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Ensinamentos de Madhvacharya e Ramanujacharya e Como Observar Ekadashi

  • Foto do escritor: Vana Madhuryam Brasil
    Vana Madhuryam Brasil
  • 6 de fev.
  • 15 min de leitura

Srila Bhaktivedanta Vana Gosvami Maharaja

20 de fevereiro de 2024, Santiago, Chile


Os Ensinamentos da Sampradaya de Ramanujacharya


Hoje é um dia excelente e auspicioso, o dia de Varaha Dvadashi. O Senhor Varahadeva apareceu neste dia e matou o demônio Hiranyaksha. Pela manhã, eu glorifiquei como o Senhor Varahadeva apareceu da narina do Senhor Brahmaji. 


Alguns dias atrás, também discutimos sobre a vida, contribuições e ensinamentos de Ramanujacharya. Em Kali-yuga, Ramanujacharya é o acharya da Sri Sampradaya. Ramanujacharya manifestou duas coisas que podemos aprender com a Sri Sampradaya, são elas: seva-nistha, como manter a firmeza no serviço a sua ista-deva (deidade adorável); e também nistha em sua ista-deva ista-deva-seva-nistha. 


śrīnāthe jānakī-nāthe cābhedaḥ paramātmani 

tathāpi mama sarvasvaṁ rāmaḥ kamala-locanaḥ


(Prema-bhakti-candrikā, verso 17)


[Como dito por Śrī Hanumān: “Embora Śrī Nārāyaṇa, o Esposo de Lakṣmīdevī, e Śrī Rāma, o Esposo de Sītādevī, sejam ambos a Superalma, ainda assim, o Senhor Śrī Rāma, de olhos de lótus, é tudo para mim.”]


Hanumanji disse: “Eu sei que não há diferença entre Krishna e Narayana, mas eu tenho nistha em minha ista-deva, Ramachandra.” Nistha em sua ista-deva significa ter fé firme nos pés de lótus de sua deidade adorável. Bhakti depende de quanta nistha você tem. Primeiramente, sua fé deve ser unidirecionada a guru — isso é guru-nistha e guru-seva.


guru-pāda-padme rahe ĵāra niṣṭhā-bhakti

jagat tārite sei dhare mahā-śakti (11)


(Āśraya Kôriyā Vandõ, verso 11, de Śrī Sanātana dāsa)


[Aquele cuja devoção permanece fixa aos pés de lótus de Śrī Guru possui grande poder para libertar o universo.]


Guru-nistha é muito importante porque é a espinha dorsal de nosso bhajana e sadhana. Na Sri Sampradaya, segue-se vaidhi-bhakti — a prática da devoção baseada no cumprimento de todas as regras e regulações prescritas pelas escrituras. Se não seguirmos as regras e regulações das escrituras, nunca alcançaremos nossa meta de perfeição. 


śruti-smṛti-purāṇādi-pañcarātra-vidhiṁ vinā

aikaṁtike harer bhaktir utpātāyaiva kalpate


(Bhakti-rasāmṛta-sindhu, 1.2.101)


[O serviço devocional ao Senhor que ignora as literaturas védicas autorizadas, como os Upaniṣads, Purāṇas e o Nārada-Pañcarātra, é simplesmente uma perturbação desnecessária na sociedade.]


Alguém que pensa que, por estar unidirecionado a Krishna, não precisa seguir as regras e regulações das escrituras, está apenas causando um distúrbio na sociedade — utpātāyaiva kevalam. O shastra diz para seguirmos todas as regras e regulações das escrituras descritas nos Srutis, Vedas, Puranas, Upanishads e Narada-Pancaratra.


Vede purāṇe rāmāṇe mahābhārata eva ca, em todos os locais, como nos Vedas, Puranas e Upanishads, é mencionado que devemos seguir todas as regras e regulações das escrituras.


Primeiramente, você deve se abrigar aos pés de lótus do guru, guru-pada-asraya. Depois, você deve receber os diksha-mantras do guru. Após isso, você deve aprender alguns slokas e obter shastra-jnana, o conhecimento das escrituras. E por fim, você deve servir seu Gurudeva com intimidade — visrambhena guru-seva. Dessa maneira, você pratica o serviço devocional ao Senhor. 


A Sri Sampradaya, que é a sampradaya (linhagem espiritual) de Ramanuja, segue as regras e regulações das escrituras de maneira muito estrita. Lembre-se sempre de duas coisas: tenha guru-nistha — fé firme nos pés de lótus do guru, guru-nistha e guru-bhakti (devoção ao guru); e siga todas as regras e regulamentos da escrituras — shastra-anusasana


Por este motivo, o Senhor Chaitanya Mahaprabhu pediu para Sanatana Gosvami manifestar um grantha belíssimo sobre o bom comportamento do Vaishnava — o vaishnava-sadachara-grantha. Se não seguirmos o vaishnava-sadachara-grantha, que se chama Sri Hari Bhakti Vilasa, nunca alcançaremos nossa meta de perfeição. 


Primeiramente, devemos ler o Sri Hari Bhakti Vilasa, pois nele está mencionado todo o bom comportamento (suddha-sadachara) do Vaishnava. Por essa razão, Gopala Bhatta Gosvami coletou todos os slokas da sampradaya de Ramanuja, a Sri Sampradaya, e os entregou para Sanatana Gosvamipada. Dessa forma, Sanatana Gosvami manifestou o vaishnava-sadachara-grantha, a escritura que fala sobre o bom comportamento de um Vaishnava — o Sri Hari Bhakti Vilasa.


Os Ensinamentos de Sri Madhvacharya 


Recentemente também foi o dia do desaparecimento de Madhvacharya, entretanto, como tínhamos pouco tempo disponível, não falamos sobre a vida e a contribuição dele. 


Madhvacharya é a encarnação direta de Bhima, Vayu (o semideus do vento) e Hanuman. Ele é um acharya muito poderoso. Ele manifestou o dualismo dvaitavada. Especialmente, ele explicou sobre as cinco diferenças a seguir.


A primeira é isvara-jiva-bheda, a diferença entre o Senhor e as entidades vivas. O Senhor é apenas um, e as entidades vivas são inumeráveis. O Senhor é o Controlador Supremo, e as entidades vivas são dominadas por maya (a energia ilusória de Deus). O Senhor é único e sem paralelos, ninguém pode ser igual a Ele, enquanto as entidades vivas são diminutas. Isso é isvara-jiva-bheda, a diferença entre o Senhor e as entidades vivas.


A segunda é jiva-jiva-bheda, a diferença entre uma entidade viva e outra. Algumas jivas (almas) estão em tama-guna, no humor da ignorância, brigando e discutindo, enquanto outras jivas estão em sattva-guna, no humor da bondade. Essa é a diferença.


A terceira é jiva-jada-bheda, a diferença entre as entidades vivas e a matéria inerte. As jivas possuem consciência, e a matéria inerte é inconsciente. Como sabemos que as jivas são seres conscientes? Aqueles que são conscientes possuem três sintomas: o poder de sentir, desejar e conhecer. A matéria inerte não possui isso. As pedras não sentem frio ou calor, mas as entidades vivas sentem. Nós sentimos quando está frio ou calor, sentimos fome… Vocês estão com fome? [Os devotos respondem que sim.] Vocês têm desejos e realizações. No entanto, a matéria inerte não possui esse poder de sentir, desejar e conhecer.


A quarta é jada-jada-bheda, a diferença entre uma matéria inerte e outra. Isso é muito simples: algumas matérias inertes são líquidas, enquanto outras são sólidas. Os tijolos e a parede, por exemplo, são sólidos, enquanto a água é líquida. Há também matérias que são transparentes, permitindo que você enxergue através delas. Se você construir uma parede de vidro ou instalar uma janela, poderá ver o outro lado. No entanto, uma parede feita de tijolos é sólida, e você não pode ver através dela. O vidro, tijolos e pedras são todos inertes, mas são diferentes entre si. Da mesma forma, leite e água são líquidos, mas apresentam diferenças.


A quinta é jada-isvara-bheda, a diferença entre o Senhor e a matéria inerte. O Senhor é o Controlador Supremo e está em todos os lugares. Ele reside no coração de todas as entidades vivas como a Superalma ou Paramatma, enquanto a matéria inerte fica somente em um lugar.


Desta forma, Sri Madhvacharya explicou sobre as cinco diferenças. Vemos essas diferenças neste mundo material, contudo, no mundo transcendental elas também existem. 


No mundo transcendental existem muitas jivas que são diferentes entre si. Algumas estão em dasya-rasa (humor de serviço). Outras estão em sakhya-rasa (humor de amizade) e servem Krishna sob a guia de Subala e Sridhama. Outras jivas estão em Goloka Vrindavana no humor de vatsalya-rasa (humor parental) e servem Krishna sob a orientação de Nanda e Yashoda. Também em Goloka Vrindavana, algumas jivas estão em madhurya-bhava (humor conjugal) e possuem braja-parakiya-bhava em seus corações, que são as vraja-gopis. Elas servem Krishna sob a guia de Srimati Radhika, Lalita e Visakha. Sri Madhvacharya explicou claramente as diferenças entre este mundo material e o mundo transcendental, Goloka Vrindavana. A teoria dele é a mais elevada. 


Madhvacharya também manifestou madhurya-bhava em sua sociedade. Certa vez, Madhvacharya encontrou um grande pedaço de tilaka (argila sagrada). Ao partí-la, manifestou-se uma belíssima deidade de Gopala, segurando um bastão para bater iogurte. Madhurya-bhava também está presente em sua sampradaya. E desta maneira, Madhvacharya manifestou o bheda-vada — as diferenças. 


O Senhor Chaitanya Mahaprabhu aceitou a sampradaya de Madhvacharya, e por essa razão, o nome da nossa sampradaya é Brahma Madhva Gaudiya Sampradaya. Lembrem-se sempre disso: se alguém perguntar o nome da sua sampradaya, o que você responderá? A sampradaya dos sahajiyas, dos mayavadis ou dos advaitavadis? A qual sampradaya você pertence? Bhuta Sampradaya, a sampradaya dos fantasmas? [Srila Gurudeva brinca.] 


A qual sampradaya vocês pertencem? Sri Brahma Madhva Gaudiya Sampradaya! Primeiro, é essencial que vocês aprendam que pertencem à Sri Brahma Madhva Gaudiya Sampradaya.


Aquele que adora o deus do Sol (Surya Deva) é chamado de saura. Aquele que adora Shiva é chamado de shaiva. Aquele que adora Ganesha é chamado de ganapata. Aquele que adora Kali, Shiva e Durga é chamado de shakta. Aquele que adora Vishnu é chamado de vaishnava. Aquele que adora somente Krishna é chamado de karshni. E aquele que adora Srimati Radhika é chamado de gaudiya, porque um dos nomes de Srimati Radhika é Gaudi. Todos nós somos da Gaudiya Sampradaya, e nossa ista-deva é Srimati Radhika. 


Gaudiya significa “aqueles que são unidirecionados a Gaudi, Srimati Radhika”. Além disso, alguns dos nomes de Chaitanya Mahaprabhu são Gauranga e Gaura Sundara. Gaura Sundara é a forma combinada de Radha e Krishna. Aqueles que adoram Sacinandana Gaura Hari também são chamados de gaudiya. Lembrem-se sempre: quem é a nossa ista-deva? Srimati Radhika! 


Madīśā-nāthatve vraja-vipina-candraṁ vraja-vane-śvarīṁ — nossa ista-deva é Srimati Radhika.


ārādhyo bhagavān vrajeśa-tanayas tad-dhāma vṛṇdāvanaṁ

ramyā kācid upāsanā vraja-vadhū-vargeṇā yā kalpitā

śrīmad-bhāgavataṁ pramāṇam amalaṁ premā pumartho mahān

śrī-caitanya-mahāprabhor matam idaṁ tatrādaro naḥ paraḥ


(Chaitanya-manjusha)


[A forma mais adorável da Suprema Personalidade de Deus é Krishna, o filho do rei de Vraja, e Vrindavana é a morada mais adorável. A mais elevada e mais prazerosa forma de adoração a Krishna é aquela das vaqueirinhas de Vraja. A obra Srimad-Bhagavatam é a autoridade imaculada. E o amor puro a Krishna é a meta última e mais elevada da vida. Eis as opiniões conclusivas do Senhor Chaitanya, pelas quais temos a mais alta estima.]


O Senhor Chaitanya Mahaprabhu instruiu todos os Seus seguidores da seguinte maneira: ārādhyo bhagavān vrajeśa-tanayas, nossa deidade adorável é Vrajendra-nandana Syamasundara Krishna, que é o filho de Nanda Maharaja; Sua morada chama-se Vrindavana, e todas as vraja-gopis O servem com um humor de amante, vraja parakiya-bhava; esse humor de amante, parakiya-bhava, está descrito no Srimad Bhagavatam; e este Srimad Bhagavatam é o Purana imaculado. 


Ārādhyo bhagavān vrajeśa-tanayas tad-dhāma vṛndāvanaṁ… Essa é a opinião do Senhor Chaitanya Mahaprabhu. Lembrem-se sempre do nome de nossa sampradaya: Sri Brahma Madhva Gaudiya Sampradaya.


Como Observar Ekadashi Tithi


Hoje também é um dia muito especial e auspicioso porque estamos observando o Ekadashi Tithi, sobre o qual explicarei brevemente agora.


No dia de Ekadashi, você não deve comer cinco tipos de grãos, porque neste dia, todos os tipos de germes das atividades pecaminosas estão contidas neles. Mesmo que você esteja prestes a morrer, não importa, você não deve consumir esses cinco tipos de grãos. 


No dia do Ekadashi, não é permitido comer arroz, trigo, cevada, milho, grão de bico… Se você comê-los, terá que sofrer a reação dessas atividades pecaminosas por milhares de anos, e terá que ir para o inferno, Naraka. Dos 8 aos 80 anos de idade, todos devem observar Ekadashi Tithi. 


Ekadasi-tithi, bhakti-jananī, jetane pālana kori — Ekadashi tithi é a mãe de shuddha-bhakti (devoção pura). Nós cantamos:


śuddha-bhakata-caraṇa-reṇu, bhajana-anukūla

bhakata-sevā, parama-siddhi, prema-latikāra mūla


mādhava-tithi, bhakti-jananī, jetane pālana kori

kṛṣṇa-basati, basati boli', parama ādare bori


(Canção Śuddha-bhakata, versos 1 e 2, de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura)


[A poeira dos pés de lótus dos devotos puros é extremamente favorável para o bhajana. O serviço aos devotos puros é a mais alta perfeição e a própria raiz da videira de prema. Eu observo cuidadosamente os dias sagrados de Mādhava (como Ekādaśī e Janmāṣṭamī), pois eles são a mãe da devoção. Sabendo que Kṛṣṇa reside nesses dias sagrados, com grande respeito, também os aceito como minha residência.]


Todos devem observar Ekadashi Tithi. Se sua saúde estiver boa, você pode seguir nirjala-ekadashi, sem tomar nem mesmo uma gota de água. Mas se você estiver doente, as escrituras dão algumas concessões, e você pode comer algumas frutas, iogurte e leite. No entanto, sob nenhuma circunstância, você pode comer arroz, dhal, chapati… Ekadashi Tithi é muito poderoso, e se você não observá-lo, irá para o inferno.


Glórias de Ambarisa Maharaja


Ambarisa Maharaja, que era o rei do mundo inteiro, observava Ekadashi Tithi e engajava todos os seus sentidos no serviço ao Senhor. Por esse motivo, Sukadeva Gosvamipada falou sobre as suas glórias.


Ambarisa Maharaja ficava em Mathura, nas margens do Yamuna. Até hoje, lá existe um palácio chamado Ambarisa-tila, que foi construído no início da criação, em Satya-yuga. Ambarisa Maharaja observava Ekadashi Tithi e Maha Dvadashi Tithi. Ele engajou sua mente em recordar os passatempos de Krishna.


sa vai manaḥ kṛṣṇa-padāravindayor 

vacāṁsi vaikuṇṭha-guṇānuvarṇane 

karau harer mandira-mārjanādiṣu 

śrutiṁ cakārācyuta-sat-kathodaye 


mukunda-liṅgālaya-darśane dṛśau 

tad-bhṛtya-gātra-sparśe ’ṅga-saṅgamam 

ghrāṇaṁ ca tat-pāda-saroja-saurabhe 

śrīmat-tulasyā rasanāṁ tad-arpite


pādau hareḥ kṣetra-padānusarpaṇe 

śiro hṛṣīkeśa-padābhivandane 

kāmaṁ ca dāsye na tu kāma-kāmyayā 

yathottamaśloka-janāśrayā ratiḥ


(Śrīmad-Bhāgavatam, 9.4.18-20)


[Mahārāja Ambarīṣa sempre ocupou sua mente em meditar sobre os pés de lótus de Kṛṣṇa, suas palavras em descrever as glórias do Senhor, suas mãos em limpar o templo do Senhor e seus ouvidos em ouvir as palavras ditas por Kṛṣṇa ou sobre Kṛṣṇa. Ele ocupou seus olhos em ver a Deidade de Kṛṣṇa, os templos de Kṛṣṇa e os lugares de Kṛṣṇa como Mathurā e Vṛndāvana, ele ocupou seu sentido do tato em tocar os corpos dos devotos do Senhor, ele ocupou seu sentido do olfato em cheirar a fragrância de tulasī oferecida ao Senhor e ele ocupou sua língua em saborear a prasāda do Senhor. Ele envolveu suas pernas em caminhar para os lugares sagrados e templos do Senhor, sua cabeça em se curvar diante do Senhor, e todos os seus desejos em servir ao Senhor, vinte e quatro horas por dia. De fato, Mahārāja Ambarīṣa nunca desejou nada para sua própria gratificação dos sentidos. Ele envolveu todos os seus sentidos em serviço devocional, e em vários compromissos relacionados ao Senhor. Esta é a maneira de aumentar o apego ao Senhor e ser completamente livre de todos os desejos materiais.]


Ambarisa Maharaja engajou todos os membros do seu corpo no serviço a Krishna. Sa vai manaḥ kṛṣṇa-padāravindayor, ele engajou sua mente para se lembrar dos passatempos de Krishna. Vacāṁsi vaikuṇṭha-guṇānuvarṇane, ele usou sua boca para glorificar os passatempos de Krishna. Karau harer mandira-mārjanādiṣu, ele usou suas mãos para limpar o tempo do Senhor Vishnu. Śrutiṁ cakārācyuta-sat-kathodaye, ele engajou seus ouvidos para ouvir os doces passatempos de Krishna. Mukunda-liṅgālaya-darśane dṛśau, ele usou seus olhos para ter o darshana das belas formas das deidades do Senhor Krishna, Mukunda. Ghrāṇaṁ ca tat-pāda-saroja-saurabhe, ele cheirou as folhas de tulasi que foram oferecidas aos pés de lótus de Krishna. Pādau hareḥ kṣetra-padānusarpaṇe, ele usou suas pernas para fazer Tulasi parikrama (circumbular Tulasi-devi), e para ir aos locais dos passatempos de Krishna, krishna-lila-sthali. Śiro hṛṣīkeśa-padābhivandane, ele usou sua testa para prestar reverências aos pés de lótus de Sri Hari, Krishna. Kāmaṁ ca dāsye na tu kāma-kāmyayā, ele estava absorto em como servir Krishna. 


Dessa maneira, Ambarisa Maharaja servia sua Thakuraji. Ele observava Ekadashi em jejum completo, sem tomar nem mesmo uma gota de água, e no dia seguinte, ele quebrava esse jejum, observando o Dvadashi vrata. Se você observar Ekadashi, no dia seguinte, você precisa quebrar o jejum. E como quebrá-lo? Se você estiver fazendo nirjala, deve adorar sua Thakuraji ou saligrama-shila, e quebrar o jejum bebendo a água advinda dessa adoração. 


Certa vez, um dia após o Ekadashi, enquanto Ambarisa Maharaja estava adorando sua Thakuraji, um sadhu muito poderoso chamado Durvasa Rsi chegou. Este sadhu é poderosíssimo e muito irado, maha-krodi — se você cometer qualquer falha, ele te amaldiçoará e te transformará em cinzas.


Então, Durvasa Rsi chegou ao kutira (moradia) de Ambarisa Maharaja. Ele disse: “Ambarisa, irei me banhar no Yamuna e voltarei em breve. Prepare uma prasada para mim”, e partiu. No entanto, o horário exato (parana) para quebrar o Ekadashi era muito breve. As escrituras afirmam que, ao observar o Ekadashi, é necessário quebrar o jejum no horário adequado no dia seguinte. Caso contrário, os frutos espirituais do jejum não serão alcançados.


Ambarisa Maharaja percebeu que o tempo para quebra do jejum estava muito próximo e pensou: “O que farei agora? Um sadhu veio até minha casa, mas eu ainda não o servi. Dessa maneira, como quebrarei o jejum de Ekadashi?” As escrituras explicam que, antes de quebrar o jejum de Ekadashi, deve-se fazer doações e alimentar os sadhus, as vacas e os brahmanas. Somente após isso, pode-se tomar a maha-prasada que foi oferecida à Thakuraji. O processo para quebrar o jejum de Ekadashi inclui alimentar as vacas e os brahmanas


O ekadashi-parana é um momento muito breve. O período correto para quebrar o jejum é dentro de três horas após o nascer do sol. No entanto, naquele momento, o período para essa quebra era de apenas alguns minutos. Por essa razão, Ambarisa Maharaja estava se perguntando como iria quebrar o seu jejum. 


Ambarisa Maharaja questionou os brahmanas e os panditas, mas eles não deram nenhuma resposta. Então, ele pensou: “Estou em jejum completo desde ontem, portanto, eu posso adorar os pés de lótus do Senhor e tomar Sua caranamrita.” A caranamrita é a água advinda do banho do Senhor Vishnu. Ao adorar a sua shaligrama-shila, você pode reservar a água utilizada na adoração e bebê-la. Desse modo, Ambarisa Maharaja bebeu a água que banhou os pés de lótus do Senhor Vishnu. 


Durvasa Rsi, em seu transe, percebeu que Ambarisa Maharaja havia quebrado seu jejum de Ekadashi sem lhe prestar serviço antes. Por isso, considerou que Ambarisa não lhe demonstrou o devido respeito. Então, muito irado, ele chegou ao kutira de Ambarisa Maharaja e utilizou palavras muito rudes. Contudo, Ambarisa Maharaja permaneceu em silêncio. Mesmo assim, a ira de Durvasa Rsi aumentava como a chama do fogo. Então, ele manifestou um demônio de fogo chamado Kritya. Enquanto o demônio ia na direção de Ambarisa Maharaja para matá-lo, ele permanecia calmo e tranquilo. Ele nem mesmo orou ao Senhor Vishnu para ser salvo. 


No Mahabharata, Dushasana tentou despir Draupadi e ela orou ao Senhor Krishna. Mas Ambarisa Maharaja não pediu ao Senhor para ser salvo. Essa é uma comparação entre Ambarisa Maharaja e Draupadi. 


No momento em que o demônio de fogo tentava matar Ambarisa Maharaja, rapidamente a sudarshana-chakra do Senhor Vishnu apareceu. Primeiro, ela matou o demônio de fogo, e depois, começou a perseguir Durvasa Rsi. Com medo, Durvasa Rsi fugiu da sudarshana-chakra


Durvasa Rsi correu até Brahmaji e pediu para ser salvo, mas Brahmaji disse: “Eu não posso salvá-lo. Você cometeu uma ofensa aos pés de lótus de Ambarisa Maharaja. Ele é um devoto puro”. 


Então, Durvasa Rsi foi até Kailasa, em Shiva-loka, e pediu abrigo ao Senhor Shiva. No entanto, Shiva disse: “Eu não posso te dar abrigo e nem protegê-lo. É melhor que você vá até Vishnu-loka, o local do Senhor Vishnu, em Vaikuntha. A sudarshana-chakra pertence ao Senhor Vishnu. Desse modo, talvez Ele possa lhe dar algum conselho”. 


Durvasa Rsi correu até Vaikuntha-loka e suplicou ao Senhor Vishnu: “Ó Senhor Vishnu, por favor, salve-me! Sua sudarshana-chakra está me perseguindo para cortar minha cabeça!” O Senhor Vishnu respondeu: “Durvasa, não posso lhe dar abrigo, pois você cometeu uma ofensa aos pés de lótus do meu devoto puro Ambarisa Maharaja. Sādhavo hṛdayaṁ mahyaṁ [ŚB 9.4.68] — Eu sempre descanso no coração dos sadhus. Então, como é possível que Eu lhe dê abrigo? É melhor você ir até Ambarisa Maharaja pedir perdão.” Enquanto isso, a sudarshana-chakra continuava perseguindo Durvasa Rsi, ficando bem próxima de seu pescoço. 


Durvasa Rsi, com medo, pensou: “O que farei agora?” Então, ele foi a um local próximo de Ambarisa Maharaja e percebeu que Ambarisa ainda estava esperando por ele. Ambarisa estava pensando: “O sadhu veio até minha casa e eu não lhe dei o devido respeito. Eu cometi uma ofensa.” Por essa razão, ele estava aguardando o retorno de Durvasa Rsi. 


Os sadhus são sempre muito humildes. Como reconhecer um sadhu? O sadhu possui muita humildade. Não importa se você está na vida familiar ou na ordem renunciada; o que realmente importa é o quanto de bhakti há em seu coração. O sintoma de que Bhakti-devi se manifestou em seu coração é que você se torna muito humilde e oferece respeito a todos.


phalavanta vṛkṣa āra guṇavanta jana 

‘namratā’ se tāhāra svabhāva anukṣaṇa


(Śrī Caitanya-bhāgavata, 1.13.45)


[A natureza tanto da árvore carregada de frutos quanto do homem adornado com boas qualidades é inclinar-se com humildade.]


Quando os frutos surgem em uma árvore, os galhos automaticamente se curvam. Phalavanta vṛkṣa āra guṇavanta jana… Se você tiver o conhecimento apropriado, respeitará a todos. Da mesma forma, quando Bhakti-devi se manifesta no coração de uma pessoa, ela sempre será humilde. Por este motivo, Ambarisa Maharaja era muito humilde e estava esperando por Durvasa Rsi. 


Quando Durvasa Rsi chegou, Ambarisa Maharaja prestou reverências a ele. Então, Durvasa Rsi compreendeu como os devotos do Senhor Vishnu, que também é chamado de Ananta, são muito humildes.


durvāsā uvāca

aho ananta-dāsānāṁ

mahattvaṁ dṛṣṭam adya me

kṛtāgaso ’pi yad rājan

maṅgalāni samīhase


(Śrīmad-Bhāgavatam, 9.5.14)


[Durvāsā Muni disse: Meu querido rei, hoje percebi a grandeza dos devotos da Suprema Personalidade de Deus, pois, embora eu tenha cometido uma ofensa, oraste em prol de minha boa fortuna.]


Durvasa Rsi disse: “Agora eu realizei como os devotos do Senhor Vishnu são muito humildes.” Se você quer se tornar um Vaishnava, seja sempre humilde. Mahaprabhu nos instrui da mesma maneira no terceiro verso do Sri Siksastaka.


tṛṇād api su-nīcena

taror iva sahiṣṇunā

amāninā māna-dena

kīrtanīyaḥ sadā hariḥ


 (Sri Siksastaka, verso 3)


[Aquele que se considera inferior à grama, que é mais tolerante que uma árvore e que não espera honra pessoal, mas está sempre preparado para dar todo o respeito aos outros, pode facilmente cantar sempre o santo nome do Senhor.]


Se você deseja se tornar um Vaishnava, você deve adquirir quatro qualificações. Somente aplicar tilaka e usar kanti-mala não são sintomas de um Vaishnava — isso é externo. Se você aplicar tilaka na testa de um burro e colocar kanti-mala nele, isso fará dele um Vaishnava?


dainya, dayā, anya māna, pratiṣṭhā-varjana

cāri-guṇe guṇī hôi’, karahô kīrtana (7)


(Canção Śrī Kṛṣṇa-kīrtane Ĵadi, verso 7, de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura)


[Dotado das quatro qualidades de humildade, compaixão, respeito e modéstia, realize o kīrtana do Senhor.]


Mahaprabhu disse que, se você quiser se tornar um Vaishnava e cantar os santos nomes, você deve adquirir essas quatro qualificações: tṛṇād api su-nīcena, ser sempre mais humilde que uma palha de grama; taror iva sahiṣṇunā, ser sempre tolerante como uma árvore; amāninā māna-dena, nunca ansiar por nome, fama e reputação e sempre dar respeito a todos; e kīrtanīyaḥ sadā hariḥ, sempre cantar os santos nomes.


Hare Krishna Hare Krishna

Krishna Krishna Hare Hare

Hare Rama Hare Rama

Rama Rama Hare Hare


Por essa razão, Durvasa Rsi disse: Agora eu compreendi como os devotos do Senhor Vishnu, ananta-dāsānāṁ, os Vaishnavas, são muito humildes.” Durvasa Rsi estava pensando: “Eu cometi uma ofensa aos pés de lótus de Ambarisa Maharaja, mas Ambarisa, muito humildemente, estava esperando por mim.” Então, Durvasa pediu perdão a Ambarisa Maharaja. Desse modo, a sudarshana-chakra parou de persegui-lo. 


De qualquer forma, consciente ou inconscientemente, se você cometer uma ofensa aos pés de lótus de um Vaishnava, peça perdão. Caso contrário, Bhakti-devi não irá se manifestar em seu coração. Lembre-se sempre da história de Ambarisa Maharaja e Durvasa Rsi. Na verdade, Durvasa Rsi glorificou Ambarisa Maharaja, que é um devoto puro do Senhor. Durvasa Rsi sabe de tudo, mas nesta lila (passatempo), ele glorificou Ambarisa Maharaja e também mostrou como quebrar o jejum de Ekadashi no dia seguinte, no Dvadashi. Isso se chama Ekadashi-mahatmya, as glórias do Ekadashi Tithi.


Bolo Ambarisa Maharaja ki jaya!

Jaya Jaya Sri Radhe!


 

Transcrição: Radha Dasi

Edição: Taruni Gopi Dasi

Revisão: Acyuta Priya Devi Dasi

Contribuição: Premananda Dasa (Espanha)


Logo Vana Madhuryam Brasil com a imagem de Radha e Krishna.

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