquele arroz doce — amṛta-keli mahā-prāsada. Assim que Mādhavendra Purī provou um pouco da preparação, sintomas extáticos (sattvika-vikāra) se manifestaram em seu coração e ele começou a dançar e a cantar.


Mādhavendra Purīpāda pensou: “Se eu ficar aqui, de manhã, quando este pūjārī voltar, todos ficarão cientes do que aconteceu e começarão a dizer que eu agora sou um grande devoto, pois a Ṭhākuraji roubou e escondeu o arroz doce para mim.” Por essa razão, à noite, Śrī Mādhavendra Purīpāda deixou aquele lugar e seguiu para Jagannātha Purī. Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī descreveu isso:


pratiṣṭhāra bhaye purī gelā palāñā

kṛṣṇa-preme pratiṣṭhā cale saṅge gaḍāñā


Caitanya-caritāmṛta (Madhya-līlā 4.147)


[Temendo por sua reputação, Mādhavendra Purī fugiu de Remuna. No entanto, a reputação gerada pelo amor a Deus é tão sublime que acompanha o devoto, como se o perseguisse.]


Mādhavendra Purīpāda temia ter renome e, por isso, deixou aquele lugar. No entanto, a pratiṣṭhā, o renome, automaticamente o seguiram.


Quando Mādhavendra Purīpāda chegou a Jagannātha Purī, ele teve o darśana do Senhor Jagannātha. Ele também falou com o rei sobre o Malaya candana e a cânfora que Gopala lhe pediu, e o rei logo providenciou tudo. No entanto, naquela época, havia muitos bandidos e reis muçulmanos que tentavam roubar qualquer coisa valiosa que surgisse. Por essa razão, o próprio rei de Jagannātha Purī ofereceu alguns de seus guardas pessoais para proteger Mādhavendra Purīpāda e garantir que ele cruzasse a fronteira com segurança.


Mais uma vez, Mādhavendra Purīpāda chegou a Gopīnātha Remuna, e, como vocês sabem, todos chamam a deidade de Kśīra-cora Gopīnātha porque Ele roubou kśīra (arroz doce) para Mādhavendra Purīpāda. 


Na verdade, este Gopīnātha foi originalmente manifestado pelo Senhor Rāmacandra. Certa vez, enquanto o Senhor Rāma estava em uma floresta, começou a cair uma leve chuva, e os meninos pastores e as vacas começaram a correr. Ao ver essa cena, Rāmachandra sorria, e Sitā-devī perguntou por que Ele estava sorrindo. O Senhor Rāma respondeu: “Após Minha rāma-līlā, manifestarei Minha kṛṣṇa-līlā, onde também serei pastor de vacas.” Sitā-devī perguntou: “Como é a Sua bela forma de Kṛṣṇa?” Em resposta, o Senhor Rāmacandra manifestou essa deidade com a ponta de Sua flecha. Sitā-devī, muito feliz em vê-lA, começou a adorar essa Ṭhākuraji. Enquanto Rāmacandra estava em Daṇḍakāraṇya, Sitā-devī adorava essa deidade de Gopīnātha todos os dias. E quando Rāvana sequestrou Sitā Devī, o próprio Brahmāji ia todos os dias adorar essa Ṭhākuraji.


Quando Rāmacandra matou Rāvana, Ele resgatou Sitā-devī. Em seguida, Ele retirou Sua verdadeira Sitā-devī do fogo e seguiu de Laṅkā para Ayodhya. Durante o caminho, Sitā-devī levou a deidade consigo. No entanto, ao chegarem em Remuna, Gopīnātha disse: “Não seguirei adiante, devo permanecer aqui.” Foi então que Lakṣmaṇa colocou a Ṭhākuraji naquele local em Remuna. 


Remuna significa rāmanīya, ou seja, um lugar muito belo e atraente. Se você visitar Remuna, verá como as deidades são extraordinariamente belas, além do que, encontrará o rio Ganga e os Sete Tirthas todos reunidos ali. Assim, a Ṭhākuraji permanece em Remuna até os dias de hoje, sendo adorada pelos pūjārīs.


Retomando o assunto, como a Ṭhākuraji roubou o arroz doce (kśīra) para Mādhavendra Purīpāda, Seu nome passou a ser Kśīra-cora Gopīnātha. Anteriormente, Seu nome era apenas Gopīnātha, mas agora todos O chamam de Kśīra-cora Gopīnātha. 


Quando Mādhavendra Purīpāda retornou àquele lugar, a Ṭhākuraji lhe disse em um sonho: "Ó Mādhavendra Purīpāda! Não precisa trazer o sândalo e a cânfora de Malaya para Govardhana, pois você está muito velho, e há também muitos bandidos no caminho que poderão perturbá-lo. Fique aqui e coloque esse sândalo em Meu corpo todos os dias".


Até hoje, muitos brāhmaṇas (sacerdotes) preparam pasta de sândalo diariamente e a aplicam no corpo de Gopīnātha. Tradicionalmente, durante os meses mais quentes, quando a Ṭhākuraji sente muito calor, esse ritual é realizado diariamente — esse é o procedimento perfeito. Assim, em diversos templos, a pasta de sândalo é aplicada sobre todo o corpo da Ṭhākuraji. Da mesma forma, os brāhmaṇas de Remuna diariamente ungiam Kśīra-cora Gopīnatha com essa pasta.


Certa vez, a deidade de Gopala disse a Mādhavendra Purīpada: “Na verdade, Eu e Gopīnātha não somos diferentes.” De acordo com o tattva-siddhānta (conclusões filosóficas), não há distinção entre Gopīnātha e Gopala. Por isso, Mādhavendra Purīpāda também aplicou a pasta de sândalo sobre o corpo de Gopala — que não é diferente de Gopīnātha —, agradando assim à Ṭhākuraji.


Agora, a deidade de Gopīnātha está em Nāthadvara, perto de Udaipur. Essa Ṭhākuraji é muito bela e encantadora. Você pode visitá-lA pessoalmente e admirar Sua maravilhosa forma. Todas as manhãs, bem cedo, é possível ver o belo serviço prestado a Ṭhākuraji. Milhares de pessoas vão diariamente ao templo para ter o darśana dessa belíssima forma do Senhor.


Quando Śrī Caitanya Mahāprabhu Se manifestou neste mundo material, há 500 anos, certa vez Ele viajou para Vṛndāvana e foi até Govardhana. Com muita humildade, o Senhor disse o seguinte:


śīghra āsiha, tāhāṅ nā rahiha cira-kāla

govardhane nā caḍiha dekhite ‘gopāla’


Caitanya-caritāmṛta (Antya-līlā 13.39)


["Você deve permanecer em Vṛndāvana por pouco tempo e depois retornar para cá o mais rápido possível. Além disso, não suba a Colina de Govardhana para ver a Deidade de Gopala."]


Mahāprabhu disse: “Você pode ir a Vṛndāvana, mas não permaneça lá por muito tempo e não suba em Girirāja Govardhana.” Ou seja, nunca se deve colocar os pés sobre Girirāja Govardhana. Por essa razão, Śrī Caitanya Mahāprabhu não subiu ao topo de Girirāja Govardhana nem teve o darśana de Gopala.


No entanto, Śrī Caitanya Mahāprabhu ainda sofria intensamente com a saudade que sentia de Gopala. Assim, uma bela līlā (passatempo) se manifestou: a Ṭhākuraji desceu de Girirāja Govardhana para encontrar-se com Ele. Naquela época, Mahāprabhu estava hospedado na casa de um brāhmaṇa, próximo a uma vila chamada Gaṭholi-grama. Nessa vila, há um lago muito belo, cujas águas, durante o festival de Holi, transformam-se completamente adquirindo um tom encantador de açafrão. Enquanto Śrī Caitanya Mahāprabhu permanecia ali, Gopala desceu de Govardhana e concedeu-Lhe Seu darśana.


Mādhavendra Purīpāda também viajou para o sul da Índia, visitando muitos locais de peregrinação, e Nityānanda Prabhu o acompanhou em sua jornada. Por fim, Mādhavendra Purīpāda retornou a Remuna, onde deixou seu corpo transcendental e adentrou a sua aprakaṭa-līlā. Hoje, em Remuna, ainda é possível encontrar o seu samādhi-mandira (monumento onde fica o corpo transcendental de um mestre após a sua partida deste mundo).


Mādhavendra Purīpada ki jāya!

Jāya Jāya Śrī Rādhe!

Gaura Premānande! Hari Hari Bol!


 

Tradução e edição: Taruṇī Gopī dāsī

Revisão: Gaura Hari dāsa

Imagem: Navīna Kṛṣṇa dāsa (Holanda)


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